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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Hoje estou numa de psicanálise... parva, obviamente! #2

Na última psicanálise parva que eu realizei, psicanalisei os clientes, consoante se relacionavam com os produtos que compram. Hoje, decidi analisar os clientes consoante a forma de entrar na loja. Vocês não sabem, mas a forma como caminham e entram nos estabelecimentos quer dizer muito sobre vocês.

 

Diz-me como entras na loja, dir-te-ei quem és.

 

Vamos lá conhecer os espécimes?

 

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➷ Os que entram mudos e saem calados.

Durante algum tempo, na altura em que ainda tinha uma réstia de inocência julguei que estes clientes não eram mal educados mas sim surdos-mudos. Com o tempo fui percebendo que não, que são apenas tímidos, quando entram mudos e saem calados mas que sorriem; ou que sofrem da PDM, quando entram mudos, saem calados, que após o nosso bom dia/tarde/noite viram a cara e fingem não ouvir.

 

No caso dos portadores da PDM, tenho a dizer-vos que são pessoas com uma vida demasiado rotineira e desinteressante e evitam o contacto oral para que ninguém perceba do quão enfadonhos são. Já foram tantas vezes ignorados, que decidiram assumir o controlo da sua vida e passarem a ser eles a ignorar. Uma espécie de psicologia invertida.

 

Os primeiros.... Pronto, são apenas coninhas tímidos, acontece, e temos sempre esperança que evoluam com o tempo. Às vezes apenas evoluem para a segunda forma.

 

 

➷ Os que entram apressados direitos ao balcão, ainda não viram de que é que se trata a loja mas já estão a perguntar se temos determinado produto.

Este é um espécime bastante abundante. Sabem aquelas pessoas que nunca encontram nada em casa, perguntam à mãe, à vizinha e até ao cão onde está A, B e C, a mãe, a vizinha e até o cão respondem "na gaveta de baixo" e dizem prontamente "não está não!" e afinal está. Ou seja em casa, toda a gente sabe onde estão as coisas menos estas pessoas. Eis o espécime que entra apressado a perguntar se temos A, B ou C. Acontece que não lhe serve de nada dar uma volta pela loja e procurar o que pretende, porque nunca vai encontrar e sabem disso. É por isso uma pessoa extremamente bem ponderada e com uma noção de si muito bem formada. É só um espécie altamente despistado, sem que isso signifique a presença de miopia ou estigmatismo.

 

 

➷ Os que vão entrando e já vão perguntando os preços ainda antes de chegarem aos produtos.

Normalmente saem da loja sem comprar nada. São os também chamados de pesquisadores. Não no sentido de querem fazer estudos de mercado acerca dos preços dos produtos, mas para perceber até que ponto as pessoas conhecem os produtos que têm na loja e seus respetivos preços. São altamente irritantes e são os mesmos que no carro vão perguntando: "já chegamos? olha... já chegamos? Olha... ainda falta muito?" A verdade é que são habitualmente desocupados e têm como passatempo irritar os outros, como já perderam todos os seus amigos, vêm para as lojas irritar os lojistas. Este espécime tem ainda o péssimo hábito de perguntar independentemente da pessoa estar disponível ou não, por vezes os lojistas estão ocupados com outros clientes mas eles sobrepõe a sua voz. Tudo isto aponta para uma grande necessidade de atenção. Fazem-no por quererem ser o centro das atenção, habitualmente afastam ainda mais quem os rodeia. Torna-se por isso num ciclo vicioso.

 

 

➷ Os que entram a dizer que "não tem".

São os pessimistas, os negativistas. Estão tão habituados a que nunca lhe satisfaçam devidamente as necessidades que já assumem à partida que assim continuará a ser, e por isso, pela falta de hábito, quando dizemos que temos o que procuram, este espécime arranja sempre um defeito um "mas..." que faz com que nunca seja o que efetivamente procura. É um espécie com uma grande deficiência de autoestima e constantemente se boicota, a si e aos outros, porque recusa a assumir que é ele que tem um problema, mas que efetivamente o universo conspira contra os seres humanos. Devemos, para o bem da humanidade, contrariar este espécime sempre que possível, por forma a criar defesas e a quebrar com ideias pré-concebidas acerca de si e do mundo.

 

 

➷ Os que entram de sorriso no rosto perguntando como nós estamos querendo efetivamente ouvir uma resposta.

Fujam destes clientes como o diabo foge da cruz. Ficarão na vossa loja eternamente - ou só até a amiga/amigo chegar - porque são os saciáveis vulgos psicólogos sociais. Estes espécimes não vêm comprar o que quer que seja, vêm apenas fazer serviço social com os lojistas que se encontram sozinhos e abandonados nas lojas. Normalmente quando existem clientes na loja este espécime não entra, oferecendo os seus préstimos a outros lados. Estes psicólogos sociais são pessoas muito bem resolvidas, no entanto sentem que precisam de fazer algo mais pelo mundo, resultando então no interesse súbito pela vida de outras pessoas. Se virem que os lojistas precisam mesmo desta ajuda prometem e voltar noutro dia -  e voltam mesmo - para falarem como é que a semana ocorreu.

 

 

➷ Os que entra, procuram o que querem, fazem as perguntas necessárias, pagam e saem sem serem excessivamente simpáticos, nem antipáticos.

São os chamados normais... não têm piada serem analisados.

 

 

Lojistas do meu coração: Conhecem outros espécimes que aqui não estejam retratados?

 

Até à próxima Psicanálise Parva!

Hoje estou numa de psicanálise... parva, obviamente! #1

Tenho umas tantas frases e atitudes de clientes guardadas na memória, todas referentes aos produtos que vendo, mas... E se existir algum desejo latente de transpor os sentimentos para outros campos?

 

Seria algo deste género*. Ora vejamos:

 

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➷ "Apaixonei-me por este azulejo, vou deixar aqui de parte e vou dar mais uma volta a ver se gosto mais de outro, entretanto."

Verifico que esta cliente, pela forma como se expressa, tem uma certa dificuldade de se comprometer com algo para a vida. Fala assim do azulejo porque não dá jeito dizer isto aos homens: "gosto de ti, mas vou ver se encontro melhor, fica aí à minha espera para o caso de não encontrar mais nenhum que me agrade.". Conselho da Mula: Minha querida cliente, sempre me ensinaram que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar e se eu estou disposta a guardar-lhe o azulejo por algumas horas - se for caso disso - a verdade é que há tanto peixe no mercado que os homens com as suas perninhas rápidas desaparecem que é um instante. Tenha cuidado.

 

➷ "Estou indecisa... Pode ajudar-me a escolher?"

São normalmente aquelas mulheres que não se comprometem com ninguém sem primeiro mostrar aos amigos e familiares para aprovação. Quando esses círculos próximos aprovam o moçoilo ou a moçoila, são pessoas extremamente decididas optando sempre pelo oposto. Ou seja, se eu digo que gosto mais do anel azul, a cliente acaba sempre a levar o amarelo, e o mesmo pode acontecer com os homens. Conselho da Mula: Caríssima, isso pode originar que alguém lhe fique com o outro homem que rejeitou e depois um dia vai querer regressar para ficar com o outro, mas o mesmo já não se encontra na loja, perdão, disponível.

 

➷ Aquelas que compram por impulso e no dia seguinte vêm trocar ou devolver.

Impeçam estas mulheres de viajar até Las Vegas, porque serão aquelas que conhecerão um gajo numa noite de copos e que casará com ele numa daquelas igrejas duvidosas e sem grande aparato. No dia seguinte irá acordar arrependida e provavelmente não se lembrará tão pouco do nome do marido. São pessoas muito impulsivas e nunca nos podemos fiar verdadeiramente nas suas ações porque rapidamente voltarão com a palavra atrás. Conselho da Mula: Dizem que devemos viver como se o mundo acabasse amanhã mas... A sério não é preciso exagerar. Qual é a probabilidade de acabar mesmo, amanhã?

 

➷ Aquelas que pedem: "Pode reservar-me que eu depois mais logo venho buscar?", mas nunca voltam.

São totalmente o oposto das mulheres anteriores. Têm medo de se precipitar e vão dando as chamadas falsas esperanças para se irem mantendo no mercado e escolherem bem o que pretendem, partilham com as primeiras o medo do compromisso e raramente se chegam verdadeiramente a comprometer. O medo de saírem magoadas fala mais alto e não avançam nas relações. Conselho da Mula: As relações são fodidas. São, efetivamente são. Mas é como as quedas: não passa do chão. Se se magoar, tem dois trabalhos: o de se magoar e o de se curar, mas a vida continua. Não vale a pena sofrer por antecipação, atire-se e goze a vida.

 

 

 

Brevemente há mais...

 

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* Por uma questão prática tive apenas as mulheres em conta neste estudo profundíssimo, já que a cabeça dos homens é ... meia oca, por assim dizer sem ferir grandes suscetibilidades.

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.