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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Desafio de escrita dos pássaros #9 A viagem

Imagem retirada daqui

 

 

Sentada na sala fumava tranquilamente. Fechei os olhos e deixei-me dormir. O corpo aos poucos amoleceu no cadeirão.

 

Acordo de repente.

 

Onde é que eu estou?

 

Olhei em volta e não vi ninguém. Apenas areia e mar. Voltei a olhar em volta, continuei a não ver ninguém. De repente o pânico: Nua? Como assim nua? Como é que eu vim aqui parar? Onde é que eu estou? Recompus-me. Não estava frio e não havia ninguém. Por que não aproveitar a liberdade? Fiquei tranquila, deixei-me relaxar.

 

Senti fome. Olhei em volta e vi umas árvores de fruto lá ao fundo. Fui de mansinho, pé ante pé, com cautela. Comi mangas, muitas mangas. Quem diria que algum dia iria ter assim o meu fruto favorito tão à minha disposição?

 

Deixei-me repousar no areal, sentir o calor do sol a queimar-me a pele. Banhei-me no mar que era morno. Senti-me feliz. Verdadeiramente feliz. Podia finalmente dizer que estava no paraíso.

 

Aos poucos, à medida que fui reconhecendo o território, o medo deu lugar à paz, à calmaria, mas logo a ansiedade voltou. E depois o pânico e novamente os nervos à flor da pele, a irritação.

 

Tenho de sair daqui! Preciso de sair daqui!

 

Encontrei um barquinho de madeira encalhado na areia. A raiva, o temor, a angústia... Tudo serviu de motor para conseguir ganhar forças e colocar o barquinho no mar. Desesperada, irritada,  amedrontada, tentei com o remo chegar a algum lugar mas apenas naveguei em círculos. Caí ao mar, deixei-me ir e senti-me a desvanecer.

 

No cadeirão enquanto dormitava entre uma baforada e outra no cigarro, coloquei mais uma pastilha na boca. Regressei tranquilamente à ilha. Estou sã e salva, novamente deitada no areal com o sol a torrar-me o corpo.

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.