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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Sobre o "equilíbrio absurdamente/ moralmente/ esteticamente desequilibrado"

Quem leu o Para onde vão os guarda-chuvas conhece este conceito, quem nunca leu, eu passo a explicar. No livro o autor/personagem principal refere que na vida existe um "equilíbrio absurdamente/ moralmente/ esteticamente desequilibrado" ou seja, quando estamos muito felizes, ou planeamos algo que nos vai deixar felizes, vem a vida e encarrega-se de repor o equilíbrio banal da vida, contrapondo com um acontecimento mau, algo infeliz.

 

Ontem ao ler a publicação da Genny foi impossível não fazer esta associação. É incrivelmente certo este "equilíbrio absurdamente/ moralmente/ esteticamente desequilibrado".

 

Não sou uma pessoa pessimista por natureza. Não sou. Posso até já ter dado anteriormente a ideia do contrário, mas a verdade é que sou uma pessoa que gosta de olhar para o futuro com esperança, com alegria, com motivação. Desta forma, quando algo mau acontece, quando algo infeliz sucede, eu sou apanhada desprevenida e sofro por isso muito mais do que se fosse alguém que espera sempre o pior. Desta forma às vezes gostava de pintar um futuro mais negro para me surpreender mais vezes, mas a verdade é que raramente acontece. Sou uma pessoa que vive tudo tão intensamente, tão alegremente que me esqueço que realmente amanhã as coisas podem estar muito diferentes, porque como diz o povo "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe", no fundo o povo há muito que apregoa este equilíbrio.

 

E se acham que não é bem assim, atentemos nas provas:

 

O Mulo arranjou uma espécie de trabalho extra - temporário - para ganharmos algum dinheiro extra - que bem estávamos a precisar - e eu fico o quê? De baixa! Sim, ele arranja um extra e eu fico em casa sem ganhar. Rais parta este "equilíbrio absurdamente/ moralmente/ esteticamente desequilibrado", já o mesmo em tempos tinha acontecido, mas ao contrário: arranjei eu um trabalho extra, e foi ele que ficou em casa de baixa devido à operação.

 

Tudo pelas nossas finanças equilibradamente desequilibradas!

 

Ó vida!

Livro: Para onde vão os guarda-chuvas de Afonso Cruz

Terminei de ler o Para onde vão os guarda-chuvas do Afonso Cruz e fiquei com um sabor amargo no coração, não por não ter gostado, que este livro voou diretamente para o meu top 5 de livros favoritos, mas porque é tão belo e tão aterrador. Afonso Cruz teve realmente o dom de nos contar o horrível com uma pitada de humor, como nunca vi. Posso dizer muita coisa sobre este livro, mas acreditem que nunca vou dizer o suficiente, demonstrar suficientemente o quanto gostei dele. E não, acreditem que não foi por teimosia.

 

 

 

Para onde vão os guarda-chuvas é uma fábula e conta a história de uma família que vive no Médio Oriente: Fazal Elahi que tem uma fábrica de tapetes, Bibi sua esposa que vive como uma americana e tem uns cabelos que parecem pássaros, Aminah sua irmã que sonha casar-se com Dilawar - viciado em ópio e prostitutas - e rejeita quem a ama realmente - Mudaliar, que por ser hindu não é bem aceite pela família. É ainda a história de seu primo, Badini que é mudo e fala com as mãos como quem conta um poema, de Salim, filho de Elahi e Bibi que fingia ser um avião e Isa, um pobre rapaz que nasceu na América e posteriormente é adotado por Elahi, que cria pássaros atrás de si.

 

Este é um livro que mostra o Médio Oriente como imaginamos que é, como o idealizamos, com tudo o que tem de bom e de mau. Um livro que mostra como nem todos os muçulmanos são maus, porque há pessoas boas e más em todas as religiões, países e credos. Fala de como há pessoas que nos metem medo só de olhar e outras que é impossível não gostar. É um livro que fala sobre a tolerância e sobre a falta dela. Sobre o perdão. Que nos mostra como é possível coexistirmos neste mundo que não é assim tão grande. É também um livro que fala sobre a perda de um filho, e de como é (im)possível recuperar dessa perda, porque como dizia Elahi, tudo nesta vida desaparece, até as pedras. Toda a história nos é contada à luz do que conhecemos da cultura árabe: a forma de tratamento das mulheres, como os bons costumes e as aparências são importantes para estabelecerem uma certa importância social, entre muitas outras questões. Tudo isto, com uma pitada de humor, com um falso divertimento, que ora nos choca ora nos diverte.

 

Para além da história que nos prende desde a primeira palavra, a forma como é escrito é outra forma que nos encanta, e não me refiro à forma de escrever do autor. No livro, as letras funcionam como desenhos e ora têm um tamanho, ora têm outro, ora tem desenhos, ora textos que aparentemente nada têm que ver com a história, mas que têm tudo a ver. O livro parece um conjunto de vários fragmentos que se ligam entre si e contam esta história incrível.

 

Posso só dizer que não gostei de como termina...? Posso? Posso? Não gostei de como termina!

 

Ainda assim... ainda agora o terminei, e já fiquei com vontade de o ler novamente... Mas não pode ser, outros me esperam.

 

E quem é que sabe para onde vão, afinal, os guarda-chuvas?

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.