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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Sei que não tenho de que me queixar...

Mas estou pelos cabelos!

 

Sei que sou uma privilegiada. Que tenho casa com jardim, espaço exterior, uma mãe que me ajuda em tudo, um cão e dois gatos mimalhos. Não tenho filhos a berrar enquanto tento trabalhar... Sei que há milhões de pessoas em pior estado. O dinheiro que tenho não é muito, atualmente, porque duas em lay-off não é fácil, mas a verdade é que dá para os gastos e é o que verdadeiramente importa. Não passo fome, não vivo enclausurada num T0 sem varanda e tenho luz, água e até Netflix. Mas estou pelos cabelos com a quarentena que de quarentena tem muito pouco, porque uma quarentena são 40 dias, e eu já conto com 55 dias em casa.

 

Não me leiam em tom de reclamação, mas em tom de desabafo. Uma espécie de grito... Que não consigo gritar realmente... Estranhamente não consigo gritar em plenos pulmões. Nunca consegui. Resta-me a escrita!

 

Há dias um tanto desesperados, que a alma se amarfanha, o coração acelera e só me apetece pegar no carro e desaparecer. Ir para um lugar remoto, pequeno, que dê para ver gente, falar com gente, nadar, ir tomar café a algum pequeno café sossegado. Viajar de carro por horas e ouvir a minha música em decibéis não suportados pelas minhas novas colunas e sentir o vento que entra na janela despentear-me a cabeleira. Há algum lugar assim para onde eu possa ir e desaparecer?

 

O meu lado consciente diz-me que não tenho de que me queixar. O meu lado emocional berra que não aguenta mais.

 

Paro e penso, e nem assim, com o meu estado desesperado concordo com o fim da quarentena "obrigatória". Não é um capricho, não é uma medida do governo porque sim. É uma medida que nos protege - pelo menos a saúde, apesar de nos desproteger a carteira - que nos faz crer estarmos mais seguros, apesar de sinceramente não estarmos realmente seguros em lado nenhum porque precisamos de comer e a comida não aparece limpa e desinfetada nos armários por obra de magia. 

 

Mas um outro lado meu quer que acabe, um lado meu quer desesperadamente voltar ao normal... Mas tenho medo, porque sei que quando sair vou descobrir que o normal já não existe... E aí... aí é que a minha alma vai berrar, mas uma vez mais sem sair qualquer som... Sou bastante adaptativa, mas acho que o que vamos viver de ora em diante será sobrenatural... Será demasiado. Tenho medo de não ser capaz...

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.