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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

A Mula informa - Depressão pós-parto

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Hoje, dia 10 de Outubro, é o Dia Mundial da Saúde Mental e como aqui a Mula não fala só de baboseiras, até porque a Mula também sabe umas coisinhas interessantes, vou-vos falar de um assunto muito sério, que afecta 10 a 20% das mulheres em todo o mundo, a depressão pós-parto (DPP).

 

Diz-se no senso comum, que a depressão é um problema da classe média-alta, que por ausência de preocupações reais, deprime. Diz-se ainda por esses autocarros fora, que quem tem de trabalhar todos os dias de sol a sol, não tem tempo para ter depressões. A verdade é que se diz muita coisa, porque infelizmente as pessoas podem dizer o que bem quiserem, mesmo quando não fazem ideia das parvoíces que saem boca fora. Digam o que disserem, a depressão, com todos os seus contornos, é uma doença em crescimento que afecta milhões de pessoas em todo o mundo e que pode ter as mais variadas origens.

 

Como sabem, eu escrevo muito, e como tal, se eu fosse a escrever sobre a depressão de uma forma mais abrangente não sairíamos daqui. Decidi por isso, e numa altura que o meu relógio biológico berra, focar-me só e apenas na DPP, que foi uma das minhas grandes "especialidades" no segundo e terceiro ano da faculdade.

 

Por isso preparem-se, e se estiverem com pressa, o melhor é nem começarem a ler... espera-vos um longo texto informativo.

 

Maternidade/Paternidade

Apesar de a maternidade ser vista de forma diferente, dependendo de cada civilização, existe muito a ideia - independentemente do tipo de povos, credos, localização geográfica ou etnias - que uma mãe deve desejar e amar o seu filho incondicionalmente, sendo culturalmente impensável que a mãe possa nutrir algum tipo de sentimento negativo para com o seu bebé. Mesmo ao nível dos primórdios da psicanálise, a possibilidade do ódio materno foi ignorado, aceitando-se apenas o ódio dos filhos para com os pais - como acontece aquando do complexo de Édipo e na adolescência.

 

No entanto, e contrariamente ao que é difundido socialmente, a maternidade não é um processo natural, e o desejo de ser mãe, não é algo que faça parte da condição feminina, e a prova disso, é que há muitas mulheres por este mundo fora, que não desejam ser mães, e nem por isso devem ser olhadas como se fossem um bicho do mato.

 

Algo que é importante reter, é que uma gravidez é muito mais que um espermatozóide que encontra numa discoteca qualquer, um ovulo com quem se envolve e origina um novo ser. A gravidez, é todo um processo de alterações biológica - ex.: alterações ao nível hormonal -, somáticas - ex.: alterações ao nível do peso -, psicológicas - ex.: reajustamento ao nível dos papéis na sociedade -  e sociais - ex.: alterações dos círculos de amigos. Todas estas alterações, podem provocar na mãe, confusão, letargia, ansiedade, que evoluindo negativamente pode resultar numa depressão, que nada tem a ver com o desejo - ou falta dele - de ser mãe e/ou pai. Muitos casais que planearam ter filhos sofrem de DPP assim como muitos casais que não planearam ser pais, podem integrar as tarefas parentais com sucesso e não sofrerem qualquer tipo de transtorno pós-parto. No entanto, quantos mais factores de risco - como gravidez na adolescência, conflitos conjugais, passado de depressão, entre outros - maior a probabilidade de vir a ter DPP, mas como qualquer outro factor de risco, noutras situações, não é preditivo.

 

Mas afinal o que é isto da depressão pós-parto?

A depressão pós-parto pode definir-se como sendo um transtorno mental que pode provocar várias alterações emocionais, cognitivas, comportamentais e físicas. Na mulher pode, ou não, iniciar-se logo após o parto e durar até ao segundo ano de vida do bebé. No homem existe maior incidência entre o 4º e o 6º mês e estima-se que ataca um em cada sete homens em todo o mundo.

 

Ainda que a DPP se manifeste nos dois sexos, é importante referir que têm origens diferentes. Se na mulher as origens são as alterações já referidas, nos homens, o que mais contribui para a sua depressão é a falta de apoio por parte da mulher. Nesta fase, mãe e bebé são um só, o que faz com o homem se sinta apenas mero observador que serve apenas para satisfazer as necessidades da mãe e do filho, sentindo que ninguém se preocupa em satisfazer as suas próprias necessidades, desta forma, a DPP no homem, surge como uma chamada de atenção inconsciente.

 

Quer no homem, quer na mulher os sintomas são semelhantes e incluem: ansiedade, a incerteza, a tristeza profunda, o desespero, a fadiga, a perda de interesse sexual, falta de concentração, pensamentos mórbidos, a impotência e o choro fácil. Na mãe, são ainda comuns os sentimentos de culpa, a vergonha, a intolerância e a cólera essencialmente para com o bebé. Às vezes, só o facto de o bebé começar a chorar, poderá despoletar na mãe sentimentos de desespero, porque se por um lado esta se sente esgotada, por outro, teme não estar a ser boa mãe, entrando assim em conflito consigo própria.

 

Tal como é habitual na área da saúde, são as mulheres que maioritariamente pedem ajuda aos profissionais de saúde, no entanto, por medo dos seus próprios sentimentos, e com medo do que a sociedade poderá pensar de si, é muito comum a mulher fechar-se e não pedir ajuda, o que poderá agravar o seu estado. É por isso muito importante, os familiares e amigos conseguirem avaliar, minimamente a mulher para a poder ajudar. O que acontece muitas vezes, é que este estado de confusão da mãe é desvalorizado, porque "como teve um filho é normal ficar assim... está cansada", mas como iremos verificar de seguida, quando os sintomas se estendem para além da segunda semana do pós-parto, os sintomas descritos já não deverão ser considerados normais.

 

A tristeza inicial, aquando do parto é normal, e não significa DPP

Brincando um pouco, como já vimos, ser mãe não é só abrir as pernas e fazer força, e como tal, é normal, que a mulher não sinta, logo no primeiro momento, conexão com o seu bebé. A mãe, essencialmente se teve um parto complicado e demorado, está cansada e ainda não se habituou à ideia de que existe um outro ser que precisa dela, mais do que ela própria. A mãe quer dormir, quer desesperadamente dormir. E existe assim uma outra explicação para estes sintomas de tristeza e recusa inicial de contacto com o bebé. Os especialistas denominaram esta situação de Baby Blues e estima-se que atinja cerca de 85% das mulheres em todo o mundo. Especialistas crêem inclusive que este valor seja mais elevado, mas que, pelas questões sociais e culturais, que já referi associadas à maternidade, podem causar medo e vergonha, levando as mães a não admitirem estas dificuldades, consideradas normais. Assim sendo podemos definir o Baby Blues como sendo um síndroma afectivo ligeiro que se poderá manifestar durante as primeiras horas e estender-se até à segunda semana do período do pós-parto.

 

Apesar desta situação ser, clinicamente, considerada normal, é necessário avaliar a mãe para que este quadro não evolua, efectivamente, para uma depressão.

 

Acima de tudo, quer no quadro de Baby Blues quer na efectiva Depressão Pós-Parto, o apoio da família nuclear e amigos mais próximos é essencial para que quer a mãe, quer o pai, possam ultrapassar o mais rapidamente este problema, sem consequências maiores. Esse apoio deverá vir isento de julgamentos e exemplos, porque cada caso é um caso, e às vezes um mero exemplo inocente de "olha eu tive uma amiga que também passou por isto e bla bla bla" pode colocar na mãe, ou no pai, uma pressão ainda maior da que estão a viver e surtir o efeito contrário, por isso muito cuidado com as palavras, porque se por um lado a palavra tem, ou pode ter, o dom da cura, também tem o dom da doença. Muito bom senso, sim?

 

Por isso, já sabes: Vais ser mãe? Tens algum familiar ou amiga que vai ser mãe? Está atenta aos sintomas deles e delas, porque tu também podes ajudar!

 

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