Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Monogamia

Há alguns animais monogâmicos. Poucos, mas há. Assim de repente, vem-me à memória os cisnes e os lobos que normalmente - salvo raríssimas exceções - formam casais para toda a vida. É tão romântico... A história destas espécies dariam belíssimas melodias sertanejas digo-vos já.

 

 

Mas não me lixem, homens e mulheres não são animais monogâmicos. São sim animais que tentam, à viva força, praticar a monogamia - aqueles que tentam, pois claro - mas que precisam de mais esforço para a praticar do que o contrário. No fundo o homem -  e a mulher! - fiel, está para a monogamia como o bacon para os vegetarianos. Ninguém nasce a dizer que não gosta de bacon - vá, ou de outro pedaço de carne qualquer! - há sim pessoas que devido a razões ideológicas fizeram um esforço para deixar de comer bacon. Não acredito que seja um processo fácil. E a monogamia também não o é. E a prova está na quantidade de divórcios que ocorrem devido a traições.

 

Um dia destes li algures por aí que a monogamia não é natural, é sobrenatural, e a verdade é que concordo.

 

Calma! Não estou, nem a dizer que concordo com a poligamia - porque não concordo, de todo! - nem a dizer que ando por aí com uns e com outros enquanto o Mulo dá no duro todos os dias no trabalho, porque não é verdade. Mas... Quem é que nunca pensou "ai se eu não fosse casada!" ou "se eu fosse solteira...". Há alguma maldade neste tipo de pensamentos? Continuamos vivos, continuamos com olhos na cara e coração no peito e creio que nos sentirmos atraídos por outras pessoas que não os nossos companheiros, que não seja algo totalmente horrível e vergonhoso. Para mim é normal. Não me choca. Não me arrepia. Não me escandaliza.

 

Não acho, tão pouco, que o facto de alguém comprometido poder olhar com desejo para outra pessoa que seja sinónimo de não estar feliz no relacionamento. Para mim há grandes diferenças entre o sentimental e o carnal. O cérebro é que é responsável por gerir depois isto tudo. O que pode ser horrível e vergonhoso é o que as pessoas podem fazer com essas sensações e sentimentos, quando o cérebro e tudo o resto falha. Pensamentos e fantasias não me arrepiam a espinha. Ações físicas confesso que sim.

 

Quer queiramos quer não queiramos, vivemos numa sociedade monogâmica, e sou a favor de que é preferível pôr fim a uma relação que não nos enche as medidas do que andar por aí a trair as pessoas a quem decidimos dedicar a nossa vida, porque acho que, acima de tudo, a falta de lealdade é muito pior que a traição física ou sentimental. Nisso os animais poligâmicos têm vantagem face ao humano: Não fazem compromissos, vivem apenas. No fundo, muitas pessoas deveriam de viver como estes animais, e não fingirem ser outro tipo de animais que não o são.

 

No meu local de trabalho é assustadora a quantidade de pessoas que traem outras. E a naturalidade com que o fazem. É assustador ir a eventos, ou saber de eventos, em que A casado, andou envolvido com B casada que já andou com C igualmente casado, e está tudo bem, toda a gente sabe, não é segredo, a não ser para os respetivos.

 

Isto confesso, choca-me sempre.

 

Acima de tudo assusta-me. Assusta-me porque os parceiros destas pessoas vivem na ignorância - nem todos, provavelmente - e eu fico a pensar: E se for eu? E se eu também estiver a ser enganada e não fizer nem ideia? Claro que confio no homem que escolhi para trocar alianças e com o qual vivo há 10 anos, nem estaríamos juntos se não confiasse mas... não deixa de ser assustador pensar que as outras pessoas provavelmente também confiam. E temo que a minha cabeleireira tenha razão quando diz "minha filha, não há homens fiéis! Há é homens que sabem esconder muito bem!"

 

Não. Os animais homem e mulheres não têm uma natureza monogâmica, mas acho que se poderiam esforçar um pouco mais...

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.