Acho que já vos tinha dito que em tempos tive um blog de poesia. Ele ainda está ativo mas há muito que não é alimentado, basicamente só um poema é que lhe traz visualizações, várias, provavelmente na altura dos Lusíadas e da Mensagem nas escolas.
Basicamente deixei de escrever poesia quando deixei de me sentir deprimida, se calhar nem era eu que escrevia se calhar era o socian... Mas uma coisa é certa, com ou sem socian, há alguns poemas que ainda hoje fico toda orgulhosa da minha pessoa e fico saudosa de já não escrever assim... Este é um deles (motivada pela professora de português da altura):
A mulher nos Lusíadas e na Mensagem
Pelo amor à mensagem de Pessoa, Criou com amor e dedicação, O nosso rei lutador, Que conquistou a nossa nação!
Porém vingativa e cruel, Contra seu filho se debateu, Na escritura d’Os Lusíadas, De seu filho se esqueceu!
D. Filipa abençoada, Grandes filhos criou. Na Mensagem de Pessoa, O povo a idolatrou!
Porém Inês de Castro, coitada, Que D. Pedro tanto amou, Traída pelo destino, D. Afonso a degolou.
Lembremos também aquelas mulheres devotas, Que em Camões se impugnaram, Que em Pessoa desesperaram, E que seus filhos viram partir!
Mães, esposas, irmãs, noivas, Não nos esqueçamos de todas aquelas que participaram, Nas maiores obras que contaram, Os grandes feitos do povo português!
A publicação de hoje da Chic'Ana fez-me lembrar uma situação antiga da infância: Motivada por um primo mais velho, subi para cima do telhado do barbecue de casa dos pais. Já eu estava com um pé no bidão e o primo a puxar-me o braço para eu subir quando fomos apanhados. Em suma: Acabou-se a brincadeira. Ele foi recambiado de volta para casa dos pais, eu fiquei de castigo no quarto sem puder brincar com ninguém, a não ser com os meus brinquedos, até porque sou filha única.
Na altura era pequena, deveria de ter uns 6 ou 7 anos, e lembro-me de ter rogado umas quantas pragas à mãe que me colocou de castigo e me separou do meu primo favorito da altura.
Outras situações aconteceram e sempre que era contrariada acabava amuada com a mãe e a jurar a pés juntos que um dia quando fosse mãe não seria assim, que iria deixar os meus filhos decidirem o que era melhor para eles, e deixá-los fazer o que bem entendessem.
Quanta inocência!
Ainda não sou mãe, é certo, mas não preciso de o ser para saber que vou ser uma mãe tão galinha quanto a minha foi, uma mãe tão preocupada como a minha foi, uma mãe tão punitiva como a minha foi - que nunca usou a força e quase sempre se fez valer mandando-me para a solitária umas horas. É certo que também me vou chatear quando fizerem birra para comer, quando eles quiserem chegar tarde a casa, ou quando não fizerem os trabalhos de casa. Por isso o Miguel Araújo é que tem razão: "Aproveita agora / Que há-de chegar a hora / Que não poupa ninguém / Vais ser igual à tua mãe / Com a filha pela trela / Repete-se a novela, um dia vais / Ser mais Dona Laura do que ela."
Deixo-vos com o Miguel Araújo.
Olha a Laurinha lá vai toda destemida Diz que é crescida e que prescinde dos conselhos do pai Olha ela, lá vai toda decidida Dona da vida nem duvida que é por ali que vai Olha a Laurinha à cabeça da charanga Das raparigas do recreio do liceu onde ela anda E manda na dinâmica da escola Não vai à bola com a setôra de história E não disfarça e faz a vida negra à criatura É a ditadura de quem manda só porque sim
Olha a Laurinha que já fuma às escondidas do pai Com a mesada de alguém Ainda namora às escondidas da mãe Enquanto diz que não tem de nada Nem ninguém
Vai, dança até ser dia Que a vida são dois dias E tu vais ser alguém Olha a tua mãe Com um olho na novela E o outro na panela, Um dia vais ser tão Dona Laura como ela
Olha a Laurinha toda cheia de cidade Sem ter idade para sequer votar na junta daqui Sempre que a chamam ao quadro desatina e nada diz Mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país Olha a Laurinha lá vai cheia de prestígio Nenhum vestígio da miúda outrora santa e singela E a mãe dela fica a vê-la da janela Ainda se lembra bem do tempo em que a Laurinha era ela
A fumar às escondidas do pai com o dinheiro que alguém Subtraiu da carteira da mãe Enquanto diz ao mundo que ainda há-de vê-la ser alguém
Vai, canta até ser dia Que um dia há-de ser dia E tu vais ser alguém Que é tal e qual a mãe Um olho na novela O outro na janela, um dia vais Ser tão Dona Laura como ela Aproveita agora Que há-de chegar a hora Que não poupa ninguém Vais ser igual à tua mãe Com a filha pela trela Repete-se a novela, um dia vais Ser mais Dona Laura do que ela.
Com tanta gente parecida que se encontra por este mundo fora, fico com a sensação de que só existem duas ou três caras, o resto - o que é diferente - são só personalizações dos próprios indivíduos.