Livro Secreto II #10 O Talentoso Mr. Ripley de Patricia Highsmith [e o filme correspondente]
O décimo livro do desafio do livro secreto já veio e já seguiu para novas paragens. Desta vez tocou-me um livro cuja história nunca me suscitou curiosidade e cujo filme fui ignorando das várias vezes que foi passando na televisão. É que nem o facto de ser com o meu tão adorado Jude Law me fazia ter curiosidade no filme. Soubessem ainda o que eu odeio a estrutura dos livros da Sábado... É da Sábado e das Edições do Brasil, simplesmente odeio o grafismo e por muito bom que seja o livro fico sempre apreensiva por ler algo com tão fraca qualidade visual - que no caso da Sábado é mesmo por ter demasiado texto corrido, quase sem margens e quase sem espaçamento do texto... Meus ricos olhinhos.
Tinha tudo para correr bem esta leitura, não tinha? Ainda assim a Mula arrisca, a Mula petisca e a Mula lê e por vezes a magia acontece.
O Talentoso Mr. Ripley conta a história de como um grande burlão, altamente desinteressante socialmente falando, ascende à classe média-alta usurpando a identidade de outrem. Mr. Ripley possui vários talentos, entre eles o de falsificar, ludibriar e enganar os outros. Possuidor de uma memória fantástica consegue ser várias pessoas diferentes memorizando sem dificuldade o que é que cada personagem viu, viveu ou sentiu, como se os seus vários "eus" não se tocassem e não vivessem a mesma experiência. Mr. Ripley vai entrar de mansinho numa família e vai tirar o máximo proveito dessa entrada.
Não seria de todo um livro que eu leria. Como indiquei, a verdade é que nem o filme me suscitou curiosidade mas no final acabei por gostar do livro. A primeira metade do mesmo é na minha opinião aborrecida. Não há emoção, não há suspense, não há artimanhas suficientes para me prenderem à leitura, mas quando o cerco a Mr. Ripley começa a apertar a verdade é que o livro se torna até viciante e queremos saber o que vai acontecer de seguida. Confesso que o final não me surpreendeu totalmente, até porque o próprio título do livro nos passa essa imagem, de alguém surpreendente, porque se é um talento... e mais não digo porque não quero ser spoiler.
Este é um livro que relata como as pessoas podem de um momento para o outro estragar a nossa vida sem darmos conta. Conta como as amizades erradas podem ser altamente perigosas e como o desejo de viver intensamente pode ser mais prejudicial que benéfico. É também um livro que retrata a inveja e que demonstra como a ausência de uma estrutura familiar estável e saudável pode despoletar acontecimentos horríveis anos mais tarde.
Posto isto posso dizer-vos que no final até gostei do livro. Não é de todo o meu estilo de livro, no entanto posso dizer que até me proporcionou bons momentos.
Terminado o livro, e umas horas depois - na realidade foram só 10 minutos - decidi ver o filme. Não é que tinha dado no AXN uns dias antes? Desilusão total! Bem sei que os filmes são baseados nos livros, que não são os livros mas... É mesmo necessário fazerem algo tão, mas tão diferente? Chegam a alterar as características das personagens e tanto que é importante da história se perde.
Dickie no livro é um tanto lunático mas não é mulherengo, no filme não pode ver um rabo de saias que mexa. Mas um playboy em Hollywood vende mais, compreendo. Dickie adorava pintar, no filme trocaram a pintura pela música. Porquê? É mais consensual? No livro Mr. Ripley era de um talento incrível, com uma capacidade de resposta e de improvisação quase sobrenatural, no filme não passa essa mensagem. Apesar de Ripley se apoderar da personagem de Dickie e de os dois passarem a ser a mesma pessoa a verdade é que no livro quase achamos que existem realmente duas pessoas distintas, porque ele assume os dois papéis de modo tão diferente que por momentos pode levar o leitor a acreditar no que acredita Ripley: que é Dickie. No filme, nada disto é transmitido, e para mim este era o grande talento do Mr. Ripley. No livro morrem duas pessoas, no filme morrem quatro. Que mãos largas... No livro não senti que alguma vez a Marge desconfiasse de Ripley, no filme ela acusa-o e tem a certeza absoluta da sua culpa.
Agora a sério, digam aqui à Mula com sinceridade: É mesmo necessário alterar tanto de uma história para vender? Ao menos as paisagens no filme são incríveis. Ao menos isso.
Resumindo e concluindo a Mula não queria ver o filme, nem queria ler o livro mas no final a Mula acabou a gostar do livro, e do início ao fim, a Mula não gostou do filme.
E desse lado: Quem já leu? Quem já viu o filme? Opiniões procuram-se.