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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Novas tecnologias, ambiente e poupanças

 

Vivemos numa era tecnológica. Apesar de ser altamente tecnodependente sou contra um mundo tão dependente dos computadores e dos telemóveis. Acho que quanto mais nos aproximamos dos aparelhos, mais nos afastamos das pessoas e eu sou uma pessoa de pessoas. 

 

No entanto, sou a favor de que as tecnologias devem ser utilizadas a nosso favor. Sou por isso a favor das tecnologias como forma de proteção do ambiente. Tudo o que puder ser enviado por e-mail assim prefiro. Extratos, contas, publicidade. Poupamos papel, recursos e tudo e tudo e tudo. Claro que, compreendo que poderá ser o fim dos correios na sua essência e com isso acarretar mais desemprego, mas acredito que sempre existirão coisas para enviar e coisas para receber e por isso acredito que os correios sempre serão necessários. Mas da mesma forma que não vamos deitar mais lixo para o chão para aumentarmos os postos de trabalho dos lixeiros, não acho que devamos desperdiçar papel para proteger os postos de trabalho dos trabalhadores dos correios.

 

Acho que nos dias que correm, tendo em conta que já percebemos que os recursos se podem - e se irão provavelmente - esgotar, acreditei que existia uma outra consciencialização no que toca ao desperdício, quando totalmente acessório, quando totalmente desnecessário. A entrega do IRS online passou a ser obrigatória. As empresas passaram a beneficiar quem ativa débitos diretos e extratos eletrónicos, entre outras burocracias que passaram a ser menos burocráticas com as online-alternativas.

 

Esta semana liguei para o meu centro de saúde a pedir uma consulta de rotina. Disseram-me que a administrativa que fazia as marcações não estava e pediram-me o e-mail e o contacto telefónico para procederem ao agendamento. "Vai ser contactada para este número de telefone, ou então receberá um e-mail com a marcação." Até aqui nada errado. Aliás, até aqui tudo certo. Mas passou-se um dia, dois, três... E passou-se uma semana e nunca recebi qualquer contacto nem e-mail. Estranhei. "Esqueceram-se!" pensei. Eis que uma semana e meia depois recebo em casa uma carta, com duas páginas. A primeira página a indicar o conteúdo da carta, e a segunda página a carta em si... E por carta entenda-se a marcação da consulta.

 

Numa era altamente tecnológica enviam-se ainda cartas para marcar consultas com médicos de família.

 

Sei que é habitual as consultas nos hospitais serem enviadas por carta. Certo, tudo bem, é algo extremamente importante, não conhecem o paciente e muitas das vezes não dispõe da informação - aka endereços eletrónicos - para poderem utilizar outras vias, para além de que por vezes demoram tanto a marcar consultas que a probabilidade de o cliente já não possuir aquele contacto telefónico e/ou e-mail é muito grande e aí corria-se o risco da mensagem não ser entregue. Vamos acreditar que as pessoas mudam  mais depressa de contacto telefónico e de e-mail do que de casa... Agora quando eu ligo para receber uma informação por telefone, dizem-me que me enviam por e-mail, ou até por telefone e depois enviam uma carta... Acho-a totalmente desnecessário.

 

Não sei quanto dinheiro gastam por ano em papel, mas certamente que se reduzissem para zero - agora até as receitas são enviadas por mensagem escrita! - se calhar poderiam canalizar as verbas para a melhoria dos serviços... Não sei... Digo eu!

 

Certo que com pessoas mais velhas o papel ainda é um mal necessário. Mas considero que deveremos evitar ao máximo o desperdício, essencialmente o desperdício de papel e se a pessoa se mostra disponível para o evitar, então deveriam de aproveitar.

 

E vocês, que opinais sobre estas questões? Cartas: sim ou não?

Estou chocada!

Acho que vou começar a traficar voltaren. Passo ali em Tui ou em Badajoz e em vez de ir buscar caramelos, vou buscar voltaren para vender.

 

Não sei se vocês costumam comprar voltaren, nós como temos alguns problemas de coluna, e o Mulo de tudo o que é ossos, costumamos comprar. É sempre um filme ir à farmácia, a maioria das farmácias só vendem o de 25 mg e costumo pagar quase 4€ por uma caixa com 20 comprimidos.

 

Em Valladolid, fui a uma farmácia comprei Voltaren 50mg sem ai nem uis, sem receitas nem prescrições, e paguei 1,5€ por uma caixa de 40 comprimidos.

 

Bem sei que a nossa saúde é muito cara, mas acho que só agora tomei consciência do quão cara é realmente!

Finalmente alguém se preocupa com a minha saúde...

Toda a minha vida pertenci ao mesmo centro de saúde, apesar de já ter andado de médico em médico, o centro de saúde era sempre o mesmo. Foi-me atribuída a minha médica de família há mais ou menos uns 10 anos, e desde há cinco anos, mais ou menos, que sofro horrores com a minha rinite crónica perene. São todos os dias do ano em que preciso de inalar drogas para respirar e - literalmente - não morrer durante o sono, porque eu não consigo respirar pela boca. Houve uma altura, antes de me serem receitados os inaladores que era obrigada a respirar pela boca e causou-me muitos problemas nos lábios e na garganta. Horrível. A verdade é que mesmo com os inaladores é um problema, muitas das vezes não durmo bem porque fico na mesma com o nariz tapado, tenho constantemente dores de cabeça, e sinto-me muitas das vezes cansada porque a verdade é que eu não respiro bem.

 

Por isso, há mais ou menos cinco anos que inalo cortisona, que vou intercalando com o vibrocil na altura das gripes e constipações. Sou uma drogada eu sei. Há cinco anos que a minha médica de família me receitava sem reservas cortisona.

 

Não achava perigoso, era a minha médica que me receitava, ela lá deveria de saber o que estava a fazer.

 

Uma vez fui comprar o meu inalador como era habitual e a menina da farmácia perguntou-me se já usava aquele fármaco há muito tempo. Respondi-lhe que já o usava há alguns anos e a menina mostrou-se chocada e explicou-me que eu deveria de arranjar alternativas. Teve a explicar-me que poderia ficar sem olfato, que é uma das consequências do uso continuado daquela droga. Concordei que efetivamente o meu olfato há muito tempo que não é o que era e fiquei a pensar nisto.

 

Fui à minha médica de família e tentei que ela me encaminhasse para as consultas de otorrino, ou algo do género, para tentarmos resolver este problema de uma vez por todas para não depender toda a vida da medicação. Fez de tudo para me dar a volta, receitou-me alguns exames e nada acontecia, e não me encaminhava. Dava-me a volta de tal maneira que eu nem insistia. Voltei a repetir o procedimento, voltei à consulta, pedi novamente P1 para o Hospital e uma vez mais saí de lá sem o dito e sem luz ao fundo do túnel.

 

Decidi mudar de médica e de centro de saúde, e como já conhecia a médica do meu marido e gostava bastante dela, nada como pedir-lhe que me aceitasse nas suas consultas. Aceitou-me sem problemas e esta semana foi a minha primeira consulta com ela, onde lhe expus todas as minhas questões. Pois que não foi preciso pedir nada: Hoje fui fazer as análises das alergias e assim que se descobrir a que é que eu sou alérgica sou imediatamente encaminhada para um alergologista - que palavrão - ou então um otorrino, caso o problema seja estrutural, para deixar de uma vez por todas as drogas e ganhar outra qualidade de vida. 

 

Até posso morrer enquanto espero por uma consulta no hospital - não seria a primeira, e certamente não seria a última - mas ao menos alguém se preocupou em ajudar-me já que aquela que esteve comigo anos e anos nunca o fez. Realmente não se deveria de ser médico por profissão, mas por vocação. Se todos os médicos o fossem não  pelo estatuto, não pelo ordenado, mas porque realmente se preocupam com a saúde pública, as coisas estariam muito diferentes neste país.

O Serviço Nacional de Saúde revolta-me!

Como contei aqui, o menisco do Mulo já teve melhores dias. Como já tinha passado 10 horas no hospital público com a minha mãe, por causa de um problema na coluna que a imobilizou por completo, e nada fizeram nessas 10 horas para lhe minimizar o sofrimento, e porque ele estava cheio de dores e já sabíamos que se fossemos ao público a história se iria repetir, optamos por ir a um hospital privado, já que ele tem seguro de saúde. Fomos logo atendidos. Não esperamos na sala de espera mais do que 10 minutos. Fizeram-lhe um RX para ver a gravidade da situação, e pelo que os médicos disseram - que eu cá não percebo nada - a imagem não estava bonita, os resultados não eram animadores, e ainda pior: as imagens eram inconclusivas para tornar seguro a aplicação daquilo a que o médico chamou de tortura chinesa para o colocar a andar, que é nada mais nada menos, que puxarem a perna até o menisco voltar para o sítio dele, de onde nunca deveria de ter saído. Mas era arriscado. Os ossos parecem fracos, poderia não resultar e pior, poderia fazer pior, muito pior. Fizeram-lhe uma infiltração na esperança que o dito voltasse ao sítio. Não resultou. Entrou lá de cadeira de rodas, saiu de lá de cadeira de rodas. Nada mudou. É preciso fazer uma ressonância magnética, para ter total perceção da situação, mas não era possível fazer na hora, e também ainda não conseguiram arranjar uma vaga para ser feito o quanto antes.

 

Assim fomos à médica do centro de saúde para ser pedida a baixa médica, já que ele está a faltar ao trabalho. Perguntamos se era possível receitar uma ressonância magnética, já que no privado os custos são muito elevados. Não é possível, pelos vistos. De acordo com o que nos foi indicado, só os médicos da especialidade podem requisitar ressonâncias magnéticas, e então a única forma de ele realizar uma ressonância magnética pelo serviço público seria ter uma consulta com um ortopedista no hospital. Sim senhora. Pode tratar disso? e eis que fico chocada. Não sei como ainda é possível nos dias que correm eu me chocar com tal - eu que tive mais de 3 anos à espera por uma consulta no hospital em miuda, que nunca aconteceu -, mas a verdade é que não me é possível não me chocar! Poder eu posso... mas aviso-o que só será chamado dentro de 6 meses, se não for mais, que é o tempo que estão a demorar!. A sério? Apesar de ser uma situação urgente não há como ser chamado de forma mais urgente, acrescentou. Sugeriu que fossemos à urgência ao hospital para ver se o médico poderia dar entrada do Mulo diretamente na especialidade e encaminhá-lo para a cirurgia, mas... Mas é como contar com ovo no cu da galinha. Não é prática corrente, é apenas uma possibilidade em mil. Pode nunca acontecer! E anda ele para trás e para a frente como uma bola de ping pong.

 

Por acaso o Mulo tem um seguro de saúde que lhe permite obter algum desconto nos serviços privados, em alguns hospitais, ainda que a altura seja péssima. Incrível! Eu vou ficar desempregada - ah! desde que disse ao indiano que trabalhava apenas 4 dias por semana, porque nessas 4 horas já trabalhava as 40horas semanais de lei, ele nunca mais me ligou, já por aqui se vê que é muito sério! - , ele está de baixa, e o serviço nacional de saúde está empenhado para que as nossas poucas poupanças se esfumem o mais rapidamente possível. É que é mesmo tudo a ajudar!

 

Aguardamos assim próxima consulta no hospital privado e esperemos que já seja possível fazer a ressonância magnética e resolver esta situação o quanto antes.

 

Se o Mulo não tivesse seguro de saúde, se nós não tivéssemos nem um cêntimo a mais que pudéssemos usar em nosso proveito - como é normal em tantas famílias -, o que teria acontecido era: termos passado horas e horas na sala de espera de um hospital público, ficar numa lista de espera durante 6 meses para sermos chamados para um ortopedista, e a correr bem,  ser operado ao fim de 8 ou 9 meses e durante esse tempo todo ele iria ficar sem andar? Faz algum sentido isto?

 

É RIDÍCULO! RIDÍCULO! Já disse que é RIDÍCULO?

Quando um post, lembra-nos uma situação que vira post

O post de ontem da Saracasticamente fez-me lembrar a forma como levei a minha última vacina contra o tétano. Não foi bonito.

 

Corria o ano de 2009. Ia eu toda pimpona para uma consulta de planeamento familiar, e como é habitual, antes da consulta de planeamento, passo pela enfermeira para pesar, medir o perímetro abdominal e medir as tensões. Pois que deveria de existir lá um alerta que estava com a vacina do tétano em falta. Como a dita é de 10 em 10 anos, não tenho propriamente a noção de quando é para tomar novamente. Parece que afinal já a deveria de ter tomado e alguém achou - não eu - que estava na hora de a levar.

 

A enfermeira - que é minha enfermeira de família há alguns anos - manda-me despir a camisola, fico a pensar que é para medir as tensões, e não é que ela vem direitinha a mim, desinfeta-me rapidamente o braço e pumbas, espeta-me com a agulha no braço? É que isto contado, sei que custa a acreditar, mas foi verdade. Perante o meu ar chocado, numa mistura entre o pânico e o furioso, lá me explica que eu já devia de ter aquela vacina e antes que eu passasse mais uma série de meses sem lá pôr os pés - como é habitual -, ela tinha de me dar a vacina, palavras dela. Certo, compreendo. E explicarem antes não? Eu certamente compreenderia e até aceitaria. Ou não, provavelmente o mais certo era arranjar uma desculpa qualquer para ir lá noutro dia levar a vacina. Acho que ela me conhece melhor do que julgo...

 

Pior. Fui de carro, e o braço direito inchou-me de tal maneira, e ficou tão pesado e dorido que não consegui levar o carro, não tinha força para colocar as mudanças. Fui a pé para casa da mãe que fica logo ali ao lado, e só fui buscar o carro ao final do dia quando estava melhor, mas ainda assim custou imenso conduzir.

 

A sério? As vossas enfermeiras de família também são assim... umas fofuchas?

Planos superiores...

Andava feliz porque andava a conseguir escapar por entre as gotas de chuva às gripes e constipações, mas afinal já percebi por que é que estou a conseguir fugir desses vírus... Alguém, aqueles senhores azuis que traçam os destinos das pessoas em tempo real, têm planos muito mais importantes para mim!... Muito mais importantes! Seria demasiado parvo uma Mula andar constipada ou com gripe, é muito mais divertido andar com infecções mais dolorosas...

 

Não... a infecção da garganta passou, essa era para meninos!... Aliás, não passou, desceu! Agora é a bexiga que armazenou essa bela da infecção...

 

Vou à farmácia para tentar poupar tempo:

 

- Olhe estou com uma infecção urinária, tem aqui alguma coisa que me pode receitar?

- Ah não! Isso é uma urgência, deve ir ao médico.

- Mas eu sei o que é uma infecção urinária, sei reconhecer os sintomas e só preciso de tomar alguma coisa antes que piore...

- Ah mas agora, eles têm lá uns exames todos XPTO que atestam qual a infecção e o exame diz logo o que tem de tomar para ficar boa...

 

Sério? O médico não deveria ser apenas utilizado para casos em que não se sabe o que é? Andei quase dois anos a correr para o médico mensalmente com infecções urinárias, sei perfeitamente o que tenho... Mas ainda assim tenho mesmo de ir lá, passar pelo exame, para dizer "ah, você tem uma infecção urinária realmente", "Really? Não me diga..." pensarei eu... E lá sairei após 5 horas de espera numa sala barulhenta com um papelzinho que atesta a minha condição especial e que me garante uma espécie de tratamento vip na farmácia com acesso a receituários especiais e únicos para pessoas que apenas têm aquele papelzinho! É tipo aquelas pulseiras dos hotéis que diz que podemos comer tudo o que quisermos.

 

Depois queixam-se, que os serviços públicos de saúde estão cheios, que os tempos de espera são enormes e que não há médicos! Claro que é assim e assim continuará, enquanto não se facilitar os processos... E que tal darem mais um pouco de autonomia às farmácias e fazer logo lá o exame - só para provar que não estou a querer um antibiótico para ir ressacar para uma sala de chuto qualquer - et voilá, poupar-se-ia todo um tempo de vida...

 

E lá vou eu, ter que sair mais cedo do trabalho, para me enfiar numa sala de espera de um centro de saúde, com gente doente, a espirrar por todo o lado, a tossir sem respeito pelos outros, enquanto corro para a casa de banho de 5 em 5 minutos e definho de dores!

 

Não há qualquer respeito pela humanidade!

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.