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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Defeitos e Feitios

Lamento desiludir-vos, mas sou humana.

 

Tenho qualidades e defeitos como qualquer pessoa, mais defeitos que qualidades, confesso. Tenho os meus estereótipos e preconceitos como achava, até então, que qualquer pessoa poderia ter. Todavia fico feliz por saber que sou caso raro. Descobri que ter medos provenientes do senso comum, dos estereótipos sociais e pré-conceitos, que toda a vida a sociedade nos impregnou, não é normal. Fico feliz que seja caso raro. Não porque goste de me sentir única, mas porque afinal ainda há fé na humanidade. O ideal é pegar nesses seres puros, perfeitos, polidos e reproduzi-los massivamente para que a bondade e a perfeição se espalhe por este mundo e no futuro possamos ter uma espécie mais justa, mais bondosa, no fundo, menos animal.

 

Mas eu não sou assim, lamento. Tenho estereótipos, e muitos preconceitos, a acerca de tudo e de todos. Até do meu vizinho que é branco, alto e tem porte atlético. É a minha vantagem, não olho a quem. Tenho preconceitos quase indiscriminadamente. Olho, tem um andar torto, um olhar desviado, um pelo a cair-lhe na lapela, desconfio, se calhar aquele cabelo foi de alguém que ele matou... Não gosto, não quero, não confio. Ou sou agora obrigada a confiar em tudo o que mexe porque é feio apontar o dedo, porque descriminar é vergonhoso? É. Não deixa de ser verdade. Mas é se eu começar por aí a fazer campanha, a insultar pessoas, a acusar de A, B e C só porque me apetece. Nada disto aconteceu. Falei-vos dos medos, provenientes de histórias. Podia ter inventado uma histórinha com um senhor branco, reformado, com um ar amoroso ali do Lar de Santana. Mas para quê? Para ficar bem vista? Explicar-vos uma coisa. Se me levarem à Casa Assombrada ali de Aveiro, eu por muito que tente ser racional e dizer para mim que o sobrenatural é treta e que não existe. Perdoem-me, por mais racional que tente ser, não o sou. Não entro e ponto final, porque há coisas que sinceramente não quero saber, não quero conhecer, e nem saber que existem. No entanto até podem estar lá dentro a servir o melhor bolo de chocolate do mundo. Não vou. Contaram-me histórias, tenho medo. Não vou.

 

Lamento, assim sou eu. Sou preconceituosa e até tenho um lado racista como viram ontem. Choquem-se, condeno os romenos com que me cruzo diariamente por andarem a roubar nas ruas, toda a gente saber e ninguém fazer nada contra isso. "Coitadinhos, andam a roubar porque ninguém lhes dá trabalho". Se eu fosse Jorge Palma diria "Deixa-me rir... que esta história não é tua!" Sou uma horrível educadora social. Não acredito na mudança social de todos os que comigo se cruzem. Lamento mas não acredito que aquela romena que anda Porto acima Porto abaixo a espreitar as malas das pessoas, algum dia vá mudar, nem naquela cigana que agrediu à pouco tempo uma lojista porque a tentou impedir de lhe roubar a loja, vá mudar. Mas choquem-se, bem sei que há ciganos sérios. Também os conheço. Mas infelizmente pelas histórias que me contam o melhor será exagerar do que desvalorizar, só pelo caso, por uma questão de segurança, porque já dizia ali o Manel da esquina "Quem tem cu, tem medo!" Mas não decrimino só os estrangeiros, porque também não acredito que aquele drogadito português filho de boa gente, que anda a pedir rua acima, rua abaixo para a dose também possa pedir para comer. Até pode ter fome, claro que tem fome, todos nós temos fome. Mas tenha ele a fome que tiver, eu nunca vou acreditar que ele vá usar o dinheiro que lhe deram para comer. Desculpem, choquem-se comigo, mas eu mudo de passeio se vejo uma pessoa com um estilo duvidoso. Sim, choquem-se para mim falta de estilo é motivo para preconceito. Logo eu que sou maltrapilha... Estejam à vontade para mudarem de passeio quando me virem. Não vá o mau gosto e os conceitos pessoais se apegarem via aérea e vos contaminar. Sorte a minha que não sou assim tão má, tendo em conta que cresci numa educação em que tudo o que não é branco como a caule é merda. Atenção que eu tanto aperto a mão a um preto como um pescoço a um branco. Nada tenho contra as raças, mas tenho algumas reticências com algumas culturas. Culturas, não cores ou credos. Por mim tanto podem acreditar em Brahmam, Buda, ou na Iemanjá. Confesso que já sou mais reticente com os crentes em Alá. Matem-me já, que nem mereço tão pouco o ar que respiro.

 

Se quando voltar não tiver perdido pelo menos uns 20 seguidores é porque estou fraquinha, posso caprichar da próxima vez. Sabem porquê? Sou tudo isto e mais além, se me julgam pelo que digo, imaginem aquilo que penso e não digo por ter bom senso. Apesar disto tudo sabem o que não sou? Não sou hipócrita. Não me escondo numa concha nem ambiciono ser perfeita, porque nunca o serei. Mas também vos digo, que é o facto de eu ter noção das minhas limitações, dos meus conceitos e opiniões que me é possível controlar e não dizer tudo o que me vai na cabeça. É que conheço muito boa gente que não tem nada disto, que se dizem de mente aberta, mas depois é com cada atitude que deixam os outros boquiabertos, porque é tudo feito de forma inconsciente, tal que é a vontade forçada de se ser e se acreditar que não se tem esses pensamentos, tidos como perigosos e maus. Sabem uma coisa engraçada? [#sóquenão] Conheci uma rapariga que estava a tirar o meu curso, e que estava tão focada no "todos os indivíduos são bons, todos podem ser bons, não podemos descriminar, descriminação é má e eu sou boa educadora social, e eu não vou descriminar ninguém só porque usa calças pelo cu, correntes a sair dos boxers e cabelo a parecer um suflé!" Que foi assaltada porque não quis mudar de passeio quando viu um grupo desses. Bela merda essa coisa de não ter preconceitos!... Bela merda! Minha gente, já sei que nem toda a gente que usa calças pelo cu, correntes a sair dos boxers e cabelo a parecer suflé são maus, sei bem que não. E saber quem é quem? Pois... Pelo sim, pelo não, desculpem-me a ousadia, mas eu vou continuar a mudar de direção. Antes uma cabra fascista inteira. Do que uma menina de bem retalhada. 

 

Mas compreendo que seja fácil dizer que os outros estão errados, e acusá-los de maldade, e de todas as filhas da putice. Mas não tem problema, porque eu também sou assim: As vidas dos outros são tão fáceis para mim! E já cantavam os Anaquim: "As vidas dos outros, nunca me soam mal. Vêm problemas no que é no fundo normal. Ai se eles soubessem como é viver assim, as vidas dos outros são tão simples para mim". Sabem porquê? "É fácil ter calma quando a alma não me dói a mim".

 

Só vos digo uma coisa: Fechem os olhos antes de acusar os outros das suas fraquezas, é que podemos-nos estar a ver refletidos. Sabem aquela frase do "Eu não sou racista! Eu até tenho um amigo preto!" Quanto mais tentamos arranjar justificações, mais escondemos a podridão que temos dentro de nós. Pensem nisto!

 

E agora só porque pequei, vou ali benzer-me e acender uma velinha pela minha alma e já volto! Acham que ainda tenho um lugarzinho no céu?

 

E em três... dois... um... Já regressamos aos 100 seguidores? Quem se mantém fiel, quem é, quem é?

 

 

[P.S.: Ainda relativamente a ontem só um apontamento: A última vez que me quiseram dar trabalho assim à força toda, fui trabalhar para um arquiteto, sul africano, mas filho de pais portugueses, branquíssimo, de boas famílias, endinheirado, quase reformado... Já lá vão 8 anos e ainda não vi o meu salário! Só um pequeno pormenor... Fiquei escaldada com "Ai gosto tanto de si, quero-a a trabalhar para mim!", não sei porquê mas prefiro continuar a encontrar trabalho através do método convencional, ainda que, mesmo assim, não me deem garantias nenhumas.]

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