Aos poucos...
Aos poucos cada dia é mais fácil.
Cada dia que passa é menos uma lágrima derramada, menos desespero e agonia e aos poucos a normalidade instala-se. Não que queira cometer os mesmos erros mas tenho saído, tenho evitado estar em casa, aos fins de semana, para evitar cair na depressão da solidão. Aos fins de semana eu nunca estava em casa, estava sempre com ele e por isso os fins-de-semana são os dias mais dolorosos. Não estou a enfiar a cabeça na areia, não desta vez, não estou porque não há nada mais que eu possa fazer, e o que não tem solução, solucionado está. Por isso resta-me espairecer, distrair-me, curar-me. Sol e mar nunca fizeram mal a ninguém. A paz ajuda-me a colocar a cabeça no lugar, as conversas longas com os amigos ajudam-me a ter um dia menos cinzento, menos doloroso. Aos poucos junto os meus cacos.
Ainda há dias muito difíceis, dias em que me apetece largar tudo e recomeçar num outro qualquer lugar longe... Aliás recebi uma proposta para sair do país e não a coloquei totalmente de parte. Sei que não resolveria nada mas... Quem muda Deus ajuda, certo? Acho que preciso que Deus me ajude...
Saio essencialmente desta relação com a consciência que fiz tudo o que podia, tarde é certo, mas fiz tudo o que podia e até o que não devia - quando colocamos de lado o nosso amor próprio nunca é bom - para salvar um amor defunto. Chorei, implorei, desesperei. Não imploro mais. Nunca mais. Eu primeiro, tem de ser assim agora e sempre. Eu primeiro.
O moço quis decidir por mim. Diz que não é por ausência de sentimentos, mas que eu mereço que ele sentisse e fizesse mais. Que mereço alguém diferente, uma relação diferente. Tretas. Muitas tretas, e eu odeio que decidam por mim.
E aos poucos ganho a consciência de, porra, eu até sou uma mulher bonita, interessante e comunicativa. Alguém me irá aparecer e cativar. Não nas aplicações, que já as desinstalei... Não são definitivamente para mim e toda a gente acabou bloqueada. Mas alguém aparecerá para me arrebatar, não para me preencher, que não tenciono cometer o mesmo erro de me esvaziar por alguém, mas para me arrebatar e caminhar ao meu lado. Alguém que não queira decidir por mim.
Aos poucos...
Aos poucos reestruturo-me!