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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Operação Respirar # 1 Pré-operatório

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Fui internada na segunda-feira logo de manhã. Às 7h30 já estava a fazer check in lá no hotel. Aliás, às 7h30 não, porque apesar de dizerem que o internamento era às 7h30, essa é também a hora de abertura do hospital, por isso cheguei atrasada, e ainda tive que discutir com o segurança que me estava a impedir de subir dizendo "não tenho nada a ver com isso! Tem de esperar!". Quanta sensibilidade. Quem é que tem a ver isso? Eu, que fui informada da hora? A malta da secretaria que definiu a hora? Ou o segurança que é só um energúmeno a trabalhar num hospital? Lá consegui entrar. E fiquei à espera na receção para entrar juntamente com um montão de gente que ia submeter-se à mesma operação.

 

Quem me conhece e me lê há algum tempo, sabe o quanto eu adoro ter pessoas que não conheço de lado algum a falar para mim - #sóquenão - , por isso imaginam o tamanho da minha alegria quando uma senhora com uma excitação que mais parecia que ia de visita à Disneylandia, veio de imediato ter comigo meter conversa dizendo que íamos ser operadas juntas e que a primeira a acordar acordaria a outra. Começou logo a dizer o meu nome a toda a gente, que, a sério, parecia que tínhamos ganho uma viagem e não uma cama no bloco. Imaginei logo a visão do inferno: toda ligada, cheia de dores e uma senhora com o dobro da minha idade mas com o triplo da minha energia a fazer conversa para me animar quando eu só desejaria dormir e desaparecer deste mundo. Sou muito dramática nas recuperações  confesso. Acho que tive mais medo da senhora do que da operação em si. E não estou a brincar! Felizmente, e posso já adiantar-vos, nunca mais a vi. 

 

Fui logo a primeira a ser chamada para o quarto e a ser preparada para ir para o bloco e por isso disseram-me que me tinha de despachar, porque já estávamos atrasadas. Vesti aquela roupa fantástica e altamente moderna - já criavam um modelito mais aconchegante e menos humilhante não? - e 'bora lá colocar o cateter. Já fui operada duas vezes, mas já não me lembrava do quão horrível era colocar o dito. E pior do que colocar um cateter...  É colocar dois! Porquê dois? Pelos vistos os capilares das minhas veias da mão direita são demasiado finos... O soro não passava. 'Bora lá aplicar o cateter na segunda mão. Já vos disse que estávamos com pressa certo? Pois... Fantástico...! Nada doloroso... Nada! 

 

Cateter aplicado... Lá vou eu na maca para o bloco. Um frio do caraças... Chego ao bloco:" Esta é a paciente da ginecologia?"

 

Alto lá. Para tudo. Até me levantei! "Otorrino! A minha operação é ao nariz!". Pediram desculpa e lá me esclareceram que estavam à espera de uma paciente que ainda não tinha aparecido, e que era da ginecologia. Comecei a antever chegar do recobro com um penso na barriga em vez de no nariz, confesso. Eu, que já estava pouco nervosa! 

 

Eis que encontro a primeira pessoa altamente preocupada comigo e me põe uma manta aquecida em cima de mim. Que momento fantástico, que levarei para sempre no coração. Senti que podia dormir uma sestinha naquele momento  até porque a coisa ainda podia demorar porque o meu cirurgião ainda não tinha chegado. Comecei por fechar um pouquinho os olhos... Mas eis que as pessoas foram chegando, e cada pessoa que chegava me fazia as mesmas perguntas: nome, data de nascimento, o que estava ali a fazer e eventuais alergias a medicamentos. Se vos disser que passaram por ali umas 20 pessoas diferentes não estou a exagerar. Tantas vezes respondi às mesmas perguntas que comecei a duvidar da minha identidade... De quem eu era, do que estava ali a fazer e quase senti uma certa vontade de bem, obrigada por tudo mas eu vou andando... Mas entretanto o cirurgião chegou. Pergunta-me se estou bem disposta - como se fosse possível estar bem disposta à porta de um bloco operatório, com umas cuecas descartáveis e uma bata azul onde se viam as minhas mamocas todas sem dificuldade - respondi que sim - dizer que não implicaria uma conversa que eu não iria querer - e lá fui levada para o bloco.

 

Já tinha visto nos filmes aquelas máscaras que nos adormecem, mas quando fui operada anteriormente não tinha sido assim. Colocaram-me a máscara, disseram-me para respirar fundo e quando estava quase, quase a perguntar onde é que poderia arranjar aquilo lá para casa... Adormeci! 

 

Acordei umas horas mais tarde graças a uma máquina que me registava as tensões de 15 em 15 minutos e que sempre que estava quase quase a adormecer me acordava. Ainda não tinha percebido muito bem o que me tinha acontecido, mas senti-me violentada por um elefante com excesso de peso... Falaram para mim para ver como estava,  e eu que poderia ter mil e uma perguntas, a única que me ocorreu foi: "posso pôr vaselina nos lábios quando for para cima?" e não vos minto, foi a primeira coisa que pedi à minha mãe assim que fui para o quarto, não imaginam a miséria dos meus lábios. 

 

E pronto, é isto, sabem que falar de coisas sérias com a seriedade que os assuntos implicam, não é comigo. Por isso se querem saber como correu o pós-operatório fiquem desse lado, tentarei contar o pós-operatório com a mesma descontração, apesar de neste momento só ter vontade de chorar quando me lembro. 

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