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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Num dia falo-vos de teletrabalho...

...E de como o teletrabalho estava a correr bem. Noutro dia falo-vos que fui despedida. Pois que é verdade. A vida é assim... Imprevisível. 

 

Imagem retirada daqui

 

E foi assim, do nada, sem que nada o fizesse prever. 

 

Trabalhava nesta empresa há cerca de 3 anos quando abriram uma vaga interna para o atual departamento. Concorri, e entre imensas candidaturas, sobressaí e fui contratada. Trabalhei nos dois departamentos durante uns tempos e logo me dediquei ao novo. Estava aqui há 1 ano. Adorava o que fazia, ainda que nunca tivesse sentido qualquer tipo de empatia com a chefia, mas na realidade ninguém sentia. É uma pessoa complicada, não há uma pessoa na empresa que se dê bem com ela - mesmo de outros departamentos - mas a verdade é que sempre nos conseguimos tolerar e com o teletrabalho as coisas melhoraram, porque efetivamente é uma daquelas pessoas que quanto mais longe melhor, porque a sua presença nunca influenciou o nosso trabalho - aliás, influenciava pela positiva, na realidade, quanto mais longe estava melhor nós trabalhávamos.

 

Mas adiante...

 

Desde sempre que a chefia dizia que o departamento iria aumentar porque iriam precisar de pessoas devido a um novo projeto que estava em desenvolvimento. Nunca nos falou na possibilidade de existir uma séria reestruturação da empresa. Nunca. Nada fazia prever o desfecho desta semana e esta semana apenas nos chamaram para uma reunião, na sede, e disseram que a partir daquele momento o nosso trabalho seria assegurado por uma empresa externa de outsourcing, e que como tal seríamos dispensadas por extinção do posto de trabalho.

 

Podíamos aqui culpar a pandemia, mas percebi que isto já estava em cima da mesa antes da mesma. Podíamos culpar a incerteza do mercado, mas acho que apenas se pode culpar a falta de transparência de uma empresa que adora dizer à boca cheia que o que importa são as pessoas. Não importa. Nunca se importaram. Somos, como sempre, apenas números, e como tal foi fácil aceitarem a minha mudança de departamento para um ano depois extinguirem-me o posto de trabalho, e ainda mais fácil extinguirem o posto de trabalho de uma colega que trabalhava lá há cerca de 12 anos. Foi fácil, porque somos apenas números.

 

Mas estava a correr mal? Não. Recebemos ao longo dos meses os parabéns da direção. Mas o departamento estava em risco? Aparentemente não, era inclusive um projecto recente que estava em crescimento e desenvolvimento, tinham inclusive contratado mais 3 pessoas há cerca de 3 meses. Trabalho nunca faltou. Então o que aconteceu? Não sei, gostava de perceber mas realmente não entendo. Acham que será melhor desempenhado por trabalhadores precários? Pois... Eu discordo mas também já sabem que não percebo nada disto... 

 

"Não tem nada a ver contigo!"; "Gostamos muito do teu trabalho"; "Obrigada pela tua dedicação!" são expressões que eventualmente pudesse gostar de ter ouvido, mas só me deram (ainda) mais raiva.

 

Lamento, mas eu não sou apenas um número... Eu tenho uma vida e alma... Odeio ser tratada, uma vez mais, como descartável e por isso mesmo recusei o aviso prévio. Recusei a ligação à empresa por mais um minuto que fosse. Posso ser pobre mas tenho a minha honra e orgulho, porque não podem simplesmente dar sinais que está tudo bem e afinal estar tudo mal. Mais do que o despedimento, custou-me a falta de tacto. Quarta-feira foi o meu último dia de trabalho. 

 

Mas vejamos a coisa pelo lado positivo... Tenho experiência em ser despedida por altura do Natal...

 

E não é que já não soubesse disto, porque efetivamente já sabia mas... É incrível como hoje em dia não há nada seguro... E como efectividade não significa rigorosamente nada.

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.