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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

O incerto, o talvez e o quem sabe

Descobri que não lido bem com o incerto. Acho que sempre fui assim, mas só agora, recentemente, é que tive consciência desse facto. 

 

Sou aquela pessoa, que quando está ao volante gosta de saber que tem de virar após 500m e que depois disso tem uma rotunda e que é para seguir em frente. Se for parar a um beco sem saída então está o caos interno instalado. Gosto de saber que vou chegar a uma determinada hora e que me vai ser possível fazer A, B ou C. Odeio o logo se vê, ainda que por vezes o pratique, por mais urticária que me cause. Reparei recentemente, que tenho por hábito rever mentalmente a rotina do dia seguinte: a que horas preciso de acordar, a que horas tenho de estar num determinado lugar, onde vou almoçar, com quem, e com que pessoas preciso de me relacionar. Dou por mim inclusive, e inconscientemente, a ensaiar discursos que poderei ter com A ou com B se nos cruzarmos. Odeio ser apanhada desprevenida. Odeio os planos furados e os contratempos... Que para além de me contrariem me deixam ansiosa e por vezes até bloqueada. No entanto fico cansada só de pensar em tudo e depois quando acontece é como se estivesse a viver tudo novamente, mas muito mais tranquilamente. 

 

As rotinas deixam-me por isso confortável, não sou das que se incomoda com elas - ainda que preferisse ter como rotineira vida as indas e vindas de uma praia qualquer num local paradisíaco.

 

Tomei consciência desta atitude  quase irracional, de querer sempre saber com o que contar e o incerto, o talvez, o quem sabe, deixa-me apreensiva. Tento contrariar mas nem sempre consigo. Soubessem vocês, na escola, a quantidade de vezes que eu ensaiava a apresentação de um trabalho, tudo era cronometrado, eu sabia exatamente o que dizer em cada situação e quanto tempo ia demorar. Curiosamente os professores adoravam. Sempre achei que era uma pessoa que gostava de surpresas - boas, claro - e a verdade é que acho que gosto - gostarei? - mas essas têm de ser boas, muito boas, para ultrapassar toda e qualquer ansiedade que daí possa advir. Sei lá, gosto de receber presentes inesperados, não me chatearia se na avenida que eu sempre passo de repente tivesse uma praia - what??? - nem que a minha casa se transformasse num palacete ou se um dia chegasse e tivesse uma parede de cada cor. Gosto desse tipo de surpresas... Mas só deste tipo... Sou estranha eu sei. 

 

Tenho noção de que tudo isto é tão desnecessário, porque tudo fica bem, tudo sempre fica bem... É só uma Mula a sofrer por antecipação. Mas não consigo controlar... 

 

Por outro lado, quando tenho alguém que assume este papel, que assume todas e quaisquer preocupações, sou totalmente o oposto, como se descarregasse todas as baterias. Assim o Mulo assume este papel quando estamos juntos. Pouco me importo se ele conhece o caminho, se tem onde estacionar, pouco me importo quando vou de férias se o local onde vamos dormir é de fácil acesso e como é que vamos. Ele assume este papel de preocupado e eu finalmente posso descansar e relaxar. Deve ser por isso que dizem que os opostos se atraem... 

Uma espécie de Review de alguém que não percebe nada disto: O Sentido do Fim

Vi O Sentido do Fim no passado fim-de-semana. Nunca tinha ouvido falar sobre o filme, mas vi a sinopse e pareceu-me interessante. Parece que tomei o gosto por dramas, acho que nunca vi tantos dramas como nos últimos tempos, e este é mais um, ainda que com algum mistério e algum - pouco - humor. Este filme é uma adaptação de um romance com o mesmo nome de Julian Barnes, e pelo que ouvi comentar à saída da sala de cinema, está uma boa adaptação. Parece-me que será um livro bastante intenso e bonito, mas eu nunca li nada de Julian Barnes.

 

 

O Sentido do Fim conta a história de Tony Webster que já reformado recebe uma herança que o vai obrigar a recordar o seu passado. Sarah Ford, mãe de uma ex-namorada de infância, deixa-lhe em testamento um diário de um amigo de Tony, que na juventude se suicidou sem razão aparente. No entanto a atual depositária do diário e ex-namorada de Tony, Veronica Ford, não lhe entrega o diário. Tony inicia assim uma busca dos acontecimentos passados na sua memória, no entanto com o tempo vai-se aperceber de que as coisas não aconteceram exatamente como ele se recorda, e sentirá com o avançar do tempo que teve mais influência no destino dos seus amigos do que desejaria. O que esconde afinal o diário de Adrian Finn? Porque não quer Veronica entregar o diário a Tony? Todo o filme é contado na primeira pessoa, quando Tony decidi contar toda a sua história à sua ex-mulher Margaret, em tom de desabafo, que até então desconhecia todos estes factos do passado do ex-marido.

 

Apesar de ser um filme dramático, o mau humor constante de Tony torna-se cómico, e o facto de existir o mistério do diário faz com que o filme não seja nada aborrecido. O filme é contacto através das memórias de Tony e por vezes as imagens tornam-se repetitivas porque ele tem necessidade de recordar com mais pormenor o que aconteceu para compreender os factos. No entanto, o filme não se esgota nas memórias, e vai sendo contado à medida que Tony vive o seu presente, durante as suas rotinas, porque a vida não pára. Gostei essencialmente deste facto.

 

É aqui retratada a nossa capacidade de negação e de repressão, que nos baralham a correta visualização da nossa vida. O filme retrata também de forma suave a obsessão pelo passado, que às vezes não chega pela saudade, pela vontade de voltar ao passado, mas pela nostalgia e pela vontade de esclarecer o que se passou para se conseguir colocar um ponto final e finalmente podermos avançar com a nossa vida, independentemente da nossa idade.

 

Eu compreendo Tony Webster, eu também sou das que se prende às histórias passadas e que gostaria de resolver tantas coisas que ficaram por resolver e que apesar dos anos não suaviza o sofrimento das pessoas que passaram pela nossa vida e sem grandes explicações se esfumaram para um sempre sem retorno.

 

O fim do filme deixou-me com um gostinho amargo, imaginava algo mais, no entanto, acho que é o único final que poderia realmente se aproximar da realidade porque a nossa vida não é um conto de fadas e não é por remexermos na caixa do passado que a nossa vida tem efetivamente de se alterar, porque relembrar não é ir ao passado e modificar os nossos atos e cada ato gera uma consequência que nem sempre é possível alterar.

 

Eu gostei.

Alguém já viu?

Se ela pede, devemos dar...

Desde miúda que sofro de acne. No início da adolescência foi um verdadeiro martírio, e nem os 10 cremes - cada um mais caro do que o outro - que usava semanalmente, consoante o dia da semana, me impediam de andar toda rebentada... Literalmente. 

 

Este martírio só foi ultrapassado quando aos 15 anos, uma médica sensata, convenceu a minha mãe que deveria de tomar a pílula e que só isso iria resolver o meu problema. Apesar das marcas que ficaram para sempre, quer no rosto, quer no peito, quer nos braços, o problema do acne amontoado na cara, peito e costas ficou resolvido, com à exceção daquelas duas - ou serão três? - borbulhinhas que mensalmente aparecem por altura da menstruação. Dois ou três dias antes da dita, lá aparecem aquelas duas ou três chatas para me endoidecerem. É religioso. Ou era... 

 

A verdade é que desde que uso um creme* receitado pela dermatologista, para a rosácea que aplico de manhã e à noite as ditas nunca mais apareceram e já lá vão uns três ou quatro meses. 

 

Mas, ó Mula, o que é que tem a ver a rosácea com o acne?

 

Que eu saiba nada... Mas que resulta, resulta! A verdade é que aquilo é tipo um creme com anti-inflamatório que reduz a inflamação, e daí reduzir a vermelhidão. Assim, é verdade que tem controlado bastante o acne pré-menstruação e a minha pele tem andado mais bonita. 

 

Pensava que era perfeitamente normal ter as borbulhas antes de cada menstruação... Agora só acho que era a pele a pedir qualquer coisa que eu não lhe estava a dar. 

 

 

*SVR Sensifine Ar, caaaaaaro, mas eficaz! 

O tempo nas relações

O tempo é dos fatores mais importantes das relações, é este que predita, em certa medida, o que vamos desejando do outro, o que vamos valorizando que o outro valorize em nós. É o tempo, no fundo, que determina em que tempo estão as relações.

 

Exemplificando...

 

Inicialmente, ainda antes de existir relação, desejamos que o outro olhe para nós e goste do que vê. Suspiramos por uma troca de olhares e uma simples mensagem é suficiente para nos pôr em polvorosa. Quando já há uma relação, olhar só não chega, é preciso ação, uma mensagem só não chega. Não é prova suficiente que continua interessado em nós se apenas nos mandar uma mensagem pela manhã e depois ao longo do dia nunca mais nos dirigir palavra, seja escrita ou por voz. "Já está noutra" pensamos. Se pelo menos 1258 mensagens não nos forem dirigidas ao longo do dia, no início das relações, achamos que já não estão interessados, é porque têm outras prioridades. Mas se já é uma relação estável, então essas 1258 mensagens já são demais. Já se está junto à demasiado tempo para existir tanta paixão, tanta ansiedade. 1258 mensagens são controlo, são desconfiança, são... Maçadoras.

 

Inicialmente, ainda antes de existir relação, imaginamos como será servir-lhe um jantar romântico, o que ele gostará, e se estaremos à altura das suas preferências gustativas. Quanto já há relação, no início, preparamos-lhes os seus pratos favoritos com vontade, à espera de um elogio e ele leva-nos o pequeno-almoço à cama com uma flor no canto do tabuleiro. Sumo de laranja, croissant e café. É assim nos filmes. É assim na vida real... Mas só no princípio da relação. Com o avançar do tempo, as relações esfriam, e o café já está frio, o sumo de laranja já perdeu a vitamina C e o croissant já não está comestível. Cada um prepara o seu pequeno-almoço - quando o preparam - e à noite já há discussão sobre de quem é a vez de preparar o jantar. Já não há entusiasmo em preparar o que o outro gosta. 

 

No início das relações, namoramos o tempo todo, vamos ao cinema e nem vemos os filmes, enrolamo-nos no sofá durante horas com a televisão ligada sem prestarmos atenção ao que lá dá e os gostos parecem comuns. São comuns no fundo porque ninguém está a prestar atenção. Com o avançar do tempo nas relações, parece que os gostos já não são bem os mesmos, e então acaba um a ver futebol na sala e outro a ver a novela no quarto. Com o avançar das relações deixa-se de ceder, porque afinal já se está junto, já não é preciso agradar para conquistar, aparentemente já se está conquistado.

 

Devido a tudo isto, facilmente conseguimos perceber que o ser humano é um bicho cuidadoso, que não tem, por hábito ou natureza, exigir mais do que é suposto, ninguém exige - acho eu - ser pedida em casamento logo no primeiro encontro, nem que o homem cozinhe e aspire na primeira visita a casa. Eles e elas vão em pezinhos de lã até existir um tempo em que já é permitido desapertar o botão das calças, alargar a gravata e respirar. O encanto dos primeiros olhares já terminou e já não é suficiente que o outro nos admire só, que nos ache bonitos ou bonitas. Importa sim que nos respeitem, que nos oiçam, que nos compreendam, que nos ajudem em casa, que nos ajudem fora de casa.

 

No fundo a vida real é um jogo tipo Sonic, mas em ato continuum, em que vamos passando de nível, e em cada nível há novas exigências. Quando essas exigências não são superadas, não conseguimos avançar de nível. A estas relações que não evoluem, chamo-lhes de relações enguiçadas. E no fundo estão só à espera que apareçam um daqueles ouriços-cacheiros - como no Sonic, que o faz perder todas as argolinhas - para deitar tudo a perder. E quando pela segunda vez o Sonic se encontra com o ouriço, o que é que acontece? Temos de recomeçar tudo de novo. Assim também o é nas relações. Há relações que quando ameaçadas pelo ouriço, pelo bicho mau da separação, que se reconstroem, que reiniciam o nível e tentam fazer algo de diferente, para não caírem novamente na mesma armadilha.

 

Mas há relações que não resistem a cometer os mesmos erros, porque as pessoas simplesmente não estão preparadas para fazer diferente, ou simplesmente porque não querem fazer diferente. Por isso, há relações que não resistem ao tempo, e que no fundo ficam só à espera que o tempo as resolva por si só... Porque dizem...

 

... O tempo cura tudo.

 

Será?

Curtas do dia #651

Trabalho numa empresa do ramo automóvel e descobri que os carros são mesmo feitos à medida das pessoas:

 

Há cada carro com cada mania... Alguns com muitas mais manias do que as pessoas! Depois queixam-se que as pessoas são isto e aquilo e fúteis e aqueloutro. Vivemos numa era que complicar é a palavra de ordem e numa altura em que as empresas adoram vender aquilo que as pessoas não precisam - como velocímetros projetados no pára-brisas!

 

Um conselho: Enquanto não se voltar a ser fazer coisas simples, não se pode exigir que as pessoas sejam simples.

Semana 21 - Desafio 365 Fotos

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Foto 1- Um verdadeiro desastre culinário! Quem é que se esquece de colocar açúcar - bastante açúcar - em Lemon Curd? Só mesmo a Mula para se esquecer...

 

Foto 2- Cafézinho e nata para compensar da falta de doçura da tarte.

 

Foto 3- Fui passear na hora do almoço e encontrei esta folha tão perfeitinha, decidi fazer algumas experiências com ela, esta é uma das experiências.

 

Foto 4- Trecho do livro que terminei de ler esta semana: Receitas de Amor para Mulheres Tristes de Héctor Abad Faciolince. Gostei muito. Em breve partilho a opinião.

 

Foto 5- Já há dois anos que não comia um macaron. Não me lembrava que gostava disto. Agora já me lembrei.

 

Foto 6- Mais uma mensagem de pacote de açúcar, desta vez dos cafés Christina. Vocês não devem conseguir ler, mas diz: "Só quem sabe o que são lágrimas, só esse é que sabe o que é amor." Frase de Antero de Quental.

 

Foto 7- E finalmente o meu restaurante de sushi reabriu - fechou para férias quase dois meses! - e foi dia de matar saudades!

 

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Curtas do dia #649

Eu achava que era friorenta... No Inverno sou das que dorme de pijama polar, lençóis polares, dois cobertores e um edredon. Na loja usava camisolas em cima de camisolas para não congelar.

 

No entanto tudo é relativo.

 

No trabalho sou das que anda de camisa sem manga, reclama que está abafado, enquanto toda a gente ainda anda de camisolas compridas e casaco... E casaco! 

 

Descobri gente muito mais friorenta que eu! 

 

Por aí também é assim? Quem é que daqui sofre dos calores/frios? 

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.