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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Chocam-me os que assistem e aplaudem...

Muito mais do que os que insultam, dos que os que batem, do que os que acusam e humilham.

 

O assunto está na moda uma vez mais, fala-se nas televisões, fala-se nos blogues, fala-se na vida real. Mas vou falar-vos hoje do que mais me choca nesta coisa da violência, do bullying e da humilhação pública.

 

Quando vejo um vídeo em que a pessoa A está a ser agredida pela pessoa B, o que me choca não é a agressão. O que me choca são os que filmam, os que gritam yeahh, os que se riem. Chocam-me porque não são tão maus quanto julgam - uma vez que não estão oficialmente a bater, a agredir, a insultar - mas são muito piores do que aparentam ser. São impermeáveis ao sofrimento do outro, são cruéis porque não ajudam e ainda aplaudem, são tão ou mais monstruosos do que os que praticam o acto. São o que eu chamo de agressores passivos. 

 

Agressor não é apenas aquele que insulta, que grita, que acusa e faz chacota. Agressores são todos aqueles que dizem amém, que se calam, que aplaudem e dizem "gostei muito" e "concordo contigo" e "és um espectáculo por seres assim, gostava de ser como tu".

 

Chocam-me as pessoas que não distinguem a causticação do crime, o sarcasmo do bullying, a frontalidade da má educação.

 

 

Assim sendo, e de acordo com recentes aprendizagens:

  • O homem que humilha a mulher; que a espanca; que a reduz a uma insignificância ainda maior que a da formiga, é caustico.
  • O homem que vai dizer para o café que a mulher é uma nulidade, que é uma porca e uma imbecil, é frontal.
  • O homem que anda com outras mulheres e que diz umas piadas à frente da mulher sobre traição, é sarcástico.

 

É isto que eu apreendo minha gente! É isto que me ensinaram à pouco tempo nisto dos blogs. Aprendi também que, não existe bullying: existe frontalidade, sarcasmo e causticidadee que a isso se chama liberdade de expressão, que é basicamente poder dizer-se toda a merda que apetecer mesmo quando isso afecta terceiros inocentes. Só e apenas porque sim! E viva ao 25 de Abril de 1974!

 

Ora admitam lá... Sou uma boa aluna, hem?

 

Ensinaram-me isto, mas a realidade é bem diferente. O termo violência não diz respeito apenas ao uso e abuso da força física. Violência é também usar do poder da palavra para ameaçar, humilhar e isolar alguém. Gozar alguém é violentar esse alguém, mesmo que nunca se toque num único fio de cabelo e que nunca se venha a conhecer a pessoa fisicamente.

 

Concordarão a maioria de vocês com as minhas palavras. E, por isso, sabem o que me choca ainda mais?

 

É que alguns de vocês, mesmo sem querer e sem ter essa noção, pactuam com esses comportamentos. O meu olhar atento sobre a vida tem-me permitido perceber que pessoas que aparentam ser íntegras, que se auto-insurgem contra o bullying e contra todo o tipo de violência, acabam por ter comportamentos contraditórios.

 

Pessoas que quando lêem noticias deste género...

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 ... Têm discursos deste género:

  • "Mas e então, e ninguém fez nada?"
  • "Ninguém foi capaz de denunciar esta situação?"
  • "Cabrões dos miúdos que hoje em dia são uns mal-educados, aquilo é tudo falta de porrada no lombo".

 

Mas são avistados, aqui e a li, a pactuarem com situações do género, ou por fecharem os olhos e fingirem que não vêem, ou por sorrirem de forma mais ao menos camuflada perante alguma situação, ou ainda por aplaudirem descaradamente cada comportamento.

 

Entendam que o que para muitos trata-se apenas de uma brincadeira - ainda que de mau gosto - para outros é uma cruz que passam a carregar. A cruz da vergonha, a cruz da inibição, a cruz do temor. Se ao olhos de muita gente é divertido gozar com alguém porque é gordo, ou porque tem um andar esquisito, ou porque só diz coisas parvas, aos olhos de quem sofre calado as agressões, a história é bastante diferente. Saberão vocês o que as pessoas sentem ao serem perseguidas? Ao serem gozadas? Ao serem ridicularizadas com sarcasmo, causticidade e muuuita frontalidade?

 

Lembrem-se de uma coisa... Gostava mesmo que retivessem o seguinte com muita, muita atenção:

 

Mesmo que não gostemos de alguém, mesmo que esse alguém nos irrite - apesar de nunca nos ter feito mal algum - mesmo que só a existência dessa pessoa nos faça revirar os olhos,  apontar sempre o dedo ao mesmo ceguinho é perseguição. Pactuar com o apontar do dedo ao ceguinho é perseguir também. E perseguição é crime.

 

Não pactuem! Mesmo que a pessoa não vos diga nada ajudem-na a levantar-se, até porque hoje são elas, amanhã serão vocês, que essa gente não é de ideias fixas!

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.