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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Uma aventura... No Natal!

Podia perfeitamente ser um título de mais um livro da coleção escrita pela Ana Maria Magalhães e pela Isabel Alçada, mas neste caso a Mula é protagonista e não há gémeas no cenário.

 

A história contada hoje pela m-M na rubrica da Chic'Ana One Smile a Day fez-me lembrar uma aventura que aconteceu no Natal de 2006 e da qual recordo com carinho porque já passou, que na altura confesso não achei piada alguma.

 

Fomos passar o Natal à aldeia, e foi a altura em que apresentei o Mulo a toda a família e ele veio passar o Natal comigo. Como na ceia de Natal, para não variar, tínhamos exagerado nos doces, decidimos ir fazer uma caminhada, assim a minha mãe teve uma ideia: "Vamos ver as Fragas" - que são umas quedas de água no meio do monte. Toda a gente sabe que eu adoro cascatas, quedas de água e afins. Então pareceu-me muito boa ideia, imaginando que existia uma espécie de trilho para as visitar. Os meus tios também alinharam. Assim fui eu, o Mulo, a minha mãe e os meus tios todos pimpões com frio fresquinho monte acima e monte abaixo para ver as fragas. À ida, o caminho não era muito complicado, por vezes um pouco íngreme mas era relativamente fácil de andar.

 

Chegamos às fragas.

 

Eram realmente bonitas, pequenas - tanto que no verão secam - mas bastante inclinadas e por isso imponentes. Como no inverno o sol se põe que é um instante e no meio do monte não há propriamente iluminação, não tivemos por isso muito tempo para ficar admirar as ditas. Tivemos que colocar os pés ao caminho

 

O meu tio dizia conhecer um caminho diferente para voltar, para não estarmos a voltar pelo mesmo, assim ficávamos a conhecer um novo caminho. A minha tia dizia que esse caminho não estava circulável, que tinha sido abafado por silvas e afins. O meu tio insistia que o caminho estava em perfeito estado que era até melhor ir por lá que não era tão inclinado. A minha tia insistia que não. O meu tio ganhou. Fomos por esse tal novo caminho, até porque à vinda tínhamos descido uns rochedos e seria complicado de os subir.

 

A minha tia tinha razão. O caminho não estava nada circulável, tentamos desviarmo-nos, perdemo-nos. Eu não tinha sinal no telemóvel, se o sinal já é fraco perto das casas, ali era inexistente. Andamos algumas horas perdidos quase em círculos, tivemos de trepar rochas, descer outras tantas e sorte a nossa que existiam uma espécie de arbustos muito resistentes que nos podíamos agarrar a eles para ajudar a trepar. Numa das descidas magoei um pé. Pois que se o caminho já era difícil com dois pés assentes no chão, ainda mais difícil era com um pé que mal tocava no chão. Pobre do Mulo que tinha que se segurar e ainda me segurar.

 

Começou a anoitecer. E eu comecei a entrar em pânico. Acho que a minha única tranquilidade era que o meu tio era fumador, tinha isqueiro e o que não falta são casas abandonadas no meio dos montes, por isso em última análise passaríamos lá a noite à volta de uma fogueira. Todos os filmes me passavam pela cabeça, até porque ali há veados e javalis - aliás os restaurantes da zona são conhecidos por essas duas especialidades. Não estava nada confortável. Tinha frio, tinha dores, tinha medo... acima de tudo medo.

 

Lá continuamos a andar, andar... e lá demos com o caminho de volta. Chegamos a casa era já noite praticamente.

 

No dia seguinte diz a minha mãe: "Hoje vamos ver a fraga das ferraduras? Para lá o caminho é melhor..."

 

Como podem ver não fui buscar a mariquice à mãe...

 

Eis uma foto da ida.

 

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Existirá momento mas belo que aquele em que se avista o Douro? Há sim.... quando se avista a estrada principal! Palavra de Mula.

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.