Concertos com gente dentro #1 Atitudes
Este fim-de-semana foi dedicado à cultura: Sábado fui até a Agrival* ver o concerto dos Amor Electro e domingo fui ao cinema ver o Pátio das Cantigas - já agora, digo-vos que gostei muito, mas acho que ainda vou gostar mais de O Leão da Estrela.
Adorei o concerto. Para mim, os Amor Electro são a melhor banda nacional dos últimos tempos e felizmente já tive oportunidade de os ver ao vivo umas 5 ou 6 vezes. Neste concerto, fizeram arranjos musicais distintos das versões originais, dando grande ênfase à parte instrumental - logo eu que adoro umas boas guitarradas - e ainda apresentaram uma música nova! Como adorei o concerto, poderia fazer aqui uma dissertação sobre o mesmo, com uma breve biografia da banda e afins, mas não é isso que me trás aqui de momento.
A verdade é que existiram várias pessoas que me tentaram irritar, e confesso que por momentos até conseguiram. Tinha dormido muito mal nessa noite, trabalhado 10 horas - em pé - e só tinha vontade de me esticar na cama e fazer "woooowww!!! Que dia, mas agora vou dormir!". Deste modo, confesso que a minha paciência não estava no nível correcto, e quando estou cansada, inflamo com muita facilidade - mas isso vocês também já devem ter reparado. A verdade é que do alto dos meus 27 anos, me sinto velha e sem energia e se acordo cedo, o meu corpo espera deitar-se cedo, do mesmo modo que quando me deito tarde, o meu corpo nunca, jamais, em tempo algum, sonha que me poderei levantar cedo, e isso às vezes acontece e ele também reclama. A minha mãe, com quase 55 anos, anda na night até altas horas e no dia seguinte vai trabalhar de manhã e não se passa nada. Gostava de ser assim, mas efectivamente dormir pouco e estar acordada muitas horas não é a minha cena.
Voltando ao concerto.
Felizmente que o concerto foi a pagar - ainda que um valor simbólico - pois permitiu, de certa forma, fazer uma triagem das pessoas que assistiram ao concerto. A verdade é que quando é grátis, as pessoas quer gostem quer não, se não tiverem nada de melhor para fazer, lá vão, e depois em vez de aproveitarem o concerto, fazem com que os outros que os rodeiem também não aproveitem. Mas ainda assim, existiam personagens estranhas, que por estarem tão compenetradas no seu umbigo, não percebem que estão a fazer um papel parvo, visto ser um concerto, e não um vulgo convívio de "animigos". Acredito que, se vocês foram recentemente a concertos grátis - ou não - que também se tenham cruzado com estes ornitorrincos dos concertos, mas caso tenham andado distraídos, passo a enumerar o que, paralelamente ao concerto, se passou por lá:
- Crianças nos ombros dos pais: Eu consigo compreender que as crianças são pequenas e não vêm nada lá do chão, mas sendo uma banda que atrai mais os adultos do que as crianças, não sei até que ponto é aceitável, ser a criança a ver o concerto, em vez dos adultos que se encontram atrás de si. Se fosse um concerto da Violeta, do Biber e afins, eu compreendia. Um concerto de rock, desculpem a minha pequenez, mas não consigo compreender. Felizmente, como fiquei um pouco mais atrás, não tive nenhuma criança dessas a tapar-me a visibilidade, mas ainda assim era vê-las a passar felizes e contentes - as costas dos pais é que não sei se iriam tão felizes e contentes.
- Menores sozinhas, de copo de cerveja na mão: Nem imaginam o quanto eu sonhei com uns pais assim na minha adolescência... Neste momento, ponho a mão na consciência e penso como é possível deixarem miúdas de 14/15 anos sozinhas à noite, num concerto que começou às 23h. E é ve-las orgulhosas de copo de cerveja na mão a considerarem-se muito adultas... Chamem-me antiquada, mas a verdade é que serei uma mãe igual à minha, pontualmente odiada pelos meus filhos, até porque isso passa - pelo menos a mim passou.
- Namorados, amassos e selfies: Poderia estar a falar de jovens adolescentes. Mas estou a falar de adultos, de mais de 30 anos, que passaram todo o concerto a tirar fotos, a agarrarem-se e a beijarem-se como se o mundo fosse acabar. Espero que o mundo não tenha acabado ali, sem antes terem arranjado um quarto para satisfazerem as suas necessidades. "Estás com inveja, Mula?", perguntam vocês. Não estou. Acho lindo beijar em público, caminhar nus pela praia de mãos dadas em plenas 16h, mas era um concerto, ok? E a mim ensinaram-me que um concerto serve para ver e ouvir, e ter a meio metro de nós um casal que quase se come em pleno concerto, desconcentra-me, 'tá?
- Pessoas que vão falar para os concertos: Um concerto é, em certa medida, um convívio, ou poderá ser um convívio entre amigos. Mas o que é que há de problemático num convívio de amigos num concerto? O som! Se há música, ainda por cima rock, a tocar em ambiente aberto, é normal que o som esteja bastante alto, e o que é que acontece quando queremos falar e há muito barulho? Falamos ainda mais alto. Ora, como estavam ao meu lado, eu quase que ouvia melhor a conversa que estava ali a ocorrer do que a voz da minha querida Mariza Liz. Odeio! Querem falar? Não estão a gostar do concerto? Tão simples... vão para um outro espaço, e dão esse lugar a quem gosta da banda e gostaria de se aproximar um pouco mais.
- Ver vídeos no YouTube: Dentro dos possíveis, o descrito anterior é algo que sempre foi ocorrendo ao longo dos tempos e que, de um modo geral - tirando aqueles concertos em que se paga balúrdios - se vai assistindo, mas esta é nova para mim. Vi pessoas a tentarem - a tentar, porque sinceramente não me pareceu que tivessem sucesso, por mais maravilhoso que fosse o equipamento - ver vídeos no youtube, em pleno concerto. Não é que isso me tenha particularmente irritado, mas deixou-me bastante intrigada.
- Pessoas com bichos carpinteiros: Nada pior que esta situação, e a menos que tenha pago - quando existem - por um lugar marcado sentado, acontece sempre, mas sempre, sempre em todos os concertos que vou. E sabem o que é pior? É que parece que escolho sempre o local de passagem. É como se, estivesse instituído, que o lugar onde me encontro, naquele preciso momento é um corredor, é um ponto de circulação. E parecendo que não, estar-mo-nos sempre a mover para as pessoas passarem, é desconcertante, porque eu gosto é de estar a abanar-me toda! Assim não há condições!
- Pessoas que se abanam como se estivessem a levar choques eléctricos: Incluindo eu. Eu, efectivamente pertenço aquele grupo de pessoas que adora dançar, mas que tem a infelicidade de não perceber nada do que está para ali a fazer. Mas fico sempre feliz, nestes concertos, por perceber que não estou sozinha no mundo! E como é bom, estar-mo-nos a marimbar para o que o mundo acha e deixa de achar! Porque dance bem ou mal eu vou continuar a dançar! Mas imagino que aos olhos dos outros, tenha uma forma esquisita de me mover.
Tirando tudo isto, foi um concerto, sem dúvida fenomenal! Termino com uma das minhas músicas favoritas da banda.
Quero ter o meu momento
Já não ser só lamento, eu sei
Já me cansei
Tira todo o meu orgulho
É o que faz mais barulho, eu sei
Eu nem tentei
*Para quem não sabe, a Agrival é a Feira Agrícola do Vale do Sousa, agrícola e gastronómica, que se realiza anualmente em Penafiel, onde para além de animais expostos em condições miseráveis em cubículos pouco maiores que os próprios animais, tem também tractores, automóveis e utensílios vários para a agricultura. Para atrair clientes, a feira, como tem vindo a ser habitual noutras feiras do género, conta com um cartaz musical relativamente atractivo. Este ano contou com nomes como Daniela Mercury, Miguel Araújo e Amor Electro.