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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Turismo no Porto - Quando uma cidade não se preocupa com os seus turistas

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Quem viu o Porto e quem o vê, percebe que o turismo tem aumentado de ano para ano. Quem conheceu o Porto quase deserto, com as ruas pedonais pouco movimentadas, estranha ao ver que o Porto é agora diariamente uma verdadeira romaria. Há quem não goste de ver o Porto com tantos turistas, há quem seja contra, e há quem, como eu, fica feliz com este aumento, porque isso atrai ainda mais pessoas - portuguesas - às ruas, talvez por se sentirem mais seguras. Com o aumento do turismo, a animação de rua que eu tanto aprecio, aumentou também. As ruas são agora mais alegres, têm vida.

 

Em 2014 o Porto ganhou o prémio de melhor destino europeu, promovido pelo European Best Destination. Já um ano antes o Porto estava em alta, e dois anos depois o turismo continua a aumentar. 2015 fica registado na história como o melhor ano de sempre no que respeita ao número de visitantes estrangeiros, tendo sofrido um aumento de quase 17%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, face ao mesmo período de 2014. Acredito que os valores respeitantes a este ano, sejam ainda mais animadores.

 

Com o aumento do turismo, existiu um grande aumento da oferta de lojas de souvenires, de hostels, de restaurantes, e de outros negócios locais de promoção da cultura portuguesa, como as casas de fado, as mercearias gourmet, entre outros. Seria por isso de prever que deveria de existir igualmente um aumento do acompanhamento dos turistas a outros níveis e assegurar-lhes que chegam ao Porto e que estes dispõe de informações sobre a cidade e o apoio necessário à sua estadia, uma vez que estão num país que não é o seu, com uma língua que muitas das vezes não é a sua. No entanto isto não acontece.

 

Como sabem trabalho com turistas, maioritariamente, falo mais inglês, espanhol e francês do que português no meu dia-a-dia, e recebo por isso muitas reclamações da cidade ao nível dos serviços. Não reclamações no verdadeiro sentido da palavra, diria mais desabafos, de quem cá chega e não sabe para onde se dirigir. Felizmente a cidade é pequena, acabam por se conseguir orientar.

 

Então vamos lá começar do princípio, e perceber do que se queixam afinal os turistas no Porto.

 

Ora bem, o turista é "depositado" no centro do porto através de algum serviço de ligação do aeroporto, táxi ou simplesmente através do transporte público. Para conhecer a cidade, e porque o transporte turístico não é acessível a todos - uma vez que o grande público do Porto é o chamado turista de mochila às costas - os turistas querem comprar o bilhete diário do metro que pode ser também utilizado nos autocarros.

 

 

A primeira grande dificuldade:

 

Tirando algumas exceções, as estações de metro são atualmente pouco acompanhadas, raramente existe pessoal de apoio nas estações para os ajudar a tirar bilhetes e pior, muitas das vezes as estações não permitem a compra do cartão andante, porque as máquinas não estão preparadas para emitirem tantos cartões e estes esgotam rapidamente, permitindo apenas recarga daqueles que já possuem o cartão. Acho que é fácil de compreender que se são turistas a probabilidade de terem cartão andante é reduzida. Na estação aqui perto da loja, todos os fins-de-semana é a mesma história: as máquinas não têm troco para dar, estão constantemente com a compra de bilhetes indisponível e não há ninguém que os ajude. Quando nos pedem ajuda, sugerimos sempre que andem a pé até à próxima estação mas... A sério?! Nunca tal me aconteceu em Londres, em Madrid, nem em Milão!... Pior, nessas cidades europeias quando chego a uma estação do metro tenho à minha disposição um mapa da rede de metro que me permite saber para onde ir, como ir, que linhas estão disponíveis, onde se cruzam... Aqui, ou vão a uma estação grande com loja, ou então não há mapas para ninguém. Que se amanhem que a rede não é muito grande.

 

 

Segunda grande dificuldade:

 

Relembro-vos que  nicho de turismo no Porto são os mochileiros, e o que é que pressupõe que os mochileiros tenham? Mochilas, exatamente!... Contrariamente às grandes cidades, como Lisboa, o Porto não está preparado para ajudar os turistas a livrarem-se das suas mochilas. O aluguer de cacifos no Porto é quase inexistente face à procura. Aqui creio que a Câmara do Porto poderia e deveria de intervir. Porque não colocar lockers nas estações do metro? E nas estações de comboio? São Bento já teve, confesso que não faço ideia se ainda as tem ou não, mas Campanhã não tem e é uma estação maior.

 

 

Terceira grande dificuldade:

 

Os postos de turismo escondem-se e de acordo com muitos desabafos, aqueles que existem não possuem pessoal competente que os saibam dar devidamente as informações que necessitam. Faço muitas vezes de posto turismo, ajudo-os a encontrar restaurantes, auxilio-os na compra de bilhetes, na procura de hostels, na sugestão de destinos perto do Porto, o que ver, o que comer, o que fazer. Traçamos-lhes autênticos roteiros nos mapas que eles nos trazem - sim, felizmente nós os três temos esta sensibilidade de ajudar quem por cá se sente perdido -  e sabem o que muitas das vezes nos dizem? Vocês é que deveriam de trabalhar no Posto de Turismo... Lá ninguém se mostrou disponível para nos ajudar... A primeira vez que ouvi isto pensei: Oh lá apanhou alguém mais mal disposto... uma vez sem exemplo. Quando comecei a ouvir estes comentários mais frequentemente comecei a perceber que alguma coisa, realmente, não estava bem. Pelo que me dizem, estão mais preocupados em tentar vender-lhes bilhetes para autocarros e comboios turísticos do que efetivamente em ajudá-los a descobrir o Porto.

 

E assim é a crítica dos estrangeiros que nos visitam: Dizem que temos uma cidade lindíssima, uma cultura fantástica, uma comida divinal, que encontram pessoas fantásticas e calorosas, muito hospitaleiras, que as pessoas nos restaurantes se mostram preocupados, que nos hotéis são muito bem servidos, mas que se sentem desacompanhados quando precisam de ajuda na cidade.

 

Dizem que o turismo ajuda a melhorar a economia... Por isso se calhar está na altura de a Câmara começar a arranjar maneira de tratar melhor os nossos turistas!

A Mula Informa: Livro de Reclamações

E porque já há muito tempo que a Mula não vos informa de nada importante e relevante para que possam seguir mais informados, hoje Na Mula Informa, trago-vos um assunto importante. Vamos falar sobre o livro vermelho dos estabelecimentos: O Livro de Reclamações.

 

O povo português é conhecido por nunca estar bem com a vida que tem e de estar constantemente a reclamar, no entanto, raramente o faz como deveria de fazer. A verdade é que não adianta reclamar para o lado, para o ar e com o vizinho, porque como sempre ouvi dizer palavras, leva-as o vento. [E isto hoje é um post carregado de sabedoria popular, olhem que bem.]

 

Não há nada que me enerve tanto como essas pessoas que são só palavras e nada acções, à espera que alguém faça o trabalho por si. Por exemplo, no dia da Corrida da Mulher em que o comboio vinha largamente acima da sua capacidade, como disse aqui, muita gente estava, obviamente, indignada, e não houve uma só pessoa que não reclamasse. Aposto o meu dedinho mindinho - sem o risco de o perder - que nem um terço daquelas pessoas procederam à reclamação no Livro de Reclamações. Aliás, arrisco-me até mesmo a dizer que nem uma única pessoa se dirigiu à bilheteira, ou ao balcão de apoio ao cliente, e procedeu à devida reclamação formal da situação inaceitável que aconteceu nesse dia. Provavelmente reclamaram apenas aquelas pessoas que pretendiam deslocar-se para o trabalho e não conseguiram entrar no comboio. Provavelmente essas, SE até essas tiverem efectivamente reclamado. 

 

 

Por isso, vamos lá perceber uma coisa de uma vez por todas. Reclamar é no livro de reclamações, é reclamando no livro que as coisas de futuro poderão ser diferentes. É o livro que pressiona as empresas, uma vez que é a única forma de a nossa reclamação, o nosso ponto de vista, chegar às entidades reguladoras. Reclamar com o amigo, com o vizinho e até mesmo com o funcionário não vai modificar nada, a não ser o nosso coração, que ganha mais uma artéria entupida com os nervos. Reclamar é na hora, no local e no livro, sim? Caso não seja possível, por uma questão de tempo, de disponibilidade, reclamarem no imediato, façam-no assim que possível, mas façam-no!

 

Por isso, não façam como na música dos Deolinda, e não se sentem de braços cruzados, à espera que alguém lute por vocês. Exijam os vossos direitos, e saibam que toda a gente é obrigada a fornecer-vos o livrinho vermelho (salvo muito poucas excepções), que caso contrário vocês devem chamar a polícia e participar a recusa da entrega do livro.

 

No entanto, e porque sei que muita gente até tem vontade de o fazer, mas não sabe muito bem como se faz, deixo-vos algumas dicas e informações à cerca do Livro de Reclamações.

 

 

Hoje efectivamente não é o meu dia...

Hoje de manhã não estava na loja para receber a minha encomenda da Showroomprive, pelos CTTExpresso. A caixa vinha danificada e não vinham todos os produtos que encomendei. De acordo com o meu colega, o senhor dos CTT expresso pediu-lhe para ele abrir a caixa para ver se vinha tudo em conformidade, e como a travessa de vidro estava inteira - e o meu colega não fazia ideia que deveria de vir mais um produto - disse que estava tudo correcto. Quando chego à tarde percebo que não estava nada correcto e que me faltava o meu tão desejado picador de cebola.

 

Ligo para os CTTExpresso, deveriam de ter algum problema na linha e a chamada não era realizada.

 

Ligo para a Showroomprive, garantem que expediram tudo, tal como vinha na guia, e não sabendo o que pode ter acontecido, procederam de imediato - e para não originar reclamação - à devolução do valor que eu gastei, na impossibilidade de reexpedirem o produto, porque eles não têm stock.

 

Ligo novamente para os CTTExpresso, nada... Decido fazer reclamação por escrito no site. Entretanto lembro-me de ligar para os CTT normais e pedir transferência de chamada. Assim foi. Estou algum tempo à espera de ser atendida e quando finalmente sou atendida e exponho a situação fico sem saldo e a chamada cai. 0,25€ por minuto a sério? Incrivelmente os CTT não conhecem o conceito de CallBack (retorno da chamada) e ninguém liga de volta.

 

Decido fazer a chamada a partir do telefone da loja mas... O telefone da loja desapareceu (o meu colega deve ter levado para casa por engano), ou seja, anda provavelmente uma carrinha dos CTTExpresso com o meu picador de cebola perdido, e só consigo ligar amanhã, do telefone de casa, e aí provavelmente já não haverá nada a fazer!

 

Há pouco outra situação insólita: Fiz há mais de um ano uma reclamação de uma máquina do Andante, porque uma máquina me ficou com o dinheiro e não me carregou o bilhete nem me devolveu a moeda. Ligaram-me hoje a pedir desculpa por só agora responderem, mas que a máquina não tinha dinheiro a mais, e que não querendo desconfiar de mim, avançam a possibilidade de ter sido devolvido a outra pessoa mas que... Assim como assim, não existirá lugar a devolução do valor.

 

Ou seja... ainda o dia vai a meio e eu estou só a perder dinheiro...

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.