Essa coisa fantástica, que é gerir o que quer que seja...
Sou ótima a mandar, como se costuma dizer em bom calão, postas de pescada para o ar, apesar de admitir que seria, certamente, péssima chefe, gestora, ou o que seja. Não porque não tenha inteligência - que tenho! - e não porque não saiba lidar com pessoas - que sei - mas porque acabaria a fazer as coisas sozinha para fazer bem, em vez de as delegar, e enervar-me-ia demasiado as pessoas não me obedecerem, ou não cumprirem com os meus propósitos, ou não fosse eu uma nativa de carneiro - arianinha para os amigos. Por isso mesmo, sou uma reles funcionária e assim devo continuar nos próximos anos até porque "quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré.", diz o povo. E tendo em conta que uma grande maioria das pessoas alcança as posições mais elevadas por graça ou graxa como quiserem chamar, e não por mérito, então torna-se óbvio que nunca sairei da cepa torta. Nem as minhas botas brilham no inverno, quanto mais pôr a brilhar as botas dos outros! Mas adiante, a verdade é que apesar de ser uma ótima observadora - o que abona a meu favor - a minha resistência ao stress é duvidosa e sob pressão tenho tendência a bloquear.
No entanto, e apesar de admitir tudo isto, choca-me, e revolta-me, quem ocupa posições de chefia com muito menos capacidades do que eu. Revolta-me as entranhas quando as coisas óbvias passam totalmente despercebidas aos olhos de quem está no mesmo espaço que eu, que manda mais do que eu, que recebe mais do que eu - e até admito que possa fazer mais do que eu - mas com menos poder de encaixe do que eu, ou com muito menos capacidades para se querem chatear, do que eu. É muito fácil dizer que está errado - isso também o sei fazer, e bem - mas tentar fazer diferente, mudar o que não está bem e perceber o que resulta e o que está a anos luz de resultar, é algo que implica trabalho e implica fazer mover as pessoas. Isto é o que define, para mim, um bom chefe, e não apenas saber fazer gráficos espetaculares no excel - que isso confesso que não sou muito jeitosa. Manter tudo igual e viver a reclamar que as coisas não estão bem, não é chefiar bem, não é gerir bem. É apenas tentar travar uma avalanche com o próprio corpo: um dia vai, até que a bola de neve passa por cima e esmaga.
Onde trabalho não temos uma reunião de equipa há mais de um ano. A equipa sofreu recentemente uma grande reestruturação - supostamente experimental - e está o caos, e apesar de toda a gente saber que não está a resultar, quem manda não se apressa a tentar fazer diferente, porque ninguém se quer reunir connosco para perceber o que está mal e chegarmos, entre todos, a um consenso e a uma mudança que possa ser positiva para todos - ou pelo menos para os que são atualmente mais prejudicados. Acho que no fundo sabem que a reunião vai originar um motim... Mas na minha opinião para não se gerar um motim vai-se originar uma bomba atómica, um dia a coisa rebenta e não vai ser bonito, e olhem que da minha parte eu já estive com mais paciência...
É, esta coisa fantástica que é gerir o que quer seja é muito bonito, e dá prestígio e patatéu pardais ao ninho, mas não é para qualquer pessoa.