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Foi inevitável o nó na garganta quando vi nas notícias o que sucedeu em Pedrogão Grande. Eu que sou do Norte, que passo a maior parte do tempo no Porto, mas que no fim-de-semana passei em Leiria... Não, não estive perto do fogo. As cinzas que cobriram o meu carro disseram-me que estive perto - imagino o vento que esteve de noite -, o cinza escuro do céu ao acordar também me fazia sentir que estava perto, mas a verdade é que felizmente estive sempre longe, sempre junto à costa.
Não estive perto, mas podia ter estado.
A verdade é que as nossas rotas são sempre tão imprevisíveis... Viajamos quase sempre ao sabor do vento e das vontades - e tantas vezes pelos nomes curiosos das localidades. Não seria a primeira vez a passar em Castanheira de Pêra, ou em Figueiró dos Vinhos. Não seria a primeira vez naquela estrada e por isso penso: e se tivéssemos sido nós?
Não consigo imaginar pior morte... Não consigo imaginar nada tão macabro e cruel... Não consigo imaginar a dor e o sofrimento daqueles que sobreviveram mas que de um dia para o outro perderam tudo o que tinham...