Há porcos... e porcos!
A publicação de hoje da Psicogata mais gata do sapo, fez-me recordar uma situação que aconteceu em tempos num supermercado por todos nós conhecido.
Normalmente compro a carne nos talhos de rua, a carne é de longe mais saborosa, mas era fim-de-semana e lá tive de comprar umas costeletas para o jantar no dito supermercado. Ao aproximar-me da vitrine vi que havia dois tipos de costeletas com preços diferentes apesar de me parecerem - a olho, que não percebo nada de carne - iguais. Facilmente optaria pelas mais baratas, mas decidi perguntar qual era a diferença entre as duas peças, e eis que a menina de forma bastante dramática e emotiva me explica, mais ou menos por estas palavras:
Menina: Estas, mais baratas, são de porcos que coitados não têm se quer espaço para respirarem, alguns nem chegam a tocar com as pequenas patinhas no chão de tantos porcos que existem no espaço... sabe?... É horrível menina! [Por esta altura já eu estava com cara de aterrorizada e já tinha perdido toda e qualquer vontade de comprar as ditas costeletas] As condições em que vivem são mesmo miseráveis... Mas estas - apontava para as mais caras - estas não! Estas são de porcos felizes, são de porcos criados ao ar livre, com espaço. Está a ver menina? Aqueles porcos nos prados verdes, com espaço. Muito melhor!
Do ponto de vista moral eu deveria querer comer o porco triste, deveria promover a morte dos porcos infelizes que efetivamente aquilo não é vida para ninguém, nem mesmo para um porco. Deveria do ponto de vista moral não querer comer um porco feliz, que poderia ter sido poupado à morte, já que era feliz... Mas não consegui, com aquele cenário de verdadeiro horror, tive de levar as costeletas do porco feliz. Acho que a infelicidade, ainda que seja dos porcos, nos atormenta de tal maneira que queremos apenas coisas felizes, como se isso significasse que com isso vamos ser também um pouco mais felizes.
Claro que, sei que não há propriamente porcos felizes, tal como a Psicogata referiu no texto das vacas felizes, há outras condições que não lhes são proporcionadas e por isso não podem ser felizes, não porque não tenham essa capacidade, mas porque vivem e são alimentados e engordados com um único propósito: serem comidos pelo bicho Homem, que é apenas um animal como outro qualquer e que precisa de outros animais para se alimentar. Isso não me choca: assim são os mamíferos, assim acontece na savana, na selva ou no mar. Por isso não compreendo os puristas do vegetarianismo.
Certo é que a criação abusiva de animais para alimentação existe, que os animais vivem em condições deploráveis, mas isso não advém apenas da nossa necessidade de comer animais, mas sim da falta de regulamentação dos sectores. Da mesma forma que existe regulamentação para espaços com humanos - as creches, os lares, exigem um certo número de m² por indivíduo - o mesmo podia, e devia acontecer com os animais: Não há espaço, não há condições de criação e então o negócio não poderia avançar. Mas já se sabe que isso mexe em demasiadas políticas que não interessam a ninguém, mas aí já levantam outras questões que não de: "Ai que horror as pessoas comem animais!"