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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Curtas do dia #378

Sou mesmo bruta.

 

Entra o Mulo todo fofinho no quarto para ver se eu já estava a dormir e eu digo de imediato de forma nada simpática:

 

Agora vai ser sempre isto??? Quero dormir!!

 

Tudo isto porque um grupo de jovens agora acha que a rua onde moro dá uma discoteca ao ar livre porreira e vai para lá colocar música alta e cantar... Acordaram-me! Ou seja, os outros é que fazem asneira, o Mulo é que me atura!... Ele quando morrer vai ser canonizado!

Uma adivinha para vocês:

Estou "sozinha" na loja. Tenho uma multidão dentro da mesma. Uma fila gigantone para pagar. É Mula para a direita, é Mula para a esquerda. E ouve-se do nada: Ai a menina tem que vir aqui ajudar-me a decidir qual anel levar, que eu não consigo escolher!

 

Posto isto, eu disse:

 

  • a) Vá-se embora.
  • b) Não vê que a loja está cheia de gente?
  • c) Como pode imaginar... Tem de aguardar.

 

Uma coisa foi o que eu disse, outra o que eu pensei, e a outra foi o que os meus olhos diziam. Qual é qual?

 

 

Entretanto e só para finalizar a história, a senhora após ter tirado SETE anéis do sítio porque não se conseguia decidir por nenhum, após ter chamado a filha para a ajudar e a filha lhe ter dado opinião, após eu lhe ter dado a opinião enquanto atendia um espanhol, um italiano e uma portuguesa no meio do vai vem. A senhora não levou porra de anel nenhuma! O que eu pensei depois disto tudo...? É melhor guardar só para mim...

São orgulhos senhores... São orgulhos feridos!

Senti pela primeira vez vergonha do que fazia e escondi-me atrás do balcão como uma menina assustada. Sei que é um sentimento parvo, tenho um trabalho honesto, pago as minhas contas a tempo e horas e tem a sua ciência - pouca - ou não precisasse eu de ter conhecimentos básicos de uma série de línguas. Mas não consegui evitar. 

 

Entrou aqui na loja uma antiga professora da faculdade, uma das que mais elogios tecia aos meus trabalhos, uma das grandes responsáveis por ter adorado o curso, devido à paixão com que falava da profissão. Ela que divulgava várias ofertas de trabalho, ela que sempre que possível ajudava os seus alunos a conseguirem trabalho. E eu nunca lhe pedi ajuda, porque Mula que é Mula tem uma honra, e alguma teimosia, fora do vulgar.

 

Pois não consegui deixar de me sentir humilhada e rebaixada, ainda que saiba de ante-mão que ela não iria sentir nada disso, que é uma pessoa extremamente simples e empática, mas...  Não vos sei explicar, mas a verdade é que me senti mesmo com muita vergonha, porque eu era uma pessoa bastante empenhada, com notas acima da média e... um balcão foi o que me calhou na rifa. Senti como se tivesse receio que pensasse que desisti, o que não é verdade... Mas também não é mentira!...

 

Esperei que saísse, e de mansinho regressei ao meu posto com uma certa melancolia no olhar.

 

Este ano deixo de ser uma recém licenciada, deixo de estar elegível para estágios profissionais, e daqui a 2 anos passo a ser considerada velha para determinados postos de trabalho.

 

Pois que o orgulho não mata, mas mói e ao pensar nisto o meu sai bastante lesado... Esforcei-me tanto para quê, vangloriei-me tanto das minhas notas para quê? Exibia com tanto orgulho a minha capa negra com as fitinhas do curso para quê?...

 

Muitos me perguntam de que é que me queixo,  que tenho um emprego santo, que os meus colegas são porreiros, que os meus clientes (isto soa tão mal)  são super bem dispostos... Queixo-me porque sei, e não é ser convencida, porque a falsa modéstia é enervante, que tenho capacidades para mais, e aqui estou subvalorizada... 

 

Há dias assim... Amanhã será um dia melhor.

 

 

Livro: O Jogo do Anjo de Carlos Ruiz Zafón

Comecei a ler antes do casório, esteve quase dois meses parado - ainda no início do livro - por causa do casamento e do Livro Secreto e agora... Foi todo de enfiada que estava ansiosa por saber o que iria acontecer.

 

 

Quem segue o blog sabe que adorei A Sombra do Vento. Depositei por isso grandes expectativas neste livro. No entanto, e se na Sombra do Vento o interesse louco pelas palavras que nele continha apenas surgiu por volta da página 40/50, n'O Jogo do Anjo, demorou um pouco mais. Este livro começa de forma muito lenta, e até de forma pouco entusiasmada, senti que o autor andava às voltas sem saber muito bem qual o caminho a seguir e não se percebe muito bem onde a história nos vai levar. Entretanto quase a meio do livro a história envolve bastante o leitor e quase no final, a história ganha a morbidez e o encanto que A Sombra do Vento nos faz sentir. O final deste livro é um misto de emoções: Chorei e revoltei-me, apeteceu-me mandar o livro contra a parede e perguntar ao autor porquê... Mas acho que é suposto os livros causarem-nos este tipo de sensações.

 

O Jogo do Anjo tem como palco uma vez mais a livraria dos Sempere e conta a história de Martim - amigo do Sempere pai do Daniel e seu avô - que vende a sua alma por 100 mil francos franceses para escrever um livro religioso para um misterioso editor francês a quem chama carinhosamente de O Patrão. Entretanto descobre que na casa onde vivia, alguém tinha vivido com uma história muito semelhante à sua e que morreu envolto em grande mistério. À medida que Martim se arrepende do contracto que fez e tenta fugir d'O Patrão, tenta perceber quem era aquele homem que viveu naquela casa com as mesmas iniciais que as suas, até que se vê envolvido em vários crimes. Será que foi Martim que cometeu aqueles crimes? Quem é O Patrão? Pois leiam e descubram!

 

O sentimento geral que tenho do livro é que gostei. Gostei bastante. Carlos Zafón consegue transportar o leitor para os seus palcos, consegue fazer-nos viver a história de forma bastante intensa. No entanto senti que algumas pontas ficaram soltas e isso enerva-me. Claro que o final pode esclarecer tudo, mas ainda assim fica tudo demasiado generalizado, e eu odeio generalizar. Por exemplo, no início do livro Martim envolve-se com uma mulher misteriosa que supostamente é uma personagem de uma das suas novelas, no dia seguinte descobre que tudo aquilo que supostamente viveu não existia. E então? O que é que aconteceu? Foi uma miragem? Um sonho?... Pois que me devem ter arrancado do livro as páginas da explicação que nunca as encontrei. Então e a doença grave de Martim? Ele não ia morrer dentro de dias?... Ok... ok... que O Patrão era um "homem" muito poderoso, mas ainda assim... E o Marlasca fez o que fez porquê? Quais as suas motivações?... Pode ser a minha mania de querer todas as explicações mas fiquei com a sensação de que o autor se esqueceu de explicar um pouco mais.

 

Leiam e tirem as vossas próprias conclusões. Apesar de tudo na minha opinião é um livro que vale bastante a pena.

Prédios com pessoas dentro # Cinco tipos de vizinhos

Infelizmente temos de viver em sociedade, dizem. E isso, na maior parte do tempo, implica a convivência com pessoas diferentes, que nos podem agradar ou não. Já pensei em isolar-me e viver no meio das montanhas, mas avessa como sou à bicharada, acho que prefiro sacrificar a minha paciência com as pessoas do que ser comida por bichos. Parece-me um sacrifício mais aceitável.

 

Vivi até aos 20 anos com os pais, e com isso tinha apenas 4 vizinhos significativos: um de cada lado e dois à frente, basicamente era isto. Mas desde que vivo em apartamento esses 4 vizinhos são só no mesmo piso, multipliquemos agora isso pelos restantes andares. Desde que eu e o Mulo estamos a viver juntos já passamos por quatro casas - e agora de acordo com o nosso banco ficaremos nesta pelos próximos 45 anos, poucochinhos anos, portanto - e por isso acho que a experiência me permite classificar os diferentes tipos de vizinhos em cinco categorias diferentes. Pessoas normais não serão contempladas nesta categorização devido ao aborrecimento do que é ordinário.

 

O sociável

 

 

É, já foi, ou sonha vir a ser, o administrador do condomínio. Apresenta-se aos novos inquilinos do prédio, descreve os feitios dos vários vizinhos com que temos de conviver, conta-nos o essencial sobre os indivíduos do nosso piso - incluindo que se separou à pouco e que está um bocado deprimido e que por isso ouve música clássica das 9h às 21h todos os fins-de-semana - e faz-nos uma nada breve descrição das manhas do prédio - como abrir o portão manualmente em caso de avaria do sistema, como aceder ao quadro electrico da garagem -, das plantas dos jardins, e de como proceder para sermos todos uma família unida e feliz. Normalmente fala durante 3 horas seguidas e se souber que temos algum problema em casa, oferece-se para chamar um dos seus quinhentos amigos para resolver. São normalmente o jornal do prédio e conhecem a vida de toda a gente. Normalmente eu e o Mulo fugimos deste espécie-me como o diabo foge da cruz.

 

 

O odiado

 

 

Sonha ser o administrador do condomínio, mas nunca o virá a ser. O odiado faz por estar presente em todas as reuniões de condomínio e é o que normalmente está sempre do contra vetando todas as decisões. Tem um pequeno grupo de vizinhos seus aliados, que se colocam em posições estratégicas nas reuniões de forma a conseguirem levar a sua avante. Danifica - ou pode danificar - aparelhos no prédio, suja a entrada tanto quando pode de modo a manter os seus argumentos contra o administrador do condomínio - que é normalmente o seu maior rival - válidos. Diz bom dia, boa tarde e boa noite a todos de modo mais ou menos arrogante e cria pequenos conflitos com o intuito de perturbar a paz entre todos. Não raras vezes tem um ambiente familiar pouco agradável ouvindo-se discussões no interior das suas paredes porque queria peixe para o jantar e a mulher pôs-lhe à frente arroz de pato com queijo azul. Eu e o Mulo divertimo-nos muito com este espécie-me nas reuniões de condomínio e consideramos por isso um importante elemento na animação do prédio.

 

 

O festivaleiro

 

Todos os dias são dias de festa para o festivaleiro e por isso nunca se sabe ao certo quantas pessoas moram lá em casa. É caracterizado pela música alta a qualquer hora do dia, e da noite. Ela de saltos altos para trás e para a frente todo o dia - e toda a noite -, ele de botas de biqueira d'aço e pé pesado, a criança... Qual cavalo num espetáculo de equitação. Tem muitos amigos e todos os dias há jantaradas lá em casa noite dentro. No corredor junto à sua casa não raras vezes apresenta um odor de chouriço acabado de assar e batatas fritas. É o verdadeiro terror para qualquer idoso que se deite às 19h ou para qualquer pessoa, mesmo aquelas que se deitam às 2h da manhã. O barulho é constante. Foi o vizinho responsável pela nossa saída da casa número 1.

 

 

O fantasma

 

 

Somos nós. Somos aqueles vizinhos que tentam socializar o mínimo possível, aqueles que apagam as luzes e tiram o som da televisão sempre que alguém nos toca à porta  ao estilo não está ninguém em casa. Que empata tempo no carro para não dividir o elevador com os estranhos e serem obrigados a fazer conversa. No fundo, o fantasma - nós - é aquele vizinho que ninguém conhece, que ninguém sabe qual é. Quando o fantasma vai às reuniões de condomínio concorda com tudo para não chamar a atenção, encosta-se a um canto para ninguém o ver. Prefere tratar dos assuntos com o administrador via e-mail.

 

 

A gaja boa

Toda a gente tem uma gaja boa no seu prédio, apesar de ainda não ter descoberto a minha, no meu atual poiso - até agora só vi vizinhas de crocs e leggins de mau gosto com as nádegas a querer saltar do pano a qualquer momento - sei que ela deve existir algures. Completamente contrária ao vizinho fantasma é a vizinha que toda a gente conhece, que toda a gente sabe quem é - menos os vizinhos fantasmas, porque não comunicam com ninguém. À gaja boa tudo é permitido: não segurar a porta para o vizinho que está a aproximar-se, entrar; despir-se de janelas abertas ou na varanda; não apanhar o cocó que o seu lulu deixou à entrada do prédio ou no jardim, enfim, é permitido à gaja boa uma panóplia de ações que ao comum mortal origina uma queixa no condomínio, incluindo música alta, já que os homens não raras vezes imaginam que esta se bamboleia num varão no meio da sala em vez de limpar a casa de banho como uma fêmea comum. Nas reuniões de condomínio apresenta um ar bastante inteligente mas raramente emite opinião. Distrai por vezes o administrador e acalma o odiado.

 

E pronto, é isto de acordo com a minha experiência e perspetiva. Têm mais alguma categoria a acrescentar?

Coisas de gaja #Cabelos II

E é com grande euforia que vos conto que encontrei a cor perfeita. Consegui replicar a cor que a cabeleireira me pintou. Estou tão feliz. Claro que agora vai ser sangue, suor e muitas lágrimas quando vir a cor ir pelo ralo da banheira cada vez que tomar banho, e uma vez mais a loira que há em mim tentar aparecer, mas agora... Agora é só dar um salto à Pluricosmética e devolver a bela da cor ao meu cabelo.

 

Comprei também a máscara de cor vermelha da Amethyste, a ver se a cor se mantém por mais tempo. Vamos ter fé!

 

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.