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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Ser crente quando nos é conveniente

Não sou católica praticante, nem sou muito a favor de religiões, até porque há qualquer coisa de macabro nas religiões, que faz com que as pessoas façam coisas por elas que eu não consigo compreender. Não sou católica praticante mas acredito, à minha maneira em Deus. Não no Deus como nos é vendido nos filmes que dão no Natal e na Páscoa. O meu Deus não tem forma, não tem cor, raça ou nacionalidade. No entanto, há coisas nesta vida que me fazem acreditar que pode eventualmente existir qualquer coisa superior a nós, uma espécie de energia, quer para o bem, quer para o mal. Por esta mesma razão nas minhas crenças não entram santos e figuras divinas, mas entram os familiares que fomos perdendo ao longo da nossa vida. Acredito na versão romantizada do Rei Leão, que algures num sítio qualquer estão a zelar por nós. O meu lado racional diz-me que não. Mas eu gosto de acreditar que sim. Faz-me bem acreditar que sim.

 

Tento, no entanto, e porque sou dotada de racionalidade, dar preferência ao conhecimento científico, ao que é real, ao que existe e é palpável, e tendo, racionalmente, a atribuir as situações ao acaso, à coincidência, ao aleatório. Tento acreditar, com algum esforço, que a sorte ou azar advém de factores totalmente aleatórios, não de forças devido a castigos ou compensações divinas. O meu lado racional não acredita que entrar, por exemplo, com o pé direito vá melhorar as coisas e vá aumentar a nossa sorte. No entanto, tenho um outro lado que me tolda a racionalidade e me faz ser supersticiosa. Esse mesmo lado, faz-me por vezes rezar ao Deus católico e a todos os santinhos, quando eu, ou os meus, estão em apuros.

 

Acho que no fundo tenho medo desse livre arbítrio, dessa ordem aleatória das coisas. É tão mais fácil culpar a sorte ou azar, e até Deus, do que nos culpar-mos pelas nossas ações. Nem imaginam vocês a quantidade de vezes que culpei Deus das minhas péssimas notas a matemática. A minha falta de estudo nada tinha que ver... Deus, Deus é que não ficava comigo naquele momento. Bem sei que Deus, mesmo que existisse, nada teria que ver com isso, mas é mais fácil termos alguém para culpar. Acho que nós humanos fomos feitos para suportar muita coisa, mas não fomos feitos para suportar a culpa e a vergonha.

 

Assim, é normal, aquando de uma situação de aflição extrema, por própria culpa ou não, como é o caso de uma doença, há muita gente a passar do ateísmo à crença em 5 segundos, ou talvez menos. Não acreditavam, mas é tudo o que lhes resta naquele momento... E se não nos resta mais nada, então... Temos que ir por outras vias, só pelo sim e pelo não.

 

E assim eu também faço promessas e acredito que as mesmas devam ser cumpridas para evitar eventuais penitências... Ainda que o meu lado racional me tente dizer que isso não existe. Verdade seja dita que já vi o karma atuar algumas vezes, por isso, a minha experiência diz-me, que aquilo que fazemos aos outros acaba por recair sobre nós, para o bem e para o mal.

 

E assim, eu que normalmente não acredito em santos, fui na sexta-feira numa caminhada para pagar uma dívida antiga com uma Santa local, porque uma coisa é certa... Mal também não faz, e eu cá sou pessoa de não dever nada a ninguém.

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.