Confiança
Acho que é uma verdade incontestável: em todas as relações é preciso confiança. Sejam nas amorosas, nas familiares e nas familiares não sanguíneas - sim, para mim os meus amigos verdadeiros e confiáveis, são família. E é incrível como algo tão necessário e importante consegue ser tão frágil. E é incrível como algo que pode levar anos a construir, pode ruir em apenas alguns momentos, segundos até. Podemos até ter um muro sólido, forte, bem cimentado, mas... basta retirar uma pedrinha, uma pedrinha até bem pequenina, que o dito fica ali bambo, frágil quebradiço e pode passar-se toda uma vida, que aquela brecha ali ficará, por muito que se cimente a toda a volta. Podemos até construir novos muros, novas pontes e fortalecer as ligações mas aquela fissura fica. Pelo menos em mim fica. Talvez seja eu, que seja demasiado rancorosa? Demasiado desconfiada?
Inspirei-me neste post da Mel para esta publicação. Em resposta ao dito, concordei que existem mentiras boas, daquelas que podem fazer mais bem que mal, e acredito mesmo no que escrevi, no entanto, de um modo geral acho a mentira condenável, essencialmente aquelas mentiras que possam de alguma maneira tirar pedrinhas ao muro da confiança. Gosto de saber a verdade, gosto de saber com o que contar, e por isso, para mim, mais grave do que uma atitude menos correta - ou mais grave - é a ocultação, a mentira, a forma barbara como as pessoas acham que se safam por não contarem, por negarem, por atirarem para o buraco negro algo que sabem que pode magoar e enganar, porque convenhamos, ou eu fui um cão perdigueiro numa vida passada - porque a verdade é que descubro tudo, até o que não quero - ou a mentira é mesmo, de um modo geral, muito fácil de se descobrir. Sempre me ensinaram: Tudo se sabe, mais tarde ou mais cedo, porque a mentira é coxa, e digamos que lido melhor com a verdade à primeira, do que com a verdade uns dias mais tarde, depois de me terem tentado mentir. E sabem ainda o que me revolta mais? Mentiras cujas verdades não causariam mossa. Sou, de um modo geral, compreensiva. Se a pessoa me apresenta uma justificação válida para uma determinada situação que até possa não ir de acordo com o que eu esperaria, de modo a que eu a entenda, eu aceito. Não sou assim tão extremista. Agora, quando não há razões para mentir e a pessoa me mente? Não há entendimento possível, e assim, em vez de cair apenas uma breve poeira da minha pedrinha do meu muro, cai um pedregulho inteiro. Porque pergunto-me: Se me mentiu em algo que poderia ser inofensivo, no que me terá mentido mais? Ou não será assim tão inofensivo e haverá algo mais oculto? E até pode não existir mais nada e ter sido "filha única" mas... Quem me garante? Com que base de confiança fico? Para mim a dúvida mata-me muito mais do que a certeza, e consigo até ser macabra no que toca a querer escarafunchar a verdade - que só vai magoar mais, tantas vezes - e saber pormenores.
Ó Mula, mas estás-te a contradizer!
Não estou. Pegando no exemplo que dei à Mel na sua publicação. Lembro-me, tinha eu 16/17 anos, de ter pedido à minha mãe para ir de férias com o namorado e ela não deixou. Até que eu tive a brilhante ideia de dizer que tinha ganho um fim-de-semana em Lisboa com tudo pago e que até era uma pena perder essa oportunidade. A mãe lá acedeu. Acho, sinceramente, que nunca acreditou muito nisso mas percebeu as minhas motivações. Basicamente ela sempre soube onde eu estava, com quem, só mudaram as circunstâncias da aceitação da premissa inicial. A isto eu chamo uma "mentira boa", porque no fundo tratou-se mais de um argumento do que de uma mentira - mas sim, menti, mas não foi nada que fizesse abalar a confiança, pelo menos no meu entendimento. Digamos que os fins justificam os meios, quando nem os meios nem os fins são cabeludos, mas claro que nem sempre as linhas são assim tão claras e definidas, na maioria das vezes são bem ténues e desfocadas e depende quase sempre dos limites e dos entendimentos de cada um.
Confesso que não sou uma pessoa que confie facilmente, mas quando confio sou como um novelo: desenrolo, desenrolo, desenrolo... Às vezes acho que deveria de confiar mais e mais facilmente, mas logo vem a vida que me diz que não, e dá nós no novelo desenrolado e só faz com que enrole cada vez mais, com o tempo o dito novelo.
E vocês? Confiam facilmente? Como lidam com a mentira?