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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

São orgulhos senhores... São orgulhos feridos!

Senti pela primeira vez vergonha do que fazia e escondi-me atrás do balcão como uma menina assustada. Sei que é um sentimento parvo, tenho um trabalho honesto, pago as minhas contas a tempo e horas e tem a sua ciência - pouca - ou não precisasse eu de ter conhecimentos básicos de uma série de línguas. Mas não consegui evitar. 

 

Entrou aqui na loja uma antiga professora da faculdade, uma das que mais elogios tecia aos meus trabalhos, uma das grandes responsáveis por ter adorado o curso, devido à paixão com que falava da profissão. Ela que divulgava várias ofertas de trabalho, ela que sempre que possível ajudava os seus alunos a conseguirem trabalho. E eu nunca lhe pedi ajuda, porque Mula que é Mula tem uma honra, e alguma teimosia, fora do vulgar.

 

Pois não consegui deixar de me sentir humilhada e rebaixada, ainda que saiba de ante-mão que ela não iria sentir nada disso, que é uma pessoa extremamente simples e empática, mas...  Não vos sei explicar, mas a verdade é que me senti mesmo com muita vergonha, porque eu era uma pessoa bastante empenhada, com notas acima da média e... um balcão foi o que me calhou na rifa. Senti como se tivesse receio que pensasse que desisti, o que não é verdade... Mas também não é mentira!...

 

Esperei que saísse, e de mansinho regressei ao meu posto com uma certa melancolia no olhar.

 

Este ano deixo de ser uma recém licenciada, deixo de estar elegível para estágios profissionais, e daqui a 2 anos passo a ser considerada velha para determinados postos de trabalho.

 

Pois que o orgulho não mata, mas mói e ao pensar nisto o meu sai bastante lesado... Esforcei-me tanto para quê, vangloriei-me tanto das minhas notas para quê? Exibia com tanto orgulho a minha capa negra com as fitinhas do curso para quê?...

 

Muitos me perguntam de que é que me queixo,  que tenho um emprego santo, que os meus colegas são porreiros, que os meus clientes (isto soa tão mal)  são super bem dispostos... Queixo-me porque sei, e não é ser convencida, porque a falsa modéstia é enervante, que tenho capacidades para mais, e aqui estou subvalorizada... 

 

Há dias assim... Amanhã será um dia melhor.

 

 

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.