Há coisas que não se podem dizer... Mas eu disse! E agora?
Em todas as empresas existe um nerd. Mais ou menos fácil de identificar, o nerd é normalmente o moço da informática, e eu encontrei o Sheldon Cooper da empresa onde trabalho em apenas alguns dias. Foi fácil de o detetar: muito calado, ar envergonhado, isolado do restante grupo e pouco dado a sorridos e a conversas de circunstância, apesar de ser muito prestável e disponível para os outros. O Mulo, talvez identificando-se um pouco como tal, costuma dizer que os nerds estão num patamar mais elevado que o nosso e que por falta de compreensão de seres humanos um pouco mais inferiores, que acabam por se sentir sozinhos e daí serem facilmente identificados.
Não só o identifiquei ao fim da primeira semana de trabalho, como o agredi, sem querer, ao fim da segunda.
Entrei numa sala cuja porta está muito mal colocada e ele, que estava atrás da porta, levou com a dita. Fiquei muito atrapalhada e pedi imediatamente desculpa, perguntando se estava tudo bem. De imediato respondeu que sim, que estava tudo bem para eu não me preocupar que aquilo a ele também já lhe tinha acontecido um montão de vezes, quer a levar com a porta devido aos outros, quer a dar com a porta nos outros, que era normal, que não havia problema.
E eis que a Mula é Mula e tenta brincar para desanuviar a atrapalhação, dizendo uma espécie de piada que não foi compreendida:
"Ah ainda bem! Assim já não me vais processar por agressão no local de trabalho!" e naturalmente rio-me!
Eis que o drama, a tragédia, o horror, acontece. O moço ficou a olhar para mim muito sério, não se riu, não proferiu qualquer palavra, não se moveu, apenas ficou estático a olhar para mim como se eu tivesse dito algo extremamente grave. Eis que a Mula faz o que de melhor sabe. Pede desculpa, vira costas e vai-se embora!
Mula a espalhar magia desde 1988!