Recordam-se desta pessoa? Pois que esta personagem voltou a cruzar-se na minha vida, desta vez não se ajuntou a mais eu no balneário, mas cruzou-se comigo na fila para Pilates.
Estou eu à espera para entrar na sala, tranquila da minha vida, provavelmente a rir-me para o telemóvel, quando de repente a mulher chega e diz assim para quem está na fila: "Então, quem vai dormir hoje?". Zero respostas. Estávamos umas 15 pessoas na fila e zero respostas. Todas a olharam com desdém, ninguém respondeu. Levanto os olhos do telemóvel para perceber o que quereria ela dizer e ela acrescenta: "Sim, quem é que vai dormir hoje na aula? É que esta aula é assim mais calminha, é assim mais para relaxar não é?"
Já não é a primeira vez que ouço este tipo de comentários sobre estas aulas, em todos os ginásios por onde passei a premissa de que pilates é para dormir era uma constante, e eu, como não poderia deixar de ser, parto sempre em sua defesa. Pensei em voltar a colocar os olhos no telemóvel, ignorar simplesmente, mas não consegui, foi mais forte que eu. Digo assim meia ríspida - espero que o revirar de olhos tenha sido apenas mental - "quem adormece em pilates é porque não está a fazer alguma coisa bem, pelo menos eu não consigo dormir enquanto estou em sofrimento!". A mulher ri-se, o professor chega, e entramos todos.
Não sei se o professor ouviu, se já era o que tinha planeado - as aulas com este PT são sempre bastante intensas - mas a verdade é que a aula foi toda ela muito dura. Muitas insistências, muito corpo em desequilíbrio, muitas isometrias. De repente, no silêncio da sala, a meio da aula ouve-se essa mulher a dizer "ai, que isto é muito difícil!", apeteceu-me dizer-lhe que era difícil porque se tinha esquecido do travesseiro em casa e que o chão era um pouco duro, mas ri-me apenas para dentro, de nervoso, e continuei, uma vez mais, ninguém respondeu.
Eu sei que o karmais only a bitch if you are, mas sejamos sinceros... As pessoas também não me ajudam, e se por cada revirar de olhos meus me cair um grão de areia em cima, não tarda estou enterrada!
Ou como se costuma dizer: Há males que vêm por bem.
Já faço pilates há alguns anos, com muitos anos de interrupção, claro, mas comecei a fazer pilates no primeiro ginásio onde andei, em 2013. Já fiz várias aulas todas muito diferentes com professores muito diferentes. O meu primeiro professor de pilates foi um muito conhecido da nossa praça: Mauro Maschkvich. Foi com este professor que aprendi a adorar pilates, e foi depois com a professora Cláudia, em pilates com bola, que comecei evoluir um pouco mais, uns meses mais tarde. Durante muito tempo baldei-me das máquinas e da passadeira. Durante muito tempo eu ia ao ginásio fazia pilates e vinha embora. Faz maravilhas pelas minhas costas e pelo meu sono. Só deixei de ir porque os horários tornaram-se incompatíveis.
Por entre estes dois professores tive mais uns quantos que não gostei. Não gostei o suficiente e nem memorizei os nomes. Tive uns que percebiam da técnica mas simplesmente não sabiam cativar os seus alunos. Outros que tentavam ser simpáticos mas que tinham muito pouca técnica. Com o tempo fui-me tornando um pouco mais exigente. Cheguei inclusive a desistir do segundo ginásio onde andei porque não tinham professores de pilates de jeito e a verdade é que é uma das modalidades que mais me leva a não desistir e a fazer um esforço extra para ir, mesmo naqueles dias em que o que apetecia mesmo era ir direta do trabalho para o sofá.
Quando me inscrevi no ginásio atual, inscrevi-me porque uma vez por semana eu iria conseguir ir a pilates. Já era alguma coisa. E como já vos falei algures por aqui, segundas-feiras são dias de pilates, faça chuva ou faça sol. Fiquei surpreendida quando vi quem era o professor que dava pilates neste ginásio às segundas-feira à noite, já tinha sido meu professor de cycling e de power jump, não o imaginava numa aula tão zen. Confesso que fui à aula um pouco cética e já com aquele feeling de que não iria gostar. Não podia estar mais enganada. Adorei.As aulas eram equilibradas com exercícios mais simples e outros mais exigentes e o carisma do professor ajudava claro à sala sempre cheia. Claro que as aulas do professor Mauro e da professora Cláudia sempre deixaram saudades, mas estava bem servida.
Foi por isso com grande tristeza quando ao fim de 3 meses - três meses para mim, tanto quanto sei, já era professor há bastante tempo - o professor anuncia que irá deixar de nos dar aula.Foi o choque total. Saí de lá tão chateada que nem fui às máquinas e vim direta para casa.
Mais chocada fiquei quando na semana a seguir quem deu aula foi um professor que se percebe perfeitamente que não é um professor de pilates. Senti-me numa aula de abdominais, e confesso que já começava a ferver por dentro de nervos. Não gostei nada da aula, para além de que muitos dos exercícios não eram corretamente executados. Começava a despedir-me de pilates no meu interior. É no fundo uma questão de mentalização, mas sabia que com o tempo desistir do ginásio estaria um pé mais próximo.
Eis que lhe dou mais uma oportunidade. Fiquei com esperança que tivesse sido uma aula experimental, para ver o nosso nível... E lá fui eu, assim a medo. Chego, tiro a senha e vejo lá um nome muito diferente, um nome que me soava bem, mas que tive medo de que não fosse a mesma pessoa.
Vou para a fila e eis que entra a professora Cláudia, quatro anos depois num local que nada tem que ver com o inicial!