A Ana de Deus desafiou a blogosfera, a Mel aceitou o desafio e desafiou a Mula, e a Mula apesar de parecer que se fez de esquecida ei-la a participar. Vocês sabem, eu não nego nenhum desafio, a menos que não o tenha recebido, ou mesmo por esquecimento. Não me lembro, mas é possível que já tenha acontecido. Ensinaram-me a não negar o que desconhecemos!
Mas adiante, a Mula foi assim desafiada a descrever o seu rosto em 100 109 palavras e aqui vai. Espero que me consigam imaginar.
A Mula, que grande não é, tem rosto pequeno e olhos esbugalhados, expressivos. São castanhos, cor de avelã quando faz sol, meio que esverdeados quando faz chuva no interior da alma. Expressivos, bem vos disse. Nariz pequeno e fino, dizem as más línguas que aparenta ser empertigado, mas quem o conhece sabe que empertigado não é. A Mula tem também sardas que se camuflam com a pele excessivamente rosada da rocásea que teima em persistir, e que a Mula tenta desesperadamente disfarçar. Lábios finos rosados, sempre naturais que batom a Mula não gosta de usar. Tudo isto emoldurado por um cabelo médio cuja cor depende dos estados de alma.
E já agora, lanço uma questão à blogosfera, aqueles que não me conhecem como é que me imaginam?
Falas de civilização, e de não dever ser, Ou de não dever ser assim. Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, Com as coisas humanas postas desta maneira, Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor. Escuto sem te ouvir. Para que te quereria eu ouvir? Ouvindo-te nada ficaria sabendo. Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo. Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres. Ai de ti e de todos que levam a vida A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Este é um dos meus poemas favoritos e sem dúvida que é o meu favorito de Alberto Caeiro. É o meu favorito mas nem por isso o meu coração concorda com estas palavras, ainda que a minha razão esteja acenar firmemente com a cabeça.
Era mais fácil, diz o coração, se as coisas pudessem ser feitas à nossa maneira, éramos mais felizes e até talvez, na nossa ótica, seria um mundo mais justo. Seria, se a nossa visão estivesse de acordo com a visão dos demais, o que sabemos que não é verdade.
Às vezes acreditamos até, ingenuamente, que a felicidade depende só de nós, e até cedemos perante os outros porque parece fácil ser feliz. Se há algo que incomoda o outro e nós podemos mudar, - porque é fácil, porque se isso vai fazer a pessoa feliz e nós queremos essa pessoa feliz, é nos fácil ceder - nós mudamos. Só que logo logo percebemos que nunca é assim, porque nunca é suficiente, porque na realidade a felicidade não depende só de nós. Depende também dos outros. Por isso a razão está certa, Caeiro tem razão, não há máquinas de fazer felicidade, não há assim tanto poder nosso de mudar o mundo e de mudar os outros e raramente a felicidade dos outros está nas nossa mãos, mas tantas vezes nas mãos dos próprios, mas ainda assim nós mudamos, porque nos vamos moldando e moldando tanto que às vezes já nem sabemos qual a nossa forma inicial. Às tantas, quando damos por nós, já não somos nós, mas um nós tão diferente que já não nos reconhecemos.
Isto das coisas, da vida e da felicidade é apenas uma bola de neve gigante em avalanche. Uma queda vertiginosa sem fim... até que finalmente um dia o fim alcança, quando bate na rocha e toda a bola gelada se desfaz... É inevitável.
E confesso que esta inevitabilidade das coisas e da falta de controlo que me assusta, porque parece que por mais que façamos, parece que não temos o controlo de nada, que as coisas se desenrolam naturalmente, por si. Alberto Caeiro dizia que assim deveria de ser a vida, apenas vivida, sem questionamento, apenas sentia, observada, cheirada. Eu não gosto, não suporto sentir que perco o controlo da bola maciça que desce em queda livre do precipício. Até posso compreender a ideia, mas não a aceito, de todo!
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P.S.: E após tantos dias de silêncio, sinto que foi uma entrada a pés juntos... Perdoem-me, os dias passam mas as estações continuam a não mudar, talvez por isso tenha resistido tanto em vir dá dar uma perninha e duas letras de conversa.
Toda a vida ouvi a expressão: "É como andar de bicicleta. Nunca se esquece! " e descobri ao fim destes anos todos que isso não é verdade!
Desde miúda que andava de bicicleta, nunca tive dificuldades, comecei com as rodinhas mas rapidamente as tirei.. Como adolescente, continuei a andar de bicicleta e sempre me foi relativamente fácil, apesar das dores de rabo e pernas, iniciais.
Entretanto passaram-se cerca de 15 anos sem que voltasse a dar uma voltinha, já que não tenho nenhuma.
Um destes dias em casa de uma amiga pedi para dar uma voltinha na bicicleta dela. Tinha imensas saudades. A alegria, a emoção... O CHOQUE! Já não sei andar, gente! Já não me equilibro, já não sei curvar, já não tenho se quer confiança para tirar os pés do chão!
Toda a vida me disseram que andar de bicicleta nunca se esquece, descobri aos 32 anos que não é verdade! O pior é que ando com ideias de comprar uma pra voltar a andar, essencialmente agora que deixei o ginásio devido à pandemia... Mas... Não quero voltar a passar pelas quedas, pela taralhoquice que é reaprender a andar...
Vocês que me acompanham, vocês que de certa forma conhecem-me e têm um pedacinho de mim, sabem, já passei por algumas coisas nesta vida que me obrigaram a crescer, e a ser a mulher que sou hoje. Não me acho uma mulher inocente, até acho que sou bastante desconfiada, e bastante analítica e objetiva na vida. Não sou mulher de acreditar em milagres, ou em sonhos utópicos ou em realização de coisas impossíveis, ainda que não seja propriamente a melhor pessoa a aprender com os erros, que a minha teimosia mais do que tudo, obriga-me a insistir, a resistir e tantas vezes a pirar, mas ainda assim a minha cabeça permite-me ter, normalmente, os pés bem assentes na terra, por muito que o coração palpite por algo diferente. Quase sempre a cabeça leva a melhor. Vivo no plano do exequível, não no plano do sonho. É a minha forma de proteção, creio eu.
Ainda assim dou por mim tantas vezes a ter um lado inocente, onde me dispo de todos os pré-conceitos e de aprendizagens passadas e me atiro de cabeça com sonhos, com esperanças, com a crença de que é possível, de que tudo vai correr efetivamente bem como se dependesse exclusivamente de mim, da minha vontade. Mas a verdade é que nem sempre depende de nós, ou vá, nem sempre depende exclusivamente de nós e às vezes não sei se deveria de deixar, como deixo tantas vezes, este meu lado de menina e não de mulher, levar a melhor. Porque não, nem sempre fica tudo bem, nem sempre é possível, nem sempre há esperança, nem sempre há o que fazer e possibilidades de remediar.
E por isso apesar de ser mulher independente, dou por mim tantas vezes a ser menina carente. E por isso apesar de ser mulher com uma boa noção da realidade, dou por mim tantas vezes a ser menina que sonha e que planeia futuros num futuro, sem futuro. E por isso apesar de ser mulher maioritariamente de sangue frio, dou por mim tantas vezes a ser menina de emoções que chora por tudo e por nada. Dou por mim, a ter medo. Medo de falhar, quando tantas vezes não depende exclusivamente de mim, mas dou por mim a ser inocente ao ponto de carregar nos ombros as culpas e as falhas que nem sempre me pertencem realmente.
Sou humana, suponho que isto é ser humana. Às vezes gostava de ter um lado biónico. Programar o coração para o bom senso e para a moral, mas ter um lado biónico... ou capricónico, vá que isto de ser Carneiro dá demasiado trabalho.
Tirei a semana para arrumar a casa, mas a virtual. Formatar PC, telemóvel, organizar dados, etiquetar fotos e documentos, organizar o blog e começar a colocar tudo em caixinhas.
Às vezes é importante arrumar a casa, casa arrumada, alma ainda mais arrumada.
Nem sempre é fácil colocar por palavras o que nos vais na alma. Nem sempre é fácil explicar o que sentimos porque tantas vezes nem nós realmente compreendemos. Não é fácil sentir, e por mais anos que viva acho que nunca irei compreender-me totalmente. Mas aceito-me assim! Acredito piamente que no meio da turbilhão de emoções que não compreendemos, importante é descobrir formas de extravasar, sejam elas exageradas ou não, sejam elas espelho inequívoco do que sentimos ou não, e a minha forma de tentar expor os meus pensamentos difusos é através de palavras, quase nunca em prosa, porque a prosa requer muito mais conhecimento de nós, requer muito mais maturidade emocional que a que tenho. Resta-me escrever em verso. Nestas alturas, resta-me escrever em verso. Restam-me as metáforas, as analogias, as rimas, tantas vezes confusas como só eu consigo ser.
Era uma vez...
Era uma vez um menino,
De olhar meigo, sorriso de criança,
Que fez apaixonar uma menina,
E dar-lhe à vida uma nova esperança.
Foram felizes um dia!
Ouviam-se as gargalhadas à beira mar.
E entre promessas e beijos,
Ali perceberam o que era amar.
Mas a maré um dia mudou,
E pela tempestade a menina foi apanhada.
Rebolou no mar, os joelhos esmurrou,
Pra bem longe da costa, a menina foi levada!
E era uma vez uma menina,
Que assustada pela vida, da felicidade fugiu.
Que de alma ferida, o seu coração não ouviu!
Perdeu o tino, a menina!
E aí a menina se apercebeu
Que por tudo o que é e fez, o menino perdeu,
Deixando apenas a lembrança,
Dos dias felizes, da cómoda segurança...
Quando a tempestade acalmou,
A menina, o menino tentou encontrar,
Mas de vestígios de quem amou,
Apenas vazio, no seu lugar!
Mas a menina, não desistiu. Procurou,
Por entre mato, destroços e dor,
Aquela chama de quem verdadeiramente amou,
Que não se apaga assim, quando é amor!
Dizem que aos lugares felizes não devemos voltar,
Que apenas encontramos vazio e indiferença,
Mas enquanto uma ténue e fraca chama brilhar,
Vale a pena, manter a fiel crença!
E assim a menina reencontrou a esperança,
E o coração do menino tentou reanimar,
E para sabermos como termina a história,
Em nós, os meninos de outrora teremos de encontrar!
Desde que estou em teletrabalho que me passei a aperceber da existência de vizinhos que até então não sabia que existiam. Há um que passa os dias aos berros ao telefone, na varanda, a gritar que é honesto e que não enganou ninguém.
Não conheço o senhor de lado algum, mas pela quantidade de vezes que o ouço a repetir isto... Tenho cá para mim que não será bem assim.