Há trabalhos e trabalhos
Um dia destes tropecei por aí numa qualquer publicação que me fez refletir.
Dizem que devemos reclamar menos do nosso trabalho e agradecermos mais por termos um trabalho, seja ele qual for. Que devemos dar graças por termos a oportunidade de acordar diariamente com um propósito, enquanto muitos desgraçados acordam para folhear um jornal em busca de uma oportunidade.
Lamento. Não concordo! Não é possível agradecer sempre o facto de termos um trabalho.
Se é verdade que muita gente reclama de barriga cheia - confesso que tantas vezes reclamo de barriga cheia! -, verdade também é, que há muita gente com trabalhos com condições que não deveriam de ser legais, com horários que deveriam de ser proibidos e com ordenados que deveriam de ser considerados crime. Se é verdade que é à custa destes empregos de merda que pagam as contas, também é verdade que seria mais produtivo para a sociedade se fizessem parte das estatísticas do desemprego em vez de serem apenas uns desgraçados, mas empregados.
Que dizes, Mula?
Digo que se as pessoas não se sujeitassem - por desespero, claro -, a condições miseráveis, as condições melhorariam. O trabalho em si poderia continuar a ser horrível - há trabalhos que têm de ser feitos, independentemente de serem bons ou maus - mas se as condições melhorassem o trabalho em si seria atenuado. Sou da opinião que o que define um bom ou mau trabalho não é a tarefa, são as condições.
Falo-vos do meu caso pessoal. Eu não gosto do que faço. Não gosto. Sou boa no que faço apesar de tudo e considero-me competente e com perfil, mas não gosto do que faço. Não adianta estar aqui com mimimis que sabem que não gosto de histórias com floreados e borboletas cor-de-rosa a emergirem de um girassol. Não gosto. Ponto.
[E deixem-me continuar, antes que a malta que me acompanhou no último desemprego me caia em cima e me venha insultar.]
Apesar disto, gosto da empresa onde me insiro. E gosto dos meus colegas. E gosto das minhas condições de trabalho. E gosto do ambiente. E até gosto das minhas chefias. Isto faz o quê? Com que vá bem disposta trabalhar, com que encare o meu trabalho - sim aquele que não gosto - com um sorriso no rosto. Na realidade o que me rodeia acaba por fazer com que eu goste de ali estar, que é quase a mesma coisa de se gostar do que se faz. Não me custa nem um pouco acordar, levantar-me e ir para mais um dia - vá, quando chego a casa fora d'horas confesso que custa um pouquinho - e isto sim é que define bons e maus empregos, ou bons e maus trabalhos.
Claro que gostaria de ter um ordenado melhor, tarefas que me permitissem uma maior evolução e até, confesso, um AC só para mim, só para ter o prazer de o ver desligado o dia todo! Mas a verdade é que é muito mais do isto. Eu sim, agradeço diariamente por ter um trabalho e por poder acordar diariamente com um propósito - apesar de preferir, claramente, estar de férias - mas nem toda a gente tem a minha sorte. Por isso há mesmo muita gente que reclama com razão, e nem toda a gente pode agradecer o facto de ter um trabalho.
Mas já agora.... Que vos apraz dizer?