Autosabotagem
Dou por mim, algumas vezes, a sabotar-me. Arranjo constantemente desculpas para não avançar quando tenho medo de falhar. E a melhor forma de não testar, é arranjar desculpas que impeçam a mudança. Suponho que somos todos mais ou menos assim - ou então não -, mas creio que por vezes exagero. Considero-me uma pessoa corajosa, aventureira mas tenho muito medo da mudança. Para ir, para arriscar, implica não pensar e usar os meus instintos mais primários. Quando penso, quando faço um balanço entre os prós e os contras, frequentemente congelo.
A vida tem-me demonstrado que sou bastante adaptativa. Que faço aquilo que me proponho sem grandes efeitos colaterais, no entanto, e ainda assim sinto que sou uma pessoa avessa à mudança. Dei por mim a desejar não ser chamada para um emprego - em tempos! - porque o tipo de trabalho era totalmente diferente - apesar de ser o que queria... tão coerente! - e ter de fazer um horário diferente, e um percurso diferente de carro. Dou por mim a ter medo de me estabilizar porque, e se amanhã eu não quiser estar estável? Em suma dou por mim a ter medo de tomar decisões por medo de me arrepender e a desejar internamente manter-me igual, porque o igual eu já conheço, mesmo que o igual não me traga felicidade, mas traz-me confiança porque já conheço. E o conhecido traz conforto e... quem é que não gosta de viver confortável?
Por estas e por outras dou por mim a esperar que seja o tempo a resolver por mim. É o logo se vê. E por isso dou tantas vezes por mim a querer algo e a desquerer ao mesmo tempo. "Tomara que não funcione", mas se funcionar eu vou, porque eu sei e toda a gente sabe que é o que eu quero. "Eu não consigo!" Quando já me provei por A + B que sim, que consigo, que é possível, que ultrapasso. E estranhamente tantas vezes dou por mim a ficar feliz por não conseguir ter algo que desejava. E vice versa. Quão macabro é isto?
Tomei consciência disto há muito pouco tempo, e dou por mim a lutar internamente para que isto assim não seja, qual telespectadora revoltada de novela, mas é algo tão inconsciente... Tão difícil de controlar.
Dou por mim a perceber que tenho mais medo do desconhecido do que de aranhas. E olhem que eu tenho mesmo muito medo de aranhas.
Sinto-me tantas vezes um bicho estranho...