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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Da Esperança...

Sei que tenho estado um pouco ausente - um pouco... vamos deixar assim 'ta? - mas não podia deixar de vir cá dar-vos uma excelente novidade que também é uma mensagem de esperança.

 

Não há muito a dizer de 2020... Foi o que foi, mau para a generalidade das pessoas, péssimo para muitos de nós. O meu 2020 foi um turbilhão. O meu sentimento foi que um elefante passou por cima de mim e eu ali fiquei estendida no chão... O último golpe, deve ter sido quando me deitaram terra por cima julgando-me morta depois do atropelamento, foi quando tive de enfrentar o desemprego, caricatamente, uma vez mais na altura de Natal.

 

Não sou de desesperar ou de achar que acabou o mundo mas é inegável que é sempre uma situação ingrata. E 2020 foi realmente perito em me tirar coisas e de me deixar em situações ingratas, do moço à saúde, tudo foi abalroado por 2020. Sinceramente, acho que, nunca um ano foi tão mau.

 

Mas 2020 quis dar uma alegria à Mula no último dia do ano. Deve querer colocar paninhos quentes aqui nas costas da Mula para que me esqueça de tudo...

 

... Mas adiante!

 

Encontrei trabalho, irei começar o ano da melhor maneira e em Janeiro já estarei a trabalhar. 

 

Ano novo, trabalho novo, desafios novos.

 

2021 tem tudo para ser um ano de recomeços, afinal ainda há esperança!

 

Desejo-vos a todos um Feliz Ano 2021, e tenham fé que o novo ano vos devolva o que 2020 possa eventualmente ter tirado, e que nos tire a todos aquilo que 2020 mais nos deu: as máscaras! Que voltemos todos a sorrir e que nos possamos deliciar com os sorrisos e os abraços dos outros porque o mundo deste modo é muito mais cinzento e triste!

 

 

FELIZ 2021!

 

NÃO ENTREM NEM COM O PÉ DIREITO, NEM COM O ESQUERDO, ENTREM LOGO COM OS DOIS A VER SE ISTO VAI OU RACHA!

Diário de uma desempregada #6

#1 Desemprego 2020

 

 

O mercado de trabalho está pelas horas da morte, mas disfarçado de bom samaritano: Anúncios há imensos, acho que nunca, noutras situações de desemprego por que passei, respondi a tanta oferta em tão pouco tempo mas...

 

Desde que estou desempregada, há pouco mais de um mês, já respondi a cerca de trinta anúncios. Destes trinta anúncios, uns cinco responderam a dizer que encontraram alguém com um perfil mais adequado, um ligou-me para uma entrevista, e os restantes vinte e quatro caíram num tal buraco negro cuja resolução se desconhece...

 

Vejo, inclusive, os mesmos anúncios vezes sem conta e tempos mais tarde, a serem republicados, o que me leva a acreditar que os recrutamentos estão suspensos. E isso não me choca, tenho noção que é das piores alturas, de sempre, para se ficar desempregado, porque como eu, infelizmente, muita gente. Demasiada gente. O que não entendo é como é possível a existência de tantos anúncios e tanta ausência de resposta...

 

Parece que o mercado de trabalho nos quer transmitir esperança.... Apesar de apenas nos devolver desesperança...

Quem conta um conto #20 Aquelas paredes

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Entrou pela casa que não era sua, na calada da noite. Tremia de ansiedade, o estômago revolto lembrava-lhe que a última vez que ali tinha estado sentira que seria a última. E ali estava ela, como que dando um passo atrás na esperança de ainda conseguir recuperar o que naquelas quatro paredes se perdera, algures, sem que tenha percebido como ou porquê. 

 

Como não percebera?

 

Ainda sentia o seu cheiro no ar, e as memórias da última noite ali naquele espaço ainda estavam muito presentes. Mas as suas coisas já não estavam como as deixara. As suas coisas que outrora enchiam prateleiras e davam o toque feminino àquelas paredes estavam agora em sacos, devidamente arrumados num canto da casa, como se nada daqueles objetos tivessem feito realmente parte daquelas paredes, um dia. Achou, um dia, que aquelas paredes também eram um pouco suas, mas percebeu que nunca foram realmente. Queria encher novamente a casa de cor, de paixão, de amor, mas apenas ouvia silêncio. Queria sentir o calor que outrora sentiu, mas o frio ar, gelou-lhe os pensamentos, as sensações, os ossos. Aquela terrível sensação de perda... Queria chorar. Queria chorar mas sabia que não deveria, para não estragar a forma como se queria mostrar. Queria esperar firme e forte, apesar de estar mais assustada que uma criança pequena na casa fantasma. Engoliu cada lágrima, sentiu cada uma como uma facada bem firme na alma, no coração. Achou que aquele amor um dia prometido lhe pertencera um dia, hoje já não tinha essa certeza.

 

No silêncio das paredes, conseguiu ouvi-los lá longe, muito baixinho. As brincadeiras toscas, os risos de meninos, as apalpadelas surpresas, os beijos inesperados, os abraços sofridos. Aquelas paredes tinham testemunhado tudo. Promessas, surpresas e brincadeiras, mas também sofrimento, mentiras e lágrimas. Olhou mais uma vez e conseguiu até mesmo vê-los a correr pela casa. Quem os via sempre dizia: Não se comportam com a idade que têm.

 

Mas hoje já não corriam, deambulavam afastados. Quem os visse não diriam que eram os mesmos meninos de outrora. Cúmplices. Matreiros. Quem os visse hoje já não veria como antigamente brilhavam os seus olhos.

 

O brilho perdido... 

 

Entrou pela casa que não era sua, na calada da noite sem saber o que esperava encontrar. Sabia que já nada poderia encontrar, apenas vazio. Mas reconheceu, assim que ouviu a chave a rodar a porta, com ele do outro lado, a entrar naquela que era a sua casa, a força que pretendia e precisava para quem sabe a chama daquelas paredes voltar a encontrar.

Sobrevalorização do ato de acordar cedo

Dizia-se, e suponho que ainda se diga que "deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer". Expliquem-me porquê. Expliquem-me, mas com argumentos lógicos, o motivo de se considerar alguém que acorde às duas da tarde preguiçoso, apesar de poder ter estado acordado até mais tarde que o comum mortal que às 22h00 já ressona loucamente - a menos que seja padeiro, já se sabe, esses sim podem dormir de dia e estar acordados de noite que não sofrem de represálias sociais.

 

Expliquem-me então o motivo de se dar tanta importância à hora de acordar, e eventualmente à de deitar. Não deveria de importar apenas a produtividade no final? Quando andava na faculdade estive durante alguns meses desempregada. Criei um ritmo socialmente pouco aceite. Ia para a faculdade às 18h00, saía às 00h e só ia para a cama por volta das 5h da manhã. Claramente não acordava às 9h00. Sempre fui mais produtiva de noite.  E posso assegurar-vos que quase todos os meus trabalhos individuais foram realizados durante a madrugada. Acho que o ato de acordar cedo é sobrevalorizado sem que eu entenda a razão. Claramente que se eu tiver um horário de trabalho das 9h00 às 18h00 que tenho de acordar cedo, mas não é disso que estamos a falar.

 

E porquê isto agora?

 

Como sabem estou desempregada, e estou neste momento a ser seguida por uma empresa de apoio à reinserção no mercado de trabalho - confesso que me faz sentir um pouco presidiária... - e nessa empresa tenho de assistir a alguns webinares, tipo hoje, quarta-feira, dia 2 de Dezembro de 2020, dia procedente de um feriado - dia muito produtivo, apesar de confinada, deixem-me já dizer-vos - às 9h30, da manhã gente! Da manhã! Somos um grupo de 15 pessoas, mais pessoa menos pessoa e alguém se lembrou que era porreiro pôr um grupo de desempregados a acordar cedo para assistir a um webinar de 2h. Vai ser assim ao longo de algumas semanas.

 

Deixem os desempregados dormir!

 

"Ah Mula, mas é importante criar rotinas!"

 

Certo, claro que é, ninguém aqui disse o contrário. Eu criei novas rotinas - aliás ainda mal descansei que tenho sempre muito o que fazer - mas deixem-me desde já chocar-vos que não implicam acordar como se ainda trabalhasse no escritório das 9h às 18h. Permitir-me dormir - até porque já vos disse que não sou, de todo uma morning person - faz parte do meu luto, do meu lado positivo do desemprego, do meu mimo, porque toda a gente precisa de mimos nesta altura. Mas a verdade é que continuam a valorizar demasiado o ato de acordar cedo e insistem que porreiro era colocarem um grupo de desempregados a acordar cedo para assistirem a webinares...

 

A sério, digam-me lá sinceramente, não consideram o uso do despertador um ato de violência? O nosso corpo é que sabe quando deve despertar... Não deveria de ser forçado a tal...

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.