Maternidade
Por esta altura deveria de ter uma criança com 2 anos a implorar pela minha atenção. Pelo menos foi assim que planeei há alguns anos atrás, talvez ainda antes de ter um pai para lhe dar, uma casa para a acolher e a consciência efetiva do que pode eventualmente ser isto da maternidade.
Sempre disse com convicção que queria ser mãe aos 27 anos. Talvez porque a minha mãe foi mãe aos 27 e sempre me pareceu uma idade bonita. Dizia com total certeza que pelo menos antes dos 30 teria de ser, que queria ser uma mãe jovem. Os 27 passaram, os 28 passaram, os 29 estão a passar e já é fisicamente impossível ser mãe antes dos 30 e nem sei se isso acontecerá antes dos 31. Há dias que isso me revolta - que a vida não me tenha dado condições para seguir com os meus objetivos - há dias que isso me conforta - porque há dias que é bom ser apenas eu e estas quatro paredes em total harmonia e silêncio. Vou vivendo com esta dicotomia de sentimentos: Se por um lado quero muito ser mãe e esta coisa do relógio biológico apita e buzina e não me deixa descansar, por outro lado acho que ainda não estou preparada: é tão bom não ter obrigações efetivas... Se não me apetecer cozinhar não cozinho, se nas folgas não quiser sair da cama não saio, se após o trabalho quiser ir para a farra nada me prende. Mas depois penso: Será que algum dia estarei? Será que alguém efetivamente se prepara para a maternidade? Para tudo o que isso implica? Para tudo o que daí advém? E felizmente estes pensamentos acalmam a adrenalina que me atravessa, respiro fundo e o relógio volta a buzinar.
Mas no fundo, se pensar com consciência, a maternidade não faz sentido.
O que é que no fundo a maternidade traz? Preocupações, rugas, horários ainda mais rígidos, problemas financeiros, problemas conjugais, e poderia ficar aqui o dia todo a enumerar o lado negro da maternidade. Mas depois penso no quanto quero ser mãe e todo este panorama se desvanece. No fundo o relógio biológico é um apagar da consciência e um renascer da inconsciência, da insensatez, que é colocar um ser no mundo com toda esta podridão - instabilidade financeira, instabilidade social, instabilidade geral... - apenas para nosso prazer próprio. À parte da continuação da espécie ser mãe/ser pai é uma satisfação pessoal, o que me leva à seguinte reflexão:
No fundo ser mãe/ser pai é um ato de egoísmo, certo?... Ou será apenas um ato de amor? Que bicho é este que nos faz querer prolongar, por um amor incondicional que nos consome e nos sufoca a alma?