Monogamia
Há alguns animais monogâmicos. Poucos, mas há. Assim de repente, vem-me à memória os cisnes e os lobos que normalmente - salvo raríssimas exceções - formam casais para toda a vida. É tão romântico... A história destas espécies dariam belíssimas melodias sertanejas digo-vos já.
Mas não me lixem, homens e mulheres não são animais monogâmicos. São sim animais que tentam, à viva força, praticar a monogamia - aqueles que tentam, pois claro - mas que precisam de mais esforço para a praticar do que o contrário. No fundo o homem - e a mulher! - fiel, está para a monogamia como o bacon para os vegetarianos. Ninguém nasce a dizer que não gosta de bacon - vá, ou de outro pedaço de carne qualquer! - há sim pessoas que devido a razões ideológicas fizeram um esforço para deixar de comer bacon. Não acredito que seja um processo fácil. E a monogamia também não o é. E a prova está na quantidade de divórcios que ocorrem devido a traições.
Um dia destes li algures por aí que a monogamia não é natural, é sobrenatural, e a verdade é que concordo.
Calma! Não estou, nem a dizer que concordo com a poligamia - porque não concordo, de todo! - nem a dizer que ando por aí com uns e com outros enquanto o Mulo dá no duro todos os dias no trabalho, porque não é verdade. Mas... Quem é que nunca pensou "ai se eu não fosse casada!" ou "se eu fosse solteira...". Há alguma maldade neste tipo de pensamentos? Continuamos vivos, continuamos com olhos na cara e coração no peito e creio que nos sentirmos atraídos por outras pessoas que não os nossos companheiros, que não seja algo totalmente horrível e vergonhoso. Para mim é normal. Não me choca. Não me arrepia. Não me escandaliza.
Não acho, tão pouco, que o facto de alguém comprometido poder olhar com desejo para outra pessoa que seja sinónimo de não estar feliz no relacionamento. Para mim há grandes diferenças entre o sentimental e o carnal. O cérebro é que é responsável por gerir depois isto tudo. O que pode ser horrível e vergonhoso é o que as pessoas podem fazer com essas sensações e sentimentos, quando o cérebro e tudo o resto falha. Pensamentos e fantasias não me arrepiam a espinha. Ações físicas confesso que sim.
Quer queiramos quer não queiramos, vivemos numa sociedade monogâmica, e sou a favor de que é preferível pôr fim a uma relação que não nos enche as medidas do que andar por aí a trair as pessoas a quem decidimos dedicar a nossa vida, porque acho que, acima de tudo, a falta de lealdade é muito pior que a traição física ou sentimental. Nisso os animais poligâmicos têm vantagem face ao humano: Não fazem compromissos, vivem apenas. No fundo, muitas pessoas deveriam de viver como estes animais, e não fingirem ser outro tipo de animais que não o são.
No meu local de trabalho é assustadora a quantidade de pessoas que traem outras. E a naturalidade com que o fazem. É assustador ir a eventos, ou saber de eventos, em que A casado, andou envolvido com B casada que já andou com C igualmente casado, e está tudo bem, toda a gente sabe, não é segredo, a não ser para os respetivos.
Isto confesso, choca-me sempre.
Acima de tudo assusta-me. Assusta-me porque os parceiros destas pessoas vivem na ignorância - nem todos, provavelmente - e eu fico a pensar: E se for eu? E se eu também estiver a ser enganada e não fizer nem ideia? Claro que confio no homem que escolhi para trocar alianças e com o qual vivo há 10 anos, nem estaríamos juntos se não confiasse mas... não deixa de ser assustador pensar que as outras pessoas provavelmente também confiam. E temo que a minha cabeleireira tenha razão quando diz "minha filha, não há homens fiéis! Há é homens que sabem esconder muito bem!"
Não. Os animais homem e mulheres não têm uma natureza monogâmica, mas acho que se poderiam esforçar um pouco mais...