Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Livro: O Labirinto dos Espíritos de Carlos Ruiz Zafón

Toda esta febre começou em Maio do ano passado, quando através do Livro Secreto me chegou a casa A Sombra do Vento de um autor que nunca tinha lido mas do qual já tinha ouvido falar muito bem. Não me apaixonei logo nas primeiras páginas pela história, mas por volta da página 40 ou 50 a paixão deu-se e só consegui parar de ler 8 dias depois quando a última página foi alcançada. Não podia obviamente parar por aqui e assim que possível li O Jogo do Anjo e o Prisioneiro do Céu. Adorei todos, ainda que O Jogo do Anjo seja o que menos me faz sentido, de toda a saga, e provavelmente o que mais trabalho deu a Zafón ligar, n'O Labirinto dos Espíritos, já que foi, na minha opinião um imbróglio demasiado exagerado, ainda que a história seja bastante interessante.

 

Dizem que estes quatro livros podem ser lidos por qualquer ordem, porque como o próprio indica neste último livro: "Uma história não tem princípio nem fim, só portas de entrada." no entanto, ainda que possa conceber que A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo possam trocar de ordem, não consigo conceber que se leia o terceiro e o quarto por outra ordem que não esta. Acho que os demais iriam perder o encanto e a surpresa.

 

Mas adiante, que não quero falar-vos da saga em si, mas do livro que encerra toda a saga.

 

Concluí finalmente O Labirinto dos Espíritos e posso vos dizer que ainda estou meia abananada com toda a história. Vou tentar falar do livro sem me alargar nem ser spoiler.

 

 

 

O Labirinto dos Espíritos é o livro que promete unir as histórias dos outros livros da saga, é por isso o livro que conta a história do início ao fim - sem contar efetivamente o fim - da família Sempere. É o livro que conta essencialmente a curta história da Isabella Sempere, mãe de Daniel Sempere, que conhecemos n'O Jogo do Anjo e cujo passado começamos a compreender n'O Prisioneiro do Céu. No entanto, e apesar de ser um livro de encerramento, é um livro com histórias únicas e novas aventuras, com introdução de novas personagens tão ou mais emocionantes que as já conhecidas, como é o caso de Alícia Gris, uma jovem e enigmática de humor peculiar com o objetivo de desvendar toda a trama. No fundo, é pelas mãos de Alícia que conhecemos o passado da família de Daniel, e é por ela que se faz justiça.

 

Este é o livro mais sangrento e macabro dos quatro. É um livro bastante visual e por várias vezes me deu náuseas devido às descrições das torturas a que alguns personagens foram sujeitos. É um livro que nos permite pensar até que ponto devemos levar uma vingança, até que ponto vale a pena e até onde pode ir a maldade humana. É só um livro! dirão alguns. Não é só um livro a partir do momento em que o cenário é o pós-guerra em Espanha, sob o regime político ditatorial de Franco. Aquela história pode não ter efetivamente acontecido, mas muitas outras histórias efetivamente aconteceram, e é isso que me choca, é isso que me comove, saber que tanta gente sofreu nas mãos dos supostos polícias do regime que nada mais eram que assassinos protegidos e promovidos pelo governo.

 

O livro é brutal, não no sentido do choque - ainda que também - mas pela forma como é construído. É um livro complexo, com múltiplas histórias a ocorrer ao mesmo tempo, com imensos personagens ao ponto de por vezes pensar "mas quem é este?", mas logo Zafón nos esclarecia. Zafón tem noção que é um livro denso e por isso se vai repetindo para nos refrescar a memória, se outra forma poderia ser complicado perceber quem era aquela gente toda.

 

Sem dúvida que foi um trabalho excecional de Zafón pegar nos outros três livros e ligá-los a este último  - por isso se seguiram a saga faz todo o sentido que o leiam. Há, no entanto, e aqui esclareço-vos já, que há pontas que não foram enlaçadas e que se perderam na história e que isso me desgostou um pouco, houveram coisas que não compreendi, e que só por isso gostava de um dia encontrar Zafón na rua e perguntar-lhe sobre essas pontas, o que aconteceu, o que significaram. Sou Mula teimosa, agarro-me a pormenores e dificilmente me esqueço.

 

Lembram-se da história das conchas na casa de banho, no filme O Demolidor com o Stallone e com a Sandra Bullock? Pois quem viu certamente recorda que existiam três conchas que o Stallone, vindo do passado, não sabia usar na casa de banho e toda a gente se ria dele. Fiquei irritada quando o filme terminou e nunca foi explicado o que eram e para que serviam as conchas e aqui não é diferente. Spoiler Alert: A grande pergunta que se impõe, uma das que mais fiz ao longo dos livros: Mas quem raio era o homem de branco, de mão dada com a Cristina? Mas esse homem alguma vez existiu? E à Cristina, o que é que lhe aconteceu realmente? E porquê tanta violência com o Valls? É verdade que ele era o vilão dos vilões, mas quem lhe fez o que fez... Fiquei sem compreender muito bem porquê. Então e... Alguém me explica por que é que quando o Fermin reencontra Alícia está zangado com ela? Não era suposto ter ficado feliz?

 

Apesar de todas as dúvidas com que fiquei, e ter vontade de fazer como a Hazel d'A Culpa é das Estrelas e ir a Espanha fazer umas perguntinhas a Zafón, a verdade é que foi sem dúvida um livro que valeu a pena carregar de um lado para o outro, que valeu a pena as quase tendinites e torcicolos na cama. É um livro carregado de mistérios, de entroncamentos sem fim, como diz a outra e rivaliza diretamente com A Sombra do Vento, ainda que este último ocupe um lugar mais especial no coração. Assim disse adeus a Daniel e pisquei o olho a Fermín, desejando-lhes toda a felicidade do mundo para lá das letras. São personagens que sem dúvida vão deixar saudades!

 

 

P.S. para quem já leu: Sou só eu a achar, ou esta família tem péssima imaginação para dar nomes aos filhos? E aquele capítulo final, hein? Menos 100 páginas e o livro estaria perfeito, não concordam?

Livro: O Prisioneiro do Céu de Carlos Ruiz Zafón

Depois de me ter apaixonado pel'A Sombra do Vento - um dos melhores livros alguma vez lido - e de ter devorado O Jogo do Anjo, chegou a vez d'O Prisioneiro do Céu, numa altura em que O Labirinto dos Espíritos já está na mesinha de centro a bater pé enquanto me pergunta, nada baixinho, se vou demorar muito até o devorar com todas as unhas e dentes que me for possível. Está quase, digo-lhe eu. Esta semana é a hora! Me aguarde, Labirinto, me aguarde!

 

 

Disseram-me para não ter grandes expectativas face a este livro. Então eu peguei nele de mansinho e desconfiada... Mas se n'A Sombra do Vento demorei umas 40 páginas até me emaranhar, e se n'O Jogo do Anjo só lá para meio do livro é que me captou verdadeiramente a atenção, este, curiosamente, considerado por muitos um dos piores livros da saga - não confirmo nem desminto - captou-me a atenção desde a primeira página. Talvez por saudades do Fermín e do Daniel, porque, realmente, o livro é bastante diferente dos dois primeiros. Mas, e apesar da história ligeira, pouco mórbida e surpreendente, gostei bastante, talvez por o ter lido numa altura em que sei que há mais páginas à minha espera, que é só um até amanhã. Confesso que se achasse que este era o último livro da saga me teria enervado um pouquinho com o fim, que me saberia muito a pouco, mas imagino que O Labirinto dos Espíritos, tenha as respostas para as perguntas que tenho acerca do Fermín, do Daniel, do Valls e do David Martim! Mas bem, para quem não leu ainda, vamos ao que interessa.

 

O Prisioneiro do Céu conta a história de como Fermín chegou até Daniel e de como a história de amizade entre estes dois foi pouco aleatória, apesar do que nos leva a crer no primeiro livro. Numa altura em que Fermín está prestes a casar-se com Bernarda, está na hora de enfrentar alguns demónios uma vez que a sua identidade não existe, e é necessária para os papéis do registo. Assim, Fermín decide contar toda a sua história a Daniel que o ouve com atenção e o decide ajudar a encontrar nova identidade. O Prisioneiro do Céu é um livro que une a saga, é um livro que une Fermín e Daniel - d'A Sombra do Vento - a Martim e Isabella - d'O Jogo do Anjo. Com pouco suspense, passamos a conhecer melhor Daniel, pela narração de Fermín. É um livro que do ponto de vista descritivo da realidade da época, nos revolta, uma vez que uma parte da história nos é contada na altura da Guerra Civil Espanhola, onde nos é relatado muitas das atrocidades que ocorriam nas catacumbas do governo, também chamadas de prisões, onde criminosos e inocentes - provavelmente mais inocentes que criminosos - permaneciam para cumprir penas que ninguém compreendia em condições abaixo de miseráveis.

 

O Prisioneiro do Céu é, do meu ponto de vista obviamente, um livro que atiça o ódio nos leitores apaixonados por Sempere e Filhos. Quando criamos empatia com um personagem, não queremos que nada lhes aconteça e neste livro vemos como a história de Daniel foi reescrita por quem não devia e é impossível não ficarmos revoltados com isso.

 

Aviso à navegação: O próximo parágrafo contém spoilers d'O Jogo do Anjo

 

Este livro vem desmentir algumas premissas d'O Jogo do Anjo. Quem leu sabe que o autor nos deu a entender do sobrenatural associado a Martim e a Corelli, quem leu sabe que Corelli representava a figura do diabo e que Martim jurava a pés juntos que ele existia. Pois que n'O Prisioneiro do Céu percebemos que afinal não é bem assim, e confesso que fiquei com vontade de reler todo O Jogo do Anjo para encontrar erros, e a verdade é que mesmo sem ler, fiquei com algumas dúvidas da suposta inexistência de Corelli tendo em conta a morte da Cristina, que de certa forma, atestava a sua existência. Aliás, não compreendo como Cristina nunca tenha sido referida n'O Prisioneiro do Céu, uma vez que o verdadeiro final dela, ficou meio em aberto no outro livro. Propositado? Falha? Encontrarei as respostas n'O Labirinto dos Espíritos? Vou aguardar para ver.

 

A verdade é que adorei este livro apesar de ser diferente dos seus "irmãos", não o achei uma perda de tempo, bem pelo contrário, e foi bom reencontrar o desbocado Fermín e o jovem Daniel. Fico-me só a perguntar, onde andará Caráx...  Às vezes, acho que me esqueço que eles não existem realmente...

 

Estou muito ansiosa pelo início d'O Labirinto dos Espíritos!

 

Boas leituras!

Livro: O Jogo do Anjo de Carlos Ruiz Zafón

Comecei a ler antes do casório, esteve quase dois meses parado - ainda no início do livro - por causa do casamento e do Livro Secreto e agora... Foi todo de enfiada que estava ansiosa por saber o que iria acontecer.

 

 

Quem segue o blog sabe que adorei A Sombra do Vento. Depositei por isso grandes expectativas neste livro. No entanto, e se na Sombra do Vento o interesse louco pelas palavras que nele continha apenas surgiu por volta da página 40/50, n'O Jogo do Anjo, demorou um pouco mais. Este livro começa de forma muito lenta, e até de forma pouco entusiasmada, senti que o autor andava às voltas sem saber muito bem qual o caminho a seguir e não se percebe muito bem onde a história nos vai levar. Entretanto quase a meio do livro a história envolve bastante o leitor e quase no final, a história ganha a morbidez e o encanto que A Sombra do Vento nos faz sentir. O final deste livro é um misto de emoções: Chorei e revoltei-me, apeteceu-me mandar o livro contra a parede e perguntar ao autor porquê... Mas acho que é suposto os livros causarem-nos este tipo de sensações.

 

O Jogo do Anjo tem como palco uma vez mais a livraria dos Sempere e conta a história de Martim - amigo do Sempere pai do Daniel e seu avô - que vende a sua alma por 100 mil francos franceses para escrever um livro religioso para um misterioso editor francês a quem chama carinhosamente de O Patrão. Entretanto descobre que na casa onde vivia, alguém tinha vivido com uma história muito semelhante à sua e que morreu envolto em grande mistério. À medida que Martim se arrepende do contracto que fez e tenta fugir d'O Patrão, tenta perceber quem era aquele homem que viveu naquela casa com as mesmas iniciais que as suas, até que se vê envolvido em vários crimes. Será que foi Martim que cometeu aqueles crimes? Quem é O Patrão? Pois leiam e descubram!

 

O sentimento geral que tenho do livro é que gostei. Gostei bastante. Carlos Zafón consegue transportar o leitor para os seus palcos, consegue fazer-nos viver a história de forma bastante intensa. No entanto senti que algumas pontas ficaram soltas e isso enerva-me. Claro que o final pode esclarecer tudo, mas ainda assim fica tudo demasiado generalizado, e eu odeio generalizar. Por exemplo, no início do livro Martim envolve-se com uma mulher misteriosa que supostamente é uma personagem de uma das suas novelas, no dia seguinte descobre que tudo aquilo que supostamente viveu não existia. E então? O que é que aconteceu? Foi uma miragem? Um sonho?... Pois que me devem ter arrancado do livro as páginas da explicação que nunca as encontrei. Então e a doença grave de Martim? Ele não ia morrer dentro de dias?... Ok... ok... que O Patrão era um "homem" muito poderoso, mas ainda assim... E o Marlasca fez o que fez porquê? Quais as suas motivações?... Pode ser a minha mania de querer todas as explicações mas fiquei com a sensação de que o autor se esqueceu de explicar um pouco mais.

 

Leiam e tirem as vossas próprias conclusões. Apesar de tudo na minha opinião é um livro que vale bastante a pena.

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.