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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Açores - S. Miguel // Parte III

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Dia 3

Foi neste dia que começamos a perceber que 4 dias efetivos em S. Miguel era muito pouco para visitar a ilha como deve de ser, como ela merece ser verdadeiramente visitada. Só tínhamos mais dois dias pela frente e ainda nos faltava tanto para ver, mas tanto, que confesso: temi que não iria conseguir ver nem metade do que acabei por ver. Tivemos de, passando a expressão, de dar corda aos sapatinhos, ou colocar o pé no acelerador que é quase a mesma coisa.

 

Começamos por ir ao ponto mais ocidental da ilha de S. Miguel: à Ponta da Ferraria na freguesia de Ginetes. A Ponta da Ferraria é uma fajã lávica, ou seja, de origem vulcânica formou-se devido ao recuo da costa devido às escoadas de lava que avançaram sobre o mar. São normalmente constituídas por grandes massas rochosas delimitadas por costas abruptas com grandes recortes.

 

Nesta zona podemos admirar o Farol da Ponta da Ferraria:

 

(Farol da Ponta da Ferraria em Ginetes)

 

 

Um pouco mais à frente temos o Miradouro da Ilha Sabrina que nos permite ter uma vista ampla sobre o farol, e sobre o Monumento Natural Regional do Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria. Aqui nesta zona temos as termas de água quente apesar de se situarem em zona oceânica, em que as águas do mar são aquecidas pelas águas quentes das nascentes termais da zona e onde se pode aceder gratuitamente à piscina natural que se criou na pseudocratera da Ferraria.

 

 

(Pseudocratera da Ferraria vista do Miradouro do Pico das Camarinhas)

 

 

Continuamos viagem e paramos em mais alguns miradouros - não faltam miradouros pelo caminho - mas o nosso objetivo era específico: A Lagoa do Fogo que tentamos ver no dia anterior mas que não conseguimos devido ao denso nevoeiro que se fazia sentir na Serra da Água de Pau.

 

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(Um dos muitos miradouros que passei)

 

 

Chegamos finalmente à Lagoa do Fogo. As vistas lá do cimo do miradouro são incríveis, únicas.

 

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(Lagoa do Fogo vista do miradouro)

 

 

A Lagoa do Fogo é uma das maiores e mais altas lagoas dos Açores, ocupando uma área de 1360 hectares, tendo como ponto mais alto 949 metros. É uma lagoa de origem vulcânica, sendo que o Vulcão do Fogo é o que dá forma ao grande maciço vulcânico da Serra da Água de Pau. A Lagoa, onde estupidamente descemos já que não temos qualquer tipo de preparação física para tal esforço, encontra-se no centro da caldeira do vulcão e para podermos descer até à Praia da Lagoa do Fogo - reconhecida como uma das 7 Maravilhas de Portugal na categoria de praia selvagem -, tivemos de descer cerca de 600 metros, num percurso ao longo de 2km, com uma inclinação brutal.

 

(Lagoa do Fogo vista através da descida pelo trilho)

 

 

A lagoa é mesmo assim, com uma água tão azul e cristalina - não é photoshop - e acho que é impossível não nos apaixonarmos por ela, talvez por isso tenha querido tanto ir vê-la de mais perto.

 

Hoje, que estamos vivos e de boa saúde, fico feliz por ter descido, mesmo lá em baixo - contrariamente à opinião do Mulo - as vistas são incríveis, a ideia de que estamos dentro de um vulcão é incrível, mas não voltarei a repetir a façanha pois é possível que no futuro não tenha o mesmo desfecho a menos que sigamos com algum grupo e bem preparados com roupa e calçado apropriados ao trilho que está - deixem-me que vos diga - em muito mau estado: Degraus que já existiram e que já não existem, muitas zonas lamacentas que escorregam muito, zonas perigosas - como aquela em que caímos - sem qualquer tipo de vedação - mais à frente encontramos barras a proteger os limites do trilho, mas não as há na maior parte do percurso.

 

Mas a verdade é que chegamos vivos, e ainda nos molhamos num vulcão. Não é incrível esta ideia? Estivemos DENTRO de um vulcão, ainda que não tenha lava, nem calor em excesso, nem pedras saltitantes, ou qualquer outra coisa que lembre realmente um vulcão.

 

 

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(A Mula a lavar os pézinhos no vulcão, porque não tinha água em casa)

 

 

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(Lagoa do Fogo vista da caldeira, da praia)

 

 

Uma coisa engraçada que encontrei na caldeira da lagoa foram pedras todas empilhadas umas em cima das outras, qual ritual satânico. Não percebi a ideia, não sei o que significa, mas olhem porque a Mula é pior que a Maria Nabiça também quis fazer o seu boneco, e eis o boneco da Mula:

 

 

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(O boneco de pedras da Mula na Lagoa do Fogo)

 

 

Espero que não signifique assim nada de muito importante porque enquanto eu fazia o meu boneco o Mulo andou a atirar pedrinhas aos bonecos dos outros tentando atirar as pedrinhas ao chão. Acho que estava só a exorcizar os seus demónios.

 

Sabem quando é que eu percebi verdadeiramente a profundidade da descida? Pois claro, quando foi para subir. Quando olho e vejo um monte gigante à minha volta.

 

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(Lá em cima de tudo, junto ao céu estava o nosso carro, cá em baixo de tudo junto à água estávamos nós, e eu só pensava: "ó céus onde me fui meter!")

 

 

Mas já não havia volta a dar, ainda perguntei ao Mulo se existiam helicópteros em S. Miguel para nos irem buscar e em caso de não haver quanto tempo tardaria a chegar um do continente... Mas tendo em conta que estava mortinha por relaxar na Caldeira Velha para esquecer tudo o que se passou, lá ganhamos coragem para regressar ao cume.

 

Quando cheguei ao carro confesso, acho que foi quando caiu a ficha de tudo o que aconteceu. Estava tão cansada, mas tão cansada... Subi a maior parte da montanha de joelhos, é que se a descer era só saltar, a subir era mesmo horrível, e eu não conseguia ter força nas pernas, para subir degraus de mais de um metro. Foi mesmo uma aventura e tanto e por isso descansar na Caldeira Velha foi mesmo um descanso merecido.

 

A Caldeira Velha, também conhecida como Monumento Natural e Regional da Caldeira Velha, é um local termal de grande procura pelos seus banhos de água quente medicinais. É no fundo uma ribeira alimentada por água de várias nascentes - do vulcão do fogo - com grande abundância de ferro.

 

 

(Zona envolvente da Caldeira Velha) 

 

Não é de acesso livre, para entrar pagamos 2€ por pessoa mas vale bastante a pena, aqui o grande problema é mesmo estacionar. O parque à entrada é muito pequeno e acabamos por deixar o nosso estacionado na serra em local proibido, mas pelo que percebi é algo habitual.

 

Aqui finalmente pudemos relaxar. Existem pelo menos dois locais onde nos podemos banhar - já chegamos ao final da tarde, basicamente experimentei estes dois e nem procurei mais - onde as temperaturas são muito diferentes. Na zona da cascata a água deveria de rondar os 25º - que desilusão para quem achava que ia encontrar água a escaldar - e foi este o primeiro lugar que experimentamos, mas perto da fumarola cuja temperatura pode chegar aos 95º conseguimos um bom lugar com água a rondar os 37º. Foi mágico. Confesso, junto à fumarola o cheiro é muito intenso a enxofre - pelo cheiro parecia-me enxofre mas não vi escrito em lado nenhum que fizesse parte da composição da água - que confesso ao início incomoda um pouco, mas estávamos tão cansados que nem nos importamos.

 

(Da esquerda para a direita: As duas primeiras fotografias são da parte da fumarola, e as outras duas da cascata com a água mais fresca.)

 

 

Como podem ver, é uma zona muito natural, com pouca alteração feita pelo bicho homem e é um palco paradisíaco para quem goste de relaxar. Para quem seja fã de botânica, a Caldeira Velha possui ainda uma coleção fantástica de plantas de espécie endémica, o que dá ao espaço um ar ainda mais selvagem, ainda mais incrível.

 

 

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(Zona de banhos junto à fumarola, às 20h - hora que nos despedimos - a água estava a 37º)

 

 

Foi um bom fim-de-dia, saímos daqui já de noite e fomos apenas jantar às Docas em Ponta Delgada, xixi e cama que estávamos muito cansados.

 

Aqui nas Docas foi o meu grande dissabor das férias: Os senhores do Restaurante Cervejaria Docas - o Portugália lá do sítio - acharam que por seremos turistas que não sabíamos ler ou fazer contas e tentaram enganar-nos ao jantar, cobraram-nos o que não comemos para pagarmos mais e depois o pior é que o empregado de mesa estava tão envergonhado que colocava os pés pelas mãos e o gerente nem quis dar a cara... Um conselho, se forem a Ponta Delgada afastem-se da Cervejaria Docas que aquilo não é de boa gente! O que comemos estava bom mas longe de valer a chatice que nos deu e a conta que pagamos, para além de que a sobremesa que comi era totalmente artificial, provavelmente comprada no supermercado apesar de ter pago ao preço de gourmet. Não, ali não nos apanharam mais, mas descobrimos um bar ali perto com uns cocktails fantásticos e baratinhos... No fundo... Há males que vêm por bem.

 

E esta viagem já vai a meio... Peço-vos desculpa pela demora na publicação da terceira parte, mas isto dá um trabalho que muitos não imaginam e implica um tempo que eu não tenho. Mas estou a adorar rever tudo e falar-vos sobre estas fantásticas férias, é como se ali regressasse novamente.

 

Já sabem... Não percam os próximos episódios, porque eu também não!

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