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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Uma questão que me coloca os nervos em franja...

... Literalmente!

 

 

Gosto tanto da minha franja... Ainda mal me despedi dela e já tenho saudades. Estou por um triz, um trizinho de lhe dar com a tesoura, bem forte, e voltar a ter franja outra vez. Dá-me um ar de miúda pequena que eu adoro, para além de esconder a maldita testa brilhante - típica de quem tem pele oleosa - e as sobrancelhas que odeio tirar. Mas meti na cabeça que acho que as entrevistas não estão a correr bem por isso mesmo, por ter um ar demasiado de miúda. O Mulo diz que isso não pesa, que está no meu currículo que tenho quase 30 anos e que é isso que é válido, que é só uma franja. Mas não estou a conseguir ver as coisas dessa forma e por isso tenho ido a entrevistas com um ar mais graúdo e com uma franja de me colocar os nervos em franja, claro. Talvez esteja só a tentar arranjar culpados e é tão mais fácil culpar a minha franja que a minha falta de competência. Mas pronto, culpo-a, não há nada que eu possa fazer.

 

Por isso já sabem qual será a primeira coisa que vou fazer assim que arranjar trabalho. Ó se sabem! Volto a ser franjinhas outra vez e assim tirar a franja dos nervos e os nervos da franja.

 

Salvem o Passadiço do Paiva...

... das mãos dos desgraçados que acham que Portugal é Lisboa e Porto, eventualmente Coimbra e Faro, e Passadiço do Paiva!

 

No dia anterior à reabertura do dito cujo, faço um pequeno aviso:

 

Gente, em Portugal há todo um mundo natural belo, de norte a sul do país, não é preciso irem todos para o mesmo sítio, e já não há paciência para voltarmos ao bombardeamento de fotos do mesmo sítio! Sejam mais originais por favor!

Depressão & Apatia

depressão e apatia.jpg

 

Mais do que um estado, a depressão é uma forma de sentir, uma forma de sentir que se vive, que se respira... Já aqui falei, muito levemente, sobre isso, mas posso dizer-vos que já passei por um estado depressivo bastante mau, e já experimentei um outro lado: a apatia. A falta de felicidade e tristeza. Posso dizer, hoje que estou bem, estável e minimamente feliz, que é bem pior a apatia, a ausência de sentimentos, a ausência de opiniões e desejos que a depressão.

 

Eu quando estava deprimida, chorava o dia todo. Chorava a ver filmes de comédia, chorava enquanto comia, chorava enquanto dormia... E dormia muito... Tanto, tanto, tanto! Dormia de dia, dormia de noite. Cancelava compromissos às 16h porque simplesmente não me apetecia levantar. Mas tinha desejos. Ainda que esses desejos fossem maus, bastante maus, pensava em coisas, tinha vontade de fazer coisas, ainda que essas coisas fossem más. Continuava a querer ouvir música, ainda que triste, a querer ver televisão, ainda que só filmes deprimentes. Mas sentia coisas. E sentir coisas é muito importante. Continuava a olhar para os meus amigos com carinho, para a minha mãe com carinho, para o meu namorado com carinho. Continuava a apreciar um abraço, talvez mais do que nunca. Continuava a adorar um beijo longo e demorado, talvez mais do que nunca. A verdade é que sentia coisas, e é bom sentir coisas.

 

Quando estava apática, deixei simplesmente de sentir. Não estava bem, não estava mal. Olhava para a televisão e só me entediava, deixei de querer ouvir música, deixei de querer escrever, de querer ler. As conversas com as pessoas aborreciam-me. Continuei preguiçosa, a querer dormir mais do que o normal, mas também não me chateava por acordar cedo. Continuei a trabalhar, continuei a sorrir - ainda que de forma mais oca -, continuei aparentemente a ser eu, ainda que sem o meu "eu" dentro de mim. Sim, a verdade é que passei a fazer coisas sem nexo e sem qualquer qualidade - jogava jogos estúpidos desde manhã até à noite, apenas para passar o tempo. Passei a olhar para os meus e a questionar-me se sentia alguma coisa. Deixei de querer discutir, coisas que anteriormente me irritavam deixaram de irritar. Sim, eu deixei de sentir coisas, de desejar coisas, é como se a minha alma tivesse tirado férias.

 

Porquê tudo isto, agora?

 

Faz hoje 8 dias que um amigo desapareceu e se tentou suicidar. Tudo foi diferente desta vez, e foi isso que nos assustou a todos. Deixou de se lamentar, não desabafou com ninguém, não pediu ajuda... Nada de mensagens tristes no facebook, nem de discursos incoerentes nas conversas com os amigos. Simplesmente desapareceu... deixando apenas duas cartas de despedida. Sim, toda a gente saiu em desespero à sua procura. Entretanto, deve ter caído em si e voltou a casa. Mas... não chorou, não parecia desesperado. Olhei para ele e vi um corpo só, não senti qualquer alma, qualquer sentimento, qualquer desejo. 

 

Sim... continuo a achar que quando a nossa alma vai de férias é pior do que quando a nossa alma está triste... E deixo-vos com uma música que diz muito sobre a depressão de uma forma diferente do normal.

 

 

A Mula e a Meo!...

Ou deverei dizer... a mula da meo?

 

Ontem estava em casa sem nada de mais útil para fazer, e decidi ligar para a linha de apoio à sanidade mental com o slogan ligue são, desligue insano, mais conhecida pela linha de apoio técnico meo.

 

Há já alguns dias que verificava uma lentidão excessiva na internet cá de casa, e com dois computadores ligados ao mesmo tempo, a coisa estava a ficar pior, e ontem que até nem estava muito bem disposta - não há melhor altura para ligar para esses locais - decidi assim tentar perceber o que se passava.

 

1ª Chamada:

A miúda atende, com voz trémula, explico-lhe que apesar de ter um serviço de 30mbps contratados, a velocidade fazia lembrar os antiguinhos modems de 56kbps e que isso me estava a tirar do sério. "Vou verificar" disse com convicção. Após ter pedido umas 50 vezes para aguardar mais um momento, e após 10 minutos de espera, regressa dizendo-me que tinha que ligar com outra linha, que "afinal, não é" do seu departamento. Desbocada e impulsiva como sou, a única frase que ocorreu foi "Foram precisos 10 minutos para me dizer que não era nada consigo????". A miúda atrapalhada lamenta, e despede-se cordialmente como se nada se tivesse passado.

 

[Enquanto prosseguia com a segunda chamada, recordei-me da minha primeira chamada, no meu terceiro ou quarto dia, de trabalho em call center. Era uma chamada simples, a senhora apenas queria saber qual o número a ligar para ser esclarecida sobre a sua facturação e eu com os nervos não percebi nada da pergunta e demorei para aí uns 15 minutos até lhe conseguir fornecer um número de apenas 5 algarismos. Senti-me, assim injusta com a miúda de voz trémula que, poderia ser simplesmente o seu primeiro dia de trabalho, e eu fui uma das muitas pessoas incompreensivas. Ou então, não é nada disto, e a miúda não tinha apenas jeito para a coisa.]

 

2ª Chamada:

Como a miúda de voz trémula não conhecia o conceito de transferência de chamada, lá tive eu de voltar a ligar, desta vez para um outro número, que é a mesma coisa que voltar para trás de uma fila de espera de um mesmo departamento, mas numa janela ao lado. Voltei a explicar toda a situação, e cada palavra que proferia, sentia cada vez menos paciência e cada vez mais tensão na voz. "Vou verificar" ouço uma vez mais. Desta vez a menina já não parecia caloira, e soube dirigir a conversa, disse ter feito uma série de testes inconclusivos à minha ligação, e que teria de transferir a chamada para um outro colega que "com certeza irá conseguir perceber o que está a acontecer.". Fui assim transferida.

 

3ª Chamada:

Felizmente a colega anterior, como prova da sua experiência e sabedoria, transferiu explicando a situação ao colega, e poupou-me a uma nova explicação. Parecendo que não, isto deixou-me bastante mais calma. O  moço, que não deveria, como eu, ter nada mais interessante para fazer, esteve quase uma hora comigo ao telefone, mandou-me fazer tudo e mais alguma coisa ao router lá de casa, indicando-me que verificava realmente uma anomalia qualquer na rede, mas que após "todos estes procedimentos, a situação deverá ser ultrapassada". Apesar de ter contratados 30Mbps estava apenas a conseguir 11mbps, o que é uma diferença enorme. Após liga cabo, desliga cabo, liga modem, desliga modem, troca cabo, destroca cabo. A velocidade da internet retomou à normalidade... mas apenas no computador do Mulo. "Melhorou, realmente melhorou, mas no meu continua um pouco retardada..." riposto. Mais teste aqui, mais teste ali, conclui-se que o problema também estava no meu computador. "Como no meu computador???? Ele nunca deu problemas....!". Explicou-me em termos técnicos, coisas que eu lá fui compreendendo, e realmente a explicação tinha lógica. Não tive outra solução, se não resignar-me.

 

Tal como uma mãe não admite que digam mal dos seus filhos, eu não admito que digam mal das minhas coisas, mas tive que me render às evidências. O meu computador tinha uma doença qualquer, e estava-me a desiludir. O moço, muito atencioso, e experiente, disse-me uma linha para a qual eu poderia ligar para obter apoio informático, informando-me de todos os custos. Após saber que teria um custo de 45 cents por minuto, meti pés ao caminho, que mais do que preguiçosa, sou poupada, e comecei a investigar o que poderia ser. Após testes, testes e mais testes, que eu própria apliquei ao meu filho tecnológico, lá compreendi, que o problema não estava no meu computador, mas no browser em si. Aiiii Google Chrome que já foste tão jeitoso e agora me andas a deixar ficar mal...

 

Mas eu sou bastante paciente e lá encontrei uma ajuda que me permitiu reconfigurar totalmente o cromo do chrome e apesar de não conseguir os 30Mbps que o Mulo alcança, já consigo uns bons 20Mbps, o que já me deixa bastante feliz.

 

Pelo  meio ainda descobri que...

Que devido a uma alteração de titularidade de um dos contractos que estavam no nosso nome - tínhamos dois - que nos alteraram os dois contractos, e que agora não temos nenhum no nosso nome... Apesar de garantir que a meo já tinha assumido esse erro, o moço garantiu que o processo já tinha sido fechado, e que não nos tinha sido dada razão, apesar de termos o contracto assinado de alteração APENAS PARA UM dos contractos, nada tendo sido feito relativamente ao outro... O moço acrescenta que não entende o motivo de não terem corrigido a situação e aconselha deslocação novamente à loja para resolução do problema.

  

O que é que podemos concluir com estas três chamadas e a nova descoberta? Que há bons e maus profissionais em todo lado, que às vezes só temos que ter paciência com quem está aprender, e que há muitos cabrões em backoffice, que não perdem se quer dois segundos a olhar para os documentos que lhes são facultados.

 

E é isto... por hoje!

Até amanha*

Saudades...

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Hoje dei por mim com saudades do tempo da faculdade, das fitinhas azuis e rosa que orgulhosamente exibia na minha negra pasta, dos colegas e amigos com que diariamente convivia. Fiquei com saudades das aulas de psicologia e de análise de intervenção psicossocial, e lembrei-me que não tenho saudades nenhuma das aulas de sociologia das organizações nem de educação de adultos.

 

Tenho saudades da correria entre as aulas em diferentes pisos, da sopa com a sandes de pasta de atum no intervalo das 19h30. Tenho saudades do chocolate quente das 22h30 e das pessoas que me acompanhavam. Tenho saudades dos cânticos da tuna.

 

Não tenho saudades de ver os pobres caloiros humilhados nos corredores de orelhas cabisbaixas enquanto lhes gritavam e lhes ordenavam coisas. Mas tenho saudades das conversas parvas e de "gaja" que tínhamos em frente aos poucos rapazes - 2 - que nos acompanhavam. Tenho saudades, das resmungonas do bar, dos lanches mistos que vendiam.

 

Não tenho saudades das orientações de estágio, que mais nos desorientavam. Não tenho saudades de chegar molhada no inverno e sair às 24h ainda com os pés molhados. Não tenho também saudades das geladas salas, nem dos bichos que sempre invadiam as salas. Mas tenho saudades de estar numa aula apenas a rabiscar, ou de ficar no bar, porque simplesmente estava sem paciência.

 

Tenho saudades de apresentar trabalhos e fazer pesquisas sobre assuntos que nunca ouvi falar. Tenho saudades de quando elogiavam o meu trabalho e me davam os parabéns pelas boas explicações. Não tenho saudades das frequências que nunca dá para demonstrarmos o que realmente valemos, nem dos exames, que nunca conheci, mas que afligiam os meus colegas.

 

Tenho saudades do meu último estágio, dos "meus meninos" que para trás deixei, por cobardia de me apegar demasiado. Tenho saudades das tardes passadas na biblioteca, com uma das que ainda hoje é, a minha melhor amiga. Tenho saudades dos jantares que organizávamos e nos juntávamos todos para dizer mal da outra turma. Tenho saudades das aulas de teatro e das peças que fomos realizando ao longo do primeiro ano.

 

Tenho saudades de muita coisa, e nenhumas saudades de outras tantas coisas. Mas foram três anos maravilhosos. Três anos bem aproveitados, ainda que cansativos. Três anos que nunca mais vão regressar, mesmo que eu regresse, um dia, à faculdade.

 

Este ano tentei voltar a entrar, mas fui recusada no mestrado com que sonhei, todos me diziam que com a minha média entrava sem dificuldades, e quando me candidatei já fui recebendo os parabéns. Sou a prova viva de que não se deve deitar os foguetes antes da festa, nem esperar demasiado. Afinal a minha boa média, não era assim tão boa. Afinal a minha facilidade de ingressar num mestrado não foi assim tão fácil, ou difícil, não foi simplesmente.

 

Afinal a vida não é apenas desejar e ir em frente, às vezes existem barreiras que não são possíveis contornar. Afinal, tenho que ter mestrado para trabalhar na área que pretendo, mas tenho que ter experiência para ser admitida no mestrado, como se contorna uma bola de neve em avalanche?

 

Tenho saudades da simplicidade. Do tempo em que não havia entraves. Do tempo em que apenas dependia de mim... Tenho saudades de ver uma luz ao fundo de um túnel... só que o túnel foi apanhado na avalanche e já não há luz visível, e provavelmente sem saída possível...

 

Tenho saudades de ter esperança e de acreditar que era possível. Para o ano voltarei a tentar, mas...

 

Acordei nostálgica... só e apenas isso...

À estrelinha lá do céu...

Sei que sempre estás perto de mim. Sinto-te sempre perto de mim. Por isso sei que onde quer que estejas, sei que estás a olhar por mim.

 

Sei, e sempre soube, que nunca fui a tua preferida, mas também sei que fui a única que nunca te desiludiu.  Esforcei-me por ser aquilo que querias que fosse, só porque foste a única que acreditaste em mim. Quando recebi a notícia de que finalmente tinha entrado na faculdade, eu não sabia ainda, mas foste a única pessoa que realmente apreciou, e que me apoiou... pena que tivesse sabido disso, demasiado tarde. Não pude agradecer...

 

Peço-te desculpa se em tempos não tive a paciência que merecias que tivesse tido... mas era uma miúda, não tinha paciência para ti nem para ninguém, era um problema de fundo! Ainda não sabia que as pessoas de quem gostamos não são eternas. Entretanto aprendi. Tu, infelizmente, ensinaste-me.

 

Eu não me consegui despedir... eu tentei ir mais cedo, mas cheguei tarde de mais. Chegamos todos tarde... A verdade é que ninguém sabia que estaria a chegar a tua hora. Estavas a melhorar, era o que os médicos diziam... estavas fora de perigo, e irias ter alta brevemente, era o que os médicos diziam... Mas não quiseste ficar mais por cá, não quiseste ou não pudeste, o que para nós é quase a mesma coisa... Sabias que toda a tua família se estava a desmoronar... filho por filho... e não quiseste ficar cá para ver... A minha mãe sente que morreste de desgosto, e se calhar até é verdade. Mas espero que agora, aí onde quer que estejas, compreendas tudo de uma forma mais abrangente, e não abandones nunca esta família que tanto precisa de ti. Porque todos precisam, como eu, de ter uma estrelinha lá no céu que olhe por nós...

 

E faz hoje, cinco anos que partiste. Partiste da terra, mas estarás sempre nos nossos corações. Estarás sempre no meu coração.

 

Avó, descansa em paz!

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.