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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Depressão & Apatia

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Mais do que um estado, a depressão é uma forma de sentir, uma forma de sentir que se vive, que se respira... Já aqui falei, muito levemente, sobre isso, mas posso dizer-vos que já passei por um estado depressivo bastante mau, e já experimentei um outro lado: a apatia. A falta de felicidade e tristeza. Posso dizer, hoje que estou bem, estável e minimamente feliz, que é bem pior a apatia, a ausência de sentimentos, a ausência de opiniões e desejos que a depressão.

 

Eu quando estava deprimida, chorava o dia todo. Chorava a ver filmes de comédia, chorava enquanto comia, chorava enquanto dormia... E dormia muito... Tanto, tanto, tanto! Dormia de dia, dormia de noite. Cancelava compromissos às 16h porque simplesmente não me apetecia levantar. Mas tinha desejos. Ainda que esses desejos fossem maus, bastante maus, pensava em coisas, tinha vontade de fazer coisas, ainda que essas coisas fossem más. Continuava a querer ouvir música, ainda que triste, a querer ver televisão, ainda que só filmes deprimentes. Mas sentia coisas. E sentir coisas é muito importante. Continuava a olhar para os meus amigos com carinho, para a minha mãe com carinho, para o meu namorado com carinho. Continuava a apreciar um abraço, talvez mais do que nunca. Continuava a adorar um beijo longo e demorado, talvez mais do que nunca. A verdade é que sentia coisas, e é bom sentir coisas.

 

Quando estava apática, deixei simplesmente de sentir. Não estava bem, não estava mal. Olhava para a televisão e só me entediava, deixei de querer ouvir música, deixei de querer escrever, de querer ler. As conversas com as pessoas aborreciam-me. Continuei preguiçosa, a querer dormir mais do que o normal, mas também não me chateava por acordar cedo. Continuei a trabalhar, continuei a sorrir - ainda que de forma mais oca -, continuei aparentemente a ser eu, ainda que sem o meu "eu" dentro de mim. Sim, a verdade é que passei a fazer coisas sem nexo e sem qualquer qualidade - jogava jogos estúpidos desde manhã até à noite, apenas para passar o tempo. Passei a olhar para os meus e a questionar-me se sentia alguma coisa. Deixei de querer discutir, coisas que anteriormente me irritavam deixaram de irritar. Sim, eu deixei de sentir coisas, de desejar coisas, é como se a minha alma tivesse tirado férias.

 

Porquê tudo isto, agora?

 

Faz hoje 8 dias que um amigo desapareceu e se tentou suicidar. Tudo foi diferente desta vez, e foi isso que nos assustou a todos. Deixou de se lamentar, não desabafou com ninguém, não pediu ajuda... Nada de mensagens tristes no facebook, nem de discursos incoerentes nas conversas com os amigos. Simplesmente desapareceu... deixando apenas duas cartas de despedida. Sim, toda a gente saiu em desespero à sua procura. Entretanto, deve ter caído em si e voltou a casa. Mas... não chorou, não parecia desesperado. Olhei para ele e vi um corpo só, não senti qualquer alma, qualquer sentimento, qualquer desejo. 

 

Sim... continuo a achar que quando a nossa alma vai de férias é pior do que quando a nossa alma está triste... E deixo-vos com uma música que diz muito sobre a depressão de uma forma diferente do normal.

 

 

A Mula informa - Depressão pós-parto

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Hoje, dia 10 de Outubro, é o Dia Mundial da Saúde Mental e como aqui a Mula não fala só de baboseiras, até porque a Mula também sabe umas coisinhas interessantes, vou-vos falar de um assunto muito sério, que afecta 10 a 20% das mulheres em todo o mundo, a depressão pós-parto (DPP).

 

Diz-se no senso comum, que a depressão é um problema da classe média-alta, que por ausência de preocupações reais, deprime. Diz-se ainda por esses autocarros fora, que quem tem de trabalhar todos os dias de sol a sol, não tem tempo para ter depressões. A verdade é que se diz muita coisa, porque infelizmente as pessoas podem dizer o que bem quiserem, mesmo quando não fazem ideia das parvoíces que saem boca fora. Digam o que disserem, a depressão, com todos os seus contornos, é uma doença em crescimento que afecta milhões de pessoas em todo o mundo e que pode ter as mais variadas origens.

 

Como sabem, eu escrevo muito, e como tal, se eu fosse a escrever sobre a depressão de uma forma mais abrangente não sairíamos daqui. Decidi por isso, e numa altura que o meu relógio biológico berra, focar-me só e apenas na DPP, que foi uma das minhas grandes "especialidades" no segundo e terceiro ano da faculdade.

 

Por isso preparem-se, e se estiverem com pressa, o melhor é nem começarem a ler... espera-vos um longo texto informativo.

 

 

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.