Pode ser uma forma de elogio... Mas não gosto!
Há quem deposite demasiada importância em nós. Há quem respeite demasiado a nossa opinião, que a solicita a todo o momento. Há quem se importe demasiado com o que nós pensamos e isso confesso, aflige-me. Não gosto dessa responsabilidade.
Há quem nos recomende um determinado restaurante e nos questione depois constantemente: já foste? já provaste? gostaste? que dizes? que achaste? E quando inocentemente dizes algo que não vai de encontro ao que as pessoas esperam ouvir, o inevitável acontece: ah não entendo! se calhar não escolheste bem. tens de experimentar o outro, o outro vais ver é que é, não vais querer outra coisa. E isso nem sempre é verdade. Nem sempre a nossa opinião muda. Há quem nos entregue livros dos seus autores favoritos e nos peça ai lê! ai vais gostar! diz alguma coisa depois! e nós a medo lá aceitamos o dito, aquilo até nem tem nada a ver com o nosso estilo mas propomo-nos a ler e a dar uma opinião e depois a magia acontece: já leste? já avançaste mais? estás a gostar? essa parte é gira, mas o que vem depois é muito melhor! vais ver! não é o teu estilo mas tenho a certeza que vais adorar! Há ainda aqueles que por saber que cozinhas, vêm ter contigo tirar dúvidas dignas de um verdadeiro chefe de cozinha; vou fazer isto e aquilo para o jantar com o fulaninho tal. que achas? vai gostar? e para sobremesa faço o quê? e se eu alterar aquele e o outro ingrediente por x, por y e por z? que achas?
Não gosto desta responsabilidade. E se eu odiar o restaurante que a pessoa tão energicamente me sugeriu e que dizia ser o melhor do mundo? E se eu odiar aquele livro que para a outra pessoa é tão especial? E se o jantar for um fracasso pelas minhas dicas e opiniões?
O contrário também acontece e o efeito é o mesmo: vou comer não sei onde, o que recomendas? onde achas que é melhor? e nós lá vamos emitindo esta e aquele opinião e nem sempre a pessoa gosta, e tantas vezes a desilusão acontece: não fomos nada bem atendidos! os pratos eram medíocres e vinham frios! e acabamos a sentir-nos responsáveis pela má experiência daquela pessoa como se tivéssemos sido nós a atendê-los, a confecionar-lhes os pratos. Quando é comigo, fico ainda mais desiludida e preocupada que os próprios. O mesmo acontece com os livros: acabei o que estava a ler, diz-me agora aí um bom para ler! Mas o que é bom para mim pode não sei bom para ao outro e nem sempre as sugestões vão de encontro ao que pretendem apesar de existirem zero pistas. Prefiro que me perguntem sobre algum livro específico, se gostei ou não, e aí é só a minha opinião, e não a minha sugestão.
Por aí em diante...
Não gosto quando depositam em mim mais importância do que aquela que tenho, que é tão pouca... Mas confesso que por vezes posso fazer o mesmo com os outros de modo inconsciente quando vos digo e vos escrevo sobre coisas que me apaixonam e vos digo "vão!", "leiam!", "vejam!" e "experimentam!" Acho que por vezes sou péssima a gerir expectativas. Faço, no fundo o mesmo, quando experimento algo que não correu bem e exponho aqui publicamente a minha desilusão, seja com um restaurante, seja com um produto, seja com um livro. Pode ser o restaurante/produto/livro preferido de alguém e isso vai criar alguma deceção e incompreensão. Por isso, sou no fundo, a pior pessoa para falar sobre isto, mas a verdade é que quando o pedido me é dirigido tão especialmente e tão efusivamente, que me deixa receosa e desconfortável.
Sou esquisitinha, bem sei... Mas não acredito, sinceramente, que seja a única a pensar assim.. Serei?