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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Nem sempre os muros nos afastam...

... Por vezes são os muros que mais nos aproximam!

 

 

 

É incrível como por vezes temos as pessoas logo ali tão ao nosso lado e por estarem tão à mão de semear quase nos passam despercebidas e por essa razão, inconscientemente, acabamos por nos afastar.

 

Sempre achei que passava mais tempo de qualidade com ele quando éramos namorados e não vivíamos juntos. Quando fomos viver juntos com a inocência tola de um jovem casal que acabou de arrumar um ninho, não tardou muito a compreendermos que viver juntos não era, de todo, sinónimo de passar mais tempo juntos e percebemos até que era um pouquinho o oposto. Porque quando somos jovens namorados e vivemos longe um do outro fazemos o possível e o incrível para passarmos nem que sejam só mais 5 minutinhos juntos. À noite, cansados depois do trabalho fazemos o esforço para estarmos juntos nem que seja 1 hora antes de dormir e se for possível nas horas de almoço fazemos quase milagres e percorremos distâncias para almoçarmos juntos em... 10 minutos? 

 

Quando somos um jovem casal separado todos os minutos juntos contam e todos os minutos longe são uma verdadeira eternidade.

 

Não acredito em generalidades, nem em fórmulas pré-construídas, mas percebo que não sou a exceção à regra e rapidamente entendi que a regra é que as coisas mudam demasiado quando um jovem casal tolo e inocente vai viver junto. Deixa-se, com o tempo, de se fazer o esforço de se almoçar em 10 minutos e passar os restantes 50 minutos no trânsito. Ao fim ao cabo, logo à noite já estamos juntos. Deixamos de fazer esforços ao longo do dia para um beijinho de 5 minutos. Ao fim ao cabo temos todas as noites do mundo pela frente não é necessário estarmo-nos a cansar excessivamente. Mas depois à noite já não há a escapadinha depois do jantar para um namoro cronometrado. A noite significa cozinhar, arrumar a cozinha, trabalhar mais um pouco - em alguns casos -, colocar a roupa na máquina e colocar outra no estendal e a vida de casal acaba por se perder um pouco nas rotinas do dia-a-dia. No fundo a saudade é aspirada com o pó da casa, o fulgor da ânsia do reencontro vai pelo cano da máquina da loiça e o êxtase do "será que nos vemos hoje" vai-se perdendo entre a correria das compras e o corredor da secção do "não deixes a roupa espalhada".

 

Compreendo por isso que menos barreiras acabam por resultar em mais afastamento. O que é só ridículo.

 

Lá no trabalho tenho quem repare que eu e o Mulo não passamos as pausas ao telefone. É verdade que não nos telefonamos muito no dia-a-dia, a menos que haja alguma informação para ser passada. Quando ele me vai buscar, cansados e sem energia acabamos muitas das vezes por viajar calados e à noite em casa... À noite em casa fico cansada só de pensar. É uma correria. E onde ficam as saudades? As surpresas? A energia apaixonada de um jovem casal? Claro que há sempre formas de apimentar a relação, de fugir-mos à rotina, e de demonstrarmos que ainda nos amamos e que ainda nos importamos mas... admiro quem tem energia para isso - e muito mais - entre as rotinas do dia-a-dia. Nós cá guardamos as fugas e as demonstrações de afeto para as férias, para as escapadinhas, para as pausas que fazemos da maldita da rotina. Nós cá somos apanhados na rede do piloto automático sem grande escapatória e sem grande energia para esbracejar ou espernear.

 

Entretanto o Mulo arranjou um segundo trabalho, temporariamente para equilibrar as contas, e raramente nos vemos. Erguem-se muros entre nós, bem altos que nos impedem de nos vermos o que seria de esperar que isso nos afastasse. Tão pelo contrário. Tão pelo contrário. Voltamos a parecer dois jovens namorados separados. Passamos longos minutos ao telefone como antigamente, o tempo que estamos juntos tentamos aproveitá-lo verdadeiramente, muito mais que antes, porque tal como quando não vivíamos juntos: não sabemos quando um momento assim se volta a repetir.

 

Por isso não acredito em muros reais. Os muros, na realidade são mais psicológicos do que físicos, porque quando muros físicos se impõem nós subimos por eles acima sem muito nos cansarmos.

 

Não... nem sempre os muros servem par anos afastar...

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.