Isso foi falta de porrada quando era pequenina...
Dizia-me a senhora da cantina! Será?
Trabalho perto de uma faculdade e como a cantina é aberta ao público e tem comida saborosa costumo ir lá almoçar quando em dias de preguiça não levo marmita. Ontem foi um desses dias.
As senhoras de lá, estão claramente habituadas a lidar com crianças, sim que apesar daquilo ser uma universidade basta 20 minutos - talvez nem tanto - naquele espaço para perceber que os jovens que ali frequentam de adultos têm muito pouco. Acreditem, já vi uma matulona a fazer uma birra por causa de um donut... Enfim, adiante.
Pedi uma sopa - que agora é sopinha todos os dias, viva o inverno - e quando a senhora diz que tem feijão eu torci o nariz. A verdade é que vocês sabem que eu gosto de tudo - das gordices ao saudável - mas feijão, grão e afins, eu não como, não consigo comer. É algo que não me passa da garganta e nem vos sei explicar porquê, porque não tem a ver com o sabor, mas sim com a textura.
"Não gosta de feijão é?" diz-me a senhora. Explico-lhe que não, que gosto de muita coisa - de quase tudo infelizmente - mas que feijão não fazia parte da lista, mas expliquei-lhe que não havia problema, que eu sabia apartar os feijões da colher, não seria por isso que não ia comer a sopa.
"Tive o cuidado de não lhe tirar com feijão" disse-me, e a verdade é que em toda a tigela apenas dois feijões vermelhões apareceram. Agradeci. Logo acrescentou: "sabe que isso foi falta de porrada quando era pequenina!" expliquei-lhe, tentei na realidade e em vão, que não era verdade que a minha mãe tinha feito de tudo, mas sem sucesso. Mas a senhora não se convenceu e voltou a repetir que com porrada na idade certa eu hoje em dia comeria feijões. Encolhi os ombros e segui para a minha mesa.
Ora vejamos, dissecando um pouco o tema. A minha relação com os feijões é especial, dizer que não gosto é pouco. Ainda hoje se comer um feijão eu vomito - se tiver de comer grão de bico consigo, apenas faço cara feia, mas consigo - ou seja, é o meu corpo que rejeita totalmente aquela coisa pequena e empapada - curiosamente consigo comer feijão frade - por isso não creio que tenha alguma coisa que ver com a educação que me foi dada, nem tão pouco com porrada ou falta dela.
Posto isto, questiono-vos: Não temos direito a não gostar de determinados alimentos? Será que foi falta de porrada, de educação, ou do que quer que seja? Não creio.
A verdade é que devemos insistir com as crianças, e não devemos deixar de lhes dar um alimento só porque à primeira vez fez má cara ou fez birra. Mas acho que se à terceira, à quarta ou à quinta a reação da criança for a mesma, simplesmente devemos aceitar que não gosta, que rejeita e não mais bater na mesma tecla.
Estarei errada?