A Mula foi ao SNS
Estou doente, e por isso decidi recorrer ao Serviço Nacional de Saúde. Como estava a trabalhar e não queria ir ao médico ao engano decidi telefonar para o centro de saúde onde pertenço. Irei agora reproduzir esse telefonema:
- Centro de saúde de V. boa tarde?
- Boa tarde, eu precisava de uma consulta de urgência, seria possível saber se ainda há vagas?
- Hmm.... isto hoje está muito complicado, mas ainda temos três vagas!
- Muito bem, eu ainda estou a trabalhar, seria possível marcar por telefone?
- Não, tem mesmo de vir até cá.
- Mas eu preciso mesmo da consulta, mas estou a trabalhar e só consigo sair daqui a uma hora, pelo que se pudesse realmente abrir uma exceção....
- Não, não, tem mesmo de vir cá.
- Ok! Obrigada e boa tarde.
E assim que saí do trabalho, desloquei-me de imediato ao centro de saúde em questão. Quando lá cheguei, pouco depois das 14h, várias pessoas rodeavam o balcão. "- Lá se foram as três vagas..." pensei. De repente, uma miúda que não aparentava ter mais de 18 anos, questiona se alguém presente pretende uma "consulta aberta" (aka consultas de urgência). Lá me aproximei, percebi que a miúda trabalhava no centro e lá solicitei a consulta. Indicou-me ter uma vaga para as 19h30. Aceitei e prontamente a miúda entrega-me o papel que confirma a consulta marcada. "- Agora é só esperar" pensei.
Às 19h esperançosa que a doutora fosse atender mais cedo, desloquei-me novamente ao centro de saúde com o papelzinho na mão e sou atendida novamente pela miúda nova. A próxima conversa, infelizmente é uma conversa real...
- Boa tarde, tenho consulta às 19h30 tenho que fazer mais alguma coisa?
- Boa tarde, sim sim, tenho só que lhe confirmar aqui no sistema para a doutora a chamar.
- Ok!
Ao fim de alguns minutos a miúda balbucia:
- Ah... Você não está a aparecer aqui no sistema...!
- Não estou? Como assim? Tenho aqui o papel que confirma a consulta!
- Pois tem... e foi comigo, não foi? Eu lembro-me de si... Sabe... se calhar esqueci-me de carregar em guardar e depois o computador também dá uns vipes e depois é isto... Se calhar já não vai conseguir ser vista pela doutora...
Fiquei atordoada. Eu, mula, que já mal me aguentava em pé, carregada de dores de cabeça fiquei completamente embasbacada a olhar para a miúda que se ria e gesticulava muito... Ainda não sei se fiquei chocada pelo facto de ela se ter esquecido de "carregar em guardar" ou apenas porque se estava a rir quando eu estava com vontade de lhe bater.
Respirei fundo e o mais calmamente possível, disse:
- Faça como entender, mas eu preciso desta consulta!
- Ah, sabe que isto nunca me tinha acontecido...
- Nem a mim!
Quando finalmente percebeu que eu não iria sair dali e que tinha tudo menos vontade de me rir, lá levantou o rabinho e foi falar com a "doutora". Quando voltou balbuciou: "- A doutora já a vai receber..."
Claro que esse "Já" transformou-se numa espera de 30 minutos e no tempo que lá estive apreciei algumas situações caricatas:
- Afinal as "três vagas" são como as vidas do Son Goku - são renováveis - e o "isto hoje está muito complicado" é apenas uma lengalenga que aprendem no curso de rececionista de centros de saúde. Donde retiro estas conclusões? Uma senhora conseguiu uma consulta e já passavam das 19h30.
- Afinal o "nunca me tinha acontecido" acontece algumas vezes, e um senhor que chegou depois de mim também "ah... não aparece no sistema", porque o sistema dá vipes e coiso e tal, e "se calhar a doutora já não vai poder recebê-lo", mas também consegue uma consulta de "última hora".
Adoro o Serviço Nacional de Saúde! Deviam de morrer todos com uma seringa espetada no ............. cotovelo, para verem o que é bom para a tosse!
Desejo-vos melhores experiências.
See You*