Finalmente alguém se preocupa com a minha saúde...
Toda a minha vida pertenci ao mesmo centro de saúde, apesar de já ter andado de médico em médico, o centro de saúde era sempre o mesmo. Foi-me atribuída a minha médica de família há mais ou menos uns 10 anos, e desde há cinco anos, mais ou menos, que sofro horrores com a minha rinite crónica perene. São todos os dias do ano em que preciso de inalar drogas para respirar e - literalmente - não morrer durante o sono, porque eu não consigo respirar pela boca. Houve uma altura, antes de me serem receitados os inaladores que era obrigada a respirar pela boca e causou-me muitos problemas nos lábios e na garganta. Horrível. A verdade é que mesmo com os inaladores é um problema, muitas das vezes não durmo bem porque fico na mesma com o nariz tapado, tenho constantemente dores de cabeça, e sinto-me muitas das vezes cansada porque a verdade é que eu não respiro bem.
Por isso, há mais ou menos cinco anos que inalo cortisona, que vou intercalando com o vibrocil na altura das gripes e constipações. Sou uma drogada eu sei. Há cinco anos que a minha médica de família me receitava sem reservas cortisona.
Não achava perigoso, era a minha médica que me receitava, ela lá deveria de saber o que estava a fazer.
Uma vez fui comprar o meu inalador como era habitual e a menina da farmácia perguntou-me se já usava aquele fármaco há muito tempo. Respondi-lhe que já o usava há alguns anos e a menina mostrou-se chocada e explicou-me que eu deveria de arranjar alternativas. Teve a explicar-me que poderia ficar sem olfato, que é uma das consequências do uso continuado daquela droga. Concordei que efetivamente o meu olfato há muito tempo que não é o que era e fiquei a pensar nisto.
Fui à minha médica de família e tentei que ela me encaminhasse para as consultas de otorrino, ou algo do género, para tentarmos resolver este problema de uma vez por todas para não depender toda a vida da medicação. Fez de tudo para me dar a volta, receitou-me alguns exames e nada acontecia, e não me encaminhava. Dava-me a volta de tal maneira que eu nem insistia. Voltei a repetir o procedimento, voltei à consulta, pedi novamente P1 para o Hospital e uma vez mais saí de lá sem o dito e sem luz ao fundo do túnel.
Decidi mudar de médica e de centro de saúde, e como já conhecia a médica do meu marido e gostava bastante dela, nada como pedir-lhe que me aceitasse nas suas consultas. Aceitou-me sem problemas e esta semana foi a minha primeira consulta com ela, onde lhe expus todas as minhas questões. Pois que não foi preciso pedir nada: Hoje fui fazer as análises das alergias e assim que se descobrir a que é que eu sou alérgica sou imediatamente encaminhada para um alergologista - que palavrão - ou então um otorrino, caso o problema seja estrutural, para deixar de uma vez por todas as drogas e ganhar outra qualidade de vida.
Até posso morrer enquanto espero por uma consulta no hospital - não seria a primeira, e certamente não seria a última - mas ao menos alguém se preocupou em ajudar-me já que aquela que esteve comigo anos e anos nunca o fez. Realmente não se deveria de ser médico por profissão, mas por vocação. Se todos os médicos o fossem não pelo estatuto, não pelo ordenado, mas porque realmente se preocupam com a saúde pública, as coisas estariam muito diferentes neste país.