A quê que sabe a vossa infância?
A minha infância sabe a bolo de arroz. Era doida por bolo de arroz. Deste tradicional com o rótulo azul, muito docinho, muito saboroso, que encontrávamos em qualquer café que se prezasse.
Lanchar fora era sempre uma alegria, porque lanchar fora com a mãe significava o meu bolo de arroz e um pingo de carioca que eu tanto gostava. Falo-vos de uma altura que não deveria de ter mais do que 5 anos, e durante anos, este foi o meu bolo favorito. Simples, sem creme, mas cheio de açúcar - e gordura, pois claro - e sabor.
Há inclusive uma história engraçada que roda à volta deste meu deleite.
Morava mesmo em frente a um café, era por isso conhecida ali na zona. Um dia, estava em casa e disse à minha mãe que queria um bolo de arroz e um pingo, deveria de ter uns 6 ou 7 anos, e a minha mãe deu-me dinheiro e disse-me:
"Tens de escolher: Ou comes o bolo, ou bebes o pingo."
Tentava incutir-me responsabilidades, pobre coitada, e como tal, deu-me apenas dinheiro que cobriria a despesa de uma das coisas. Lá fui eu, desci as escadas, atravesso à rua e peço:
"Queria um pingo e um bolo de arroz, se faz favor!".
Era descarada, mas era bem educada, sempre fui. Comi, bebi, quando chegou a hora de pagar disse toda orgulhosa:
"Está aqui o dinheiro do bolo de arroz, o pingo, depois o meu pai paga."
E assim, esta miúda, que nada sabia da vida, dava a volta ao texto em 5 segundos sem se apoquentar com as coisas. É uma história que ainda hoje em família desperta muitas gargalhadas, e já se passaram mais de 20 anos. Não me lembro se me ralharam, se me castigaram, se apenas se riram, lembro-me apenas desta história, assim, apenas assim.
Hoje em dia os bolos de arroz já não sabem ao mesmo e confesso que não entendo quem mudou: se eles, se eu. Sinto-os mais secos, mais farinhentos, menos doces, ou talvez seja eu que por ter deixado a infância lá tão no passado, já não saiba apreciar o verdadeiro bolo de arroz, mas a verdade é que na minha memória são muito mais saborosos.
E a vossa infância, sabe a quê?