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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Diário de uma desempregada #6

#1 Desemprego 2020

 

 

O mercado de trabalho está pelas horas da morte, mas disfarçado de bom samaritano: Anúncios há imensos, acho que nunca, noutras situações de desemprego por que passei, respondi a tanta oferta em tão pouco tempo mas...

 

Desde que estou desempregada, há pouco mais de um mês, já respondi a cerca de trinta anúncios. Destes trinta anúncios, uns cinco responderam a dizer que encontraram alguém com um perfil mais adequado, um ligou-me para uma entrevista, e os restantes vinte e quatro caíram num tal buraco negro cuja resolução se desconhece...

 

Vejo, inclusive, os mesmos anúncios vezes sem conta e tempos mais tarde, a serem republicados, o que me leva a acreditar que os recrutamentos estão suspensos. E isso não me choca, tenho noção que é das piores alturas, de sempre, para se ficar desempregado, porque como eu, infelizmente, muita gente. Demasiada gente. O que não entendo é como é possível a existência de tantos anúncios e tanta ausência de resposta...

 

Parece que o mercado de trabalho nos quer transmitir esperança.... Apesar de apenas nos devolver desesperança...

Sabem qual é...?

A diferença entre o desemprego e o divórcio?

 

São dois acontecimentos negativos na vida de uma pessoa mas...

 

Já pensaram?

 

Escrevam o vosso palpite nos comentários, antes de lerem o restante, e depois voltem cá para ver se estamos de acordo.

 

 

Já comentaram?

 

 

Hmmm... Vamos lá ver então.

 

 

A diferença está no que acontece a longo prazo. Ou seja, a longo prazo, no divórcio, aprendemos a estar sozinhos e cada dia que passa é cada vez mais fácil a nova condição. E dentro de um ano, dois, três, somos livres e felizes. Já no que toca ao desemprego... À medida que o tempo vai passando vai ficando cada vez mais difícil de aguentar. Se nos primeiros dias - até ao primeiro mês vá - até nos pode saber bem, tiramos umas férias, pomos as leituras e as séries em dia, após o primeiro mês começamos a desesperar e então se ficarmos um ano, dois ou três sem encontrarmos nada a probabilidade de termos de ir morar para debaixo a ponte aumenta exponencialmente e cada vez estamos mais presas porque não temos liberdade financeira para viver...

 

Ou seja, e resumindo, a longo prazo o divórcio liberta e o desemprego aprisiona.

 

Concordam? Sim, não, talvez?

Dizem que o desemprego é grande...

... Mas a empresa onde trabalho tem imensas dificuldades em recrutar. E não, não é porque é demasiado exigente, é mesmo porque não há candidatos e os que se candidatam... descandidatam-se!

 

Por isso é que, sinceramente, muitas das vezes não acredito no desemprego de longa duração de pessoas jovens nas cidades. Acredito mais rapidamente no desinteresse de longa duração pela procura de trabalho fora das áreas em que as pessoas estudaram, isso sim.

 

O meu departamento está a precisar de reforço desde há uns meses para cá. Colocaram um anúncio e pediam alguém que falasse línguas. Quase não houveram candidaturas. Das que houveram, lá selecionaram duas pessoas. Nenhuma apareceu para formação. Uma pessoa disse logo mal foi escolhida que já não estava interessada, e a segunda pessoa esperou que o primeiro dia da formação chegasse para dizer que afinal já não ia. 

 

Colocou-se um segundo anúncio, esquecendo a questão das línguas porque pelos vistos era isso que estava a provocar ausência de respostas. Aqui já houveram mais alguns candidatos. Deu-se formação a duas pessoas e um mês depois uma dessas pessoas já desapareceu. Num dia estava a trabalhar e no outro dia... Puff! Desapareceu. Não mandou uma mensagem a avisar que não ia mais, não atendeu chamadas, não respondeu a ninguém. Nada de nada. Não fossem as redes sociais e achávamos que a moça tinha morrido. Não, a moça é apenas irresponsável.

 

E é assim que no espaço de mês e meio a empresa onde trabalho lança o terceiro processo de recrutamento.

 

Ai Mula a empresa onde trabalhas deve ser mesmo horrível!

 

Não é! Não é, de longe, a empresa com os melhores salários, mas as regalias são boas, o ambiente é bom, o trabalho, apesar de stressante, não é complicado. As instalações são boas, tem boas comodidades, boas acessibilidades. E caramba, até tem bons colegas sempre prontos a ajudar, ou não fosse a Mula uma dessas colegas.

 

E é assim... Pode não estar fácil para os funcionários, mas pelos vistos também não está fácil para os patrões...

 

Nas empresas onde vocês trabalham também acontece o mesmo?

Diário de uma Desempregada #5 O que 2016 tira, 2017 devolve?

 

Fiz planos para este desemprego. Imaginei-me a descansar um ou dois meses há muito tempo, porque efetivamente o desemprego apesar de ter vindo de um dia para o outro, não foi inesperado, estava há mais de um ano há espera disso, que eu ainda sei fazer contas e ver que a loja estava em decadência, em total queda livre há mais de um ano.

 

Fiz planos para ir para o ginásio, ler muito, descansar ainda mais.

 

Mas os planos saíram-me furados. Imaginei-me a reunir forças para encontrar o meu emprego, aquele que verdadeiramente me iria satisfazer. Com subsídio teria tempo para procurar algo dentro da minha área, quiçá. Trilharam-me o caminho. Deram-me maçãs envenenadas. O desemprego sem subsídio ou indemnização, a operação do Mulo, a minha guerra com quem se acha mais poderoso do que Deus. Nada ajudou. Estive três meses em casa, é verdade, mas também é verdade que as preocupações foram mais que muitas. A falta de dinheiro, a falta de uma data para que as coisas ficassem resolvidas, a falta de paz. Descansei o físico, a mente essa está mais trilhada que um dedo numa porta. Imaginava que ia ter um desemprego mais ou menos tranquilo, dentro do que é possível ser tranquilo. Mas foi totalmente o oposto. Foi uma verdadeira luta contra o tempo.

 

Imaginei-me com um rendimento mensal, qual parasita, para finalmente poder dedicar-me à procura do meu emprego de sonho, ou pelo menos de um que mais se aproximasse do meu sonho. Estava enganada, como sempre estou. Sem mais rendimentos, que remédio tive senão colocar os pés ao caminho, procurando indiscriminadamente por algo que pudesse pagar as minhas contas, e fui bater às portas com um currículo novo, a estrear.

 

Entrevistas tive várias. Cada entrevista que ia, uma nova esperança. Eu queria um trabalho de sonho, mas passei apenas a querer um trabalho, um qualquer, um que me pudesse voltar a levar e orientar-me. Eu já só queria um trabalho que me pudesse antecipar ao caos. Arranjar um emprego antes que o bolso da poupança fosse fundo tão fundo... Fundo e roto. Acreditem que é pior o impasse, o vai ou não vai, do que um emprego que não nos faz feliz, porque acima de tudo eu sou mais feliz com um emprego que não gosto mas com dinheiro no bolso, do que em casa de bolsos vazios. Não fui feita para ter os bolsos vazios de forma alguma, logo eu que tenho uma Tio Patinhas dentro de mim. Até posso ter sido feita para ser dondoca e não fazer nada, estendida no sofá, mas não fui feita para estar de bolsos vazios. 

 

E finalmente falo-vos olhando para o passado não para o futuro.

 

Passado: estive desempregada.

Presente: já não estou mais.

Soubessem vocês a vontade que eu tinha de escrever este texto!

 

Não é o meu trabalho de sonho, não é nem na minha área, nem é dentro do que eu efetivamente procurava. Mas sabem que mais? Sabe como se fosse! Parece-me uma boa empresa, é dentro do estilo, bem remunerado, oferecem boas condições, o horário é muito bom, a equipa parece porreira, e é no fundo mais do que eu poderia desejar neste momento. Por isso estou tão feliz! Estou tão feliz!

 

Por isso olhem esta rubrica Diário de uma Desempregada chegou finalmente ao fim, com grande alegria minha! Porque felizmente o que 2016 tirou, 2017 devolveu!

 

Já estou a trabalhar e por isso peço-vos: Tenham paciência comigo que esta fase nova é capaz de demorar um pouco e o blog irá entrar quase em auto-gestão!

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.