A espera
Como cantam os Xutos e Pontapés...
Longa se torna a espera, na névoa que cobre o rio. Lenta vem a galera, na noite quieta de frio.
Longa se torna a espera quando dela depende a nossa vida. Longa se torna a espera quando o que se encontra no fim da ponte é o que desejamos, é o nosso futuro, é o que achamos ser nosso, mas que não é. Longa se torna a espera quando temos apenas de esperar, mas não gostamos de esperar.
Se eu roesse as unhas teria-as todas roídinhas, teria sangue nos dedos e os dentes cheios de pele e sangue. Se eu voltasse a sofrer das comichões que sofri há uns anos provocadas pelos nervos da espera, já estaria toda arranhada, toda marcada pelas unhas afiadas e limadas.
Não roo as unhas, nem sofro de comichões, sofro de taquicardia. Sofro de diurese. Sofro de perda de memória a curto prazo e tremeliques nas mãos.
A espera mata, a espera corrói. A espera acelera o coração que bate acelerado. A espera faz-me querer chorar, mas faz-me também querer sorrir, porque enquanto há espera, há esperança. Quando a derradeira vier já não há SE nem Talvez!
E eis que surge o outro bater do meu coração acessório, a chamada, desejada que provocou a espera.
E como cantam os Xutos e Pontapés:
E quando eu apanhar finalmente, o barco para a outra margem, outra que finde a viagem, onde se espere por mim.
Terei, terei mais uma vez a força, para enfrentar tudo de novo, como a galinha e o ovo, num repetir de desgraças
Com a chamada, novos nervos, novas esperas, novos batimentos cardíacos acelerados. Acalma por breves instantes o irradiar do coração, mas bombeia ainda com mais força, ainda com mais violência e nada a fazer....
Resta-me continuar a esperar!