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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Livro: Os Últimos Sete Meses de Anne Frank de Willy Lindwer

Terminei de ler o livro Os Sete Últimos Meses de Anne Frank, do cineasta holandês Willy Lindwer, livro que me acompanhou nas últimas três semanas. Comprei este livro por impulso numa das minhas visitas ao supermercado da terrinha. Li algumas passagens enquanto esperava que o Mulo encontrasse qualquer coisa para o nosso carro, e já não consegui sair do supermercado sem o livro.

 

 

Tenho um sentimento dual para com este livro. Se por um lado gostei, por ter testemunhos marcantes e chocantes de várias mulheres que sobreviveram ao holocausto, por outro lado senti-me completamente enganada, porque este livro está longe de ser «O "último capítulo", nunca escrito, do diário de Anne Frank» porque se é verdade que todas as mulheres constantes neste livro conheceram Anne Frank, por outro, este livro não é sobre Anne Frank existindo apenas breves referências à sua pessoa e à sua irmã, uma vez que estas mulheres viram-na no campo de concentração, mas a maioria nem conviveu com ela, como é dado a entender pelo autor do livro. Por isso senti que usaram o nome de Anne Frank para venderem um livro que não é, efectivamente sobre Anne Frank. Agora, claro que, é inegável que Anne possa ter vivido tudo aquilo que foi descrito por estas mulheres, já que os factos se repetem ao longo dos vários testemunhos, sobre diferentes pontos de vista, mas estamos muito longe de ter um ponto de vista da Anne sobre isto que aconteceu a si e à sua família, nem tão pouco um ponto de vista e os sentimentos de Otto Frank foram explorados. Senti por isso que usaram o nome da Anne para vender mais e para conseguirem destacar o livro, que provavelmente de outra forma não conseguiria ter tanta visibilidade.

 

Por outro lado, é realmente um bom livro - dentro do que se pode chamar de bom, ao horrível -, com testemunhos marcantes e macabros sobre o que aconteceram a milhões de judeus, ciganos e presos políticos na II Guerra Mundial e no Holocausto. É curioso como diferentes mulheres que experienciaram os mesmos acontecimentos têm visões tão diferentes do que lhes aconteceu, e com formas tão diferentes de viver durante o próprio holocausto: umas mais resignadas e à espera da morte, outras com um maior espírito de luta e de força interior, bastante mais desafiadoras.

 

Ao ler o livro é impossível não ficarmos revoltados. Não consigo compreender como é que alguém se consegue julgar superior a outro e infligir-lhe sofrimento sem qualquer motivo. Como é que pessoas, igualmente presas, se conseguem aliar aos bandidos que lhes fizeram mal, para fazer ainda pior a outras pessoas. Há coisas que realmente nunca vou conseguir compreender!

 

Não é um livro de leitura fácil, se por um lado possui, relatos horrendos de experiencias de sofrimento e privação, por outro contém imensos termos em alemão, que pode dificultar a compreensão do livro. Mas com a continuidade percebe-se o que querem dizer.

 

Se procuram um livro sobre o Holocausto, aconselho vivamente este livro, se procuram um livro sobre Anne Frank, esqueçam!

 

Boas Leituras!

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