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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

À descoberta do norte de Espanha

Nestes últimos dias estive tão perto e tão longe... felizmente o sapinho permite agendar posts e lá tive de recorrer a esta ferramenta ao longo destes 5 dias, para que nem dessem pela minha falta.

 

"E por onde andaste Mula?" Perguntam vocês.

 

Nestas mini férias parti à descoberta do Norte de Espanha, praticamente de mochila às costas, sem hotéis reservados, sem nenhum percurso rigidamente marcado. Correu tudo bem e apesar de estar preparada para dormir no carro, encontrei sempre um sitio jeitoso para esticar as costas, fechar os olhos e tomar uma banhoca quentinha.

 

A ideia era termos ido até o País Basco, mas fomos demasiado ambiciosos e ficamo-nos pelas Astúrias e pela Cantábria - a Corunha já conhecíamos.

 

Dia 1

Com o objectivo de dormirmos a primeira noite em Ponferrada, passamos por Puebla de Sanabria, uma terra situada no nordeste de Zamora, para cenarmos. Nesta terra encontramos um restaurante com um ar muito catita, todo moderno onde comi uma das melhores pizzas da minha vida. Entretanto descobrimos que o restaurante também era Hostal - Hostal Carlos V, com uma pontuação de 9,2 no booking - e acabamos por ficar a dormir por esta bela terra.

 

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Demos um belo passeio à noite, descobrimos um centro histórico fantástico, com direito a castelo a 960 metros de altitude construído na segunda metade do século XV. Quem me conhece sabe que adoro castelos, por isso, foi uma boa descoberta. Perto do castelo encontramos ainda uma igreja construída no século XII - a Igreja da Nuestra Señora del Azogue - toda ela muito trabalhada, com duas estátuas esculpidas em pedra na entrada da mesma. As igrejas espanholas, pelo menos as do norte de Espanha, possuem uma arquitectura muito diferente das portuguesas e talvez por isso, fique sempre maravilhada quando as vejo.

 

(Puebla de Sanabria - Imagem retirada de evadium.com)

 

Dia 2

Com temperaturas quase a chegar aos 0º, prosseguimos viagem acompanhados por um denso nevoeiro que se manteve fiel numa boa parte do nosso caminho na manhã do segundo dia. A verdade é que quando não muito cerrado, gosto de viajar com nevoeiro, porque gosto da mística das cores, gosto da sensação de frio que está lá fora, estando eu quentinha no interior do carro... Gosto das cores que o dia ganha...

 

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Pelo caminho encontramos também algumas estações ferroviárias desactivadas, e alguns caminhos ferroviários reabilitados para serem utilizados como caminhos pedestres, como é o caso deste em Benavente, na província de Zamora. Apesar do frio que se fazia sentir, vimos bastantes pessoas a fazer jogging ou simplesmente a caminhar...

  

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E quase a chegar a Léon o sol apareceu... Provavelmente para que eu visse bem, sem qualquer dificuldade algo que desde logo desejei provar - sim eu sei, sou uma pessoa muito, muito, muito, muito gulosa - não dizem que devemos provar a gastronomia local?

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Léon, foi uma das grandes surpresas destas férias. Imaginava uma terra demasiado pequena para ter algo agradável à vista e não podia estar mais enganada. Que é uma terra pequena é verdade, mas tem uma riqueza arquitectónica que só visto. Com a sua imponente catedral gótica e com a Basílica de Santo Isidoro, Léon conquistou-me sem grandes dificuldades.

 

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Na fotografia do lado esquerdo, podemos ver o Museu de Léon, que além das exposições temporárias, conta com uma exposição permanente que narra a história cronológica da cidade, através da arte, da etnografia e da própria arqueologia.

 

Na fotografia do canto superior direito, encontra-se o Palácio de los Guzmanes, que é um palácio renascentista, situado na praça de San Marcelo, construído no século XVI, ao lado, situa-se a Casa Botines, desenhada por Antoni Gaudí.

 

Na fotografia do canto inferior direito, vemos a Plaza Regla, que é a praça onde se situa a catedral.

 

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 Casa Botines - Léon

 

E porque com o material fotográfico que possuo era impossível tirar uma fotografia à catedral, nada como pedir uma ajuda ao sr. Google.

 

 (Imagem retirada de eyeonspain.com)

 

O que verifiquei por estas terras espanholas é que os espanhóis adoram estátuas, e aqui estão alguns exemplos do que encontrei por Léon.

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E porque nem só de paisagens e monumentos se faz a caminhada de uma pessoa, de sustento, como eu, fizemos uma paragem para almoço. Apesar de me ter alimentado nestes dias, posso dizer-vos que, na minha opinião, de todos os países por onde passei, Espanha é o pior país para se comer. Não há nada, é que não há mesmo nada, nos pratos mais típicos deles - com à excepção da paelha que adoro - que me faça salivar... Passamos por várias ruas pedonais carregadas de restaurantes e tudo o que eles comem é deveras estranho... Resultando no quê? Em idas frequentes a McDonalds e seus semelhantes. Decidimos experimentar um fast food diferente em Léon. Fomos ao Vips e experimentamos umas sandes diferentes. Para ele uma Sanduíche Alabama BBQ - com pão chapata, vitela assada, queijo cheddar, molho de barbecue, cebola frita e molho de pickles doces - para mim, Vips Roll Brooklyn - que é nada mais nada menos que uma espécie de pão de forma enrolado com frango grelhado, fiambre, bacon fumado, queijo fundido, cebola caramelizada e molho de maionese e mostarda, para acompanhar e para molhar, um molho de mostarda e mel -, ou seja, uns menus bem americanos em Espanha. Gostamos bastante, ainda que dispensasse bem o molho de pickles doces... 

 

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Entretanto, como o objectivo era, e foi, dormir em Oviedo, metemos pés ao caminho, e lá seguimos para mais uma cidade Espanhola, cada vez mais a norte. Desta vez a cidade era grande, diria até enorme, com um transito meio caótico e confuso. No dia seguinte descobrimos que era mais bonita e menos confusa do que parecia

 

Dia 3

E no terceiro dia, acordamos em Oviedo, terra das estátuas, capital das Astúrias. E se é a terra das estátuas, vamos lá cumprimentar o Rufus, sim? Para mim a estátua mais bonita de toda a cidade, mas também sou capaz de ser suspeita.... Será, provavelmente a estátua mais recente que a cidade acolheu, uma vez que foi em Setembro deste ano.

 

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Lembra-se dos quase 0º que estavam em Puebla de Sanabria? Pois bem... esqueçam esse frio. Aqui apanhei temperaturas de 25º... E como não contava, com tanto calor, envergava um fantástico casaco de pelo e umas botas até ao joelho enquanto o povo se bamboleava de vestidos de alças e tops cavados. Sim, devo ter passado por anormal, sim, sentia-me anormal, não, não tinha nenhuma roupa mais fresca para trocar!

 

Mais algumas estátuas que se encontra pelo Paraíso das Astúrias.

 

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E porque catedral que é catedral, só fica bem nas fotos dos outros... Cá vai a Catedral com recurso ao Google.

 

 (Imagem retirada de intravel.es)

 

 E mais algumas imagens de Oviedo...

 

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Encontrei pelo caminho uma feira de queijos e muita gente a beber sidra nas esplanadas, com um ritual muito estranho no acto de servir, como verão de seguida. Feita de um modo bastante artesanal, a sidra asturiana, é feita com maçãs Raxao e Xuanina, essencialmente, típicas da região das Astúrias. A forma de servir esta sidra também é muito importante. Não se deve encher o copo mais do que três centímetro e para servir deve-se afastar a garrafa do copo o mais possível, sendo que este impacto da bebida, "rompe" a sidra, como eles dizem, originando uma oxidação para que adquira uma espécie de gás, a este processo de servir a sidra, os espanhóis chamam de "escanciar".

 

 (escanciar a sidra - Imagem retirada da internet)

 

Ei-la. Não poderia sair das Astúrias sem experimentar esta bebida, no entanto, não gostei... Engane-se quem acha que é parecida com uma somersby ou uma sidra mais normal, a verdade é que me sabia a sumo de azeitonas, ou algo muito semelhante... É amarga, e a Mula não é muito fã de bebidas amargas...

 

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Provada a Sidra, e uma tortilha de  batata, algo também bastante típico por cá, seguimos viagem, e foi altura de descobrir uma terra de nome esquisito, plantada à beira mar: Gijón

 

(Imagem retirada da internet)

 

Vimos esta cidade só assim de passagem, porque o nosso grande objectivo era chegar a Santander e ainda nos faltavam mais de 150km para lá chegar. Sei que pretendo regressar a Gijón, porque sei que perdi muito em não dar uma volta pelo centro mais histórico. Tentei passear na zona marítima, mas o transito estava caótico e o estacionamento não existia, acabamos então por conhecer outras partes de Gijón também muito bonitas. 

 

Foi aqui nesta terra que descobri a universidade mais bonita até agora vista e foi aqui que passamos a tarde.

 

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A quem não conhecer, apresento-vos a Universidade Laboral de Gijón, com 270 000 m² é considerado o maior edifício espanhol. Construída entre 1946 e 1956 teve como principal objectivo formam crianças órfãs, cujos pais tinham morrido num grande acidente mineiro, na região, em meados dos anos 40. Como tal, este espaço é constituído pela escola, residência, oficinas industriais, espaços de cultivo, igreja, teatro e instalações desportivas.

 

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Apesar de já ter albergado mais de três mil alunos, em meados dos anos 80, o edifício ficou abandonado e começou a deteriorar-se com o tempo. Com o edifício sem utilidade o Governo do Principado pensa na possibilidade de o eclodir para que o espaço desse lugar a um complexo habitacional. No entanto, felizmente é aprovada a reabilitação do espaço e em 2001 iniciam-se as obras de reabilitação, que duraram até 2007, dando origem à fundação Ciudad de la Cultura, sendo realizadas no local vários eventos culturais.

 

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Actualmente encontra-se ainda neste edifício, a Facultad de Comércio, Turismo y Ciencias Sociales Jovellanos e  Escuela Superior de Arte Dramático de Astúrias, bem como o Conservatório Profissional de Música.

 

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Este espaço, foi também palco de vários filmes espanhóis.

 

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Tanto que vos fica por mostrar... mas o melhor, garanto-vos, o melhor ficou na minha memória, e espero nunca conseguir esquecer.

 

E vejam lá o que eu ainda encontrei por Gijón!

 

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E bem que tentamos seguir o balão... Mas depois desapareceu da nossa vista, e após o tão desejado McExtrem BiBo do chef Dani García seguimos viagem até à Cantábria!

 

Dia 4

Acordamos em Santander. E que calor fazia em Santander. 30º meus queridos. TRINTA GRAUS! A minha roupa continuava a ser a mesma... roupa de inverno, botas e casaco de pelo. A minha sorte foi que tinha tops de alças interiores, e lá andei de roupa interior na rua!...

 

Fomos a Santander com um objectivo bastante específico. Eu via uma série espanhola, da qual era grande fã - Gran Hotel - então gostava de conhecer o cenário onde era passada a série.

 

"Foram a Santander, só por causa de um Palácio e de uma falésia?", fomos pois. Somos doentes pois, mas fiquei tãaao feliz! 

 

 

Ei-lo. Chama-se Palácio de La Magdalena, foi construído entre 1909 e 1911 encomendado pela Família Real, sendo casa de férias do Rei D. Afonso XIII, tendo sido ocupado por estes até à proclamação da segunda república, em 1931.

 

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Digam lá que não é lindo, fantástico e maravilhoso?

Dentro de um estilo ecléctico, combina elementos ingleses, chineses e franceses.

Ora aqui estão mais algumas imagens do mesmo...

 

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Tendo ficado um ano encerrado, reabriu em 1932 para albergar a Universidade Internacional Menéndez Pelayo, com cursos de verão, como línguas e literatura espanhola para estrangeiros, funcionando até 1945. No verão de 1949, a sede da universidade regressa ao Palácio de la Magdalena, até aos dias de hoje.

 

Em 1993 foi realizada a reabilitação do Palácio, que se encontrava um pouco deteriorado.

 

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Mas nem só o Palácio embeleza esta cidade plantada à beira mar.

 

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E muitas outras paisagens são de encantar... Com praias fantásticas, acho que vou ter que passar cá num verão próximo para aproveitar o calor em bikini. 

 

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Visitada a cidade, lá seguimos para Portugal, por Valladollid. Deveríamos de ter chegado a casa nessa mesma madrugada, mas após 500km achamos melhor ficarmos a dormir pelo caminho e lá aterramos em Bragança.

 

Na lembrança trouxemos todos os cheiros, todas as paisagens.... Mas já estava na altura de regressarmos a Portugal, porque já sentíamos falta da comida portuguesa, mas nada que uma feijoada à transmontana e uma vitela grelhada com batata a murro, não tivesse resolvido.

 

E hoje após 2300 kms, já estou em casa, sinto-me por um lado cansada, por outro lado saudosa, e por estranho que pareça, até parece que já lá fui há muito tempo... nem parece que cheguei a casa apenas ontem... Acho que me sentia com coragem para regressar à estrada!

 

Norte de Espanha? Sim a Mula, recomenda!

 

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