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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

O lado B da viagem a Marraquexe

B de Bom

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Mula no Ben Youssef Madrasa

 

Porque há sempre dois lados de uma mesma história, nem tudo foram espinhos na viagem a Marraquexe. Enquanto não saí do hotel estive bem! Brincadeira. Mas não, nem tudo foram espinhos na viagem a Marraquexe. Vi coisas lindíssimas, comi coisas boas, os virgin mojitos ao pôr do sol eram deliciosos, ainda que teria agradecido um pouco mais de álcool e pelo caminho também encontrei gente simpática e hospitaleira.

 

O pôr do sol de Marraquexe foi dos mais bonitos que já vi, independentemente do ponto de onde o víamos. As cores, foram sempre incríveis. Era mágico, e quando penso em Marraquexe, a primeira imagem que me vem à cabeça - a seguir àquela em que eu andava toda tapada dos pés à cabeça - são as cores da cidade ao pôr do sol.

 

À esquerda o pôr do sol na esplanada do quarto do hotel La Maison des Oliviers e à direita Virgin mojitos ao pôr do sol na esplanada do Café France, o tal sem multibanco

 

Cheguei a Marraquexe e a primeira noite foi passada num hotel incrível - mas afastado do centro -, com uma piscina incrível, com comida também bastante apetitosa - tirando um couscous que eu pedi para provar algo verdadeiramente típico e que rapidamente me arrependi porque não consegui comer - e com um serviço bastante bom. Aqui, neste primeiro dia, não me apercebi de que álcool era uma coisa difícil de encontrar, e desfrutei de uns bons mojitos junto à piscina tranquilamente com zero ansiedade.

 

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La Maison des Oliviers

 

O La Maison des Oliviers é incrível à noite ou de dia ao sol

 

Há álcool em Marrocos, escondido, mas há!

 

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O couscous que ficou cá todo praticamente... Não fiquei fã!

 

O pequeno almoço era bastante variado, até nas formigas como já vos tinha dito, mas como em Roma sê romano, eu comi tudo e mais que houvesse que a fome no dia seguinte era imensa - já que o couscous que eu não comi foi ao jantar.

 

Pequeno almoço no La Maison des Oliviers e o famoso chá de menta marroquino

 

Algo que percebi desde o primeiro dia, é que a pastelaria marroquina é muito boa. As sobremesas foram sempre muito boas. Um jogo de sabores intensos, tal como eu gosto.

 

Tentei provar o máximo de doces variados que encontrei e posso já dizer-vos que até a massa dos crepes e das panquecas é diferente. 

 

Já de salgados... fiz sempre escolhas seguras, que o couscous não comido ficou demasiado presente na minha vida, assim de mais típico apenas comi ovos berberes - à esquerda - e as espetadas de frango estilizadas - que as originais não são assim, mas também provei as originais e prefiro muito mais estas com molho barbacue,

 

Aqui no hotel, fiquei agradavelmente surpreendida. Tinha trazido uns biquínis mais tapados - não queria chocar ninguém... - mas a malta estava lá completamente à vontade a desfrutar do sol e dos quase 40ºC com biquínis reduzidos e não senti qualquer olhar ou desconforto por parte do pessoal do hotel, que foram sempre simpáticos e atenciosos.

 

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Mula junto à fantástica piscina no Hotel La Maison des Oliviers

 

Depois da primeira noite fantástica, fomos então para o nosso Riad na Medina. Solicitamos transfer no hotel e lá fomos nós. E foi aqui que eu percebi que Marraquexe não era  bem desfrutar de mojitos alcoólicos à beira da piscina sob 40ºC. O nosso motorista, perante o excessivo e caótico trânsito, decidiu deixar-nos uma praça antes do suposto, mas felizmente a dona do Riad veio ao nosso encontro. Uma senhora francesa muito amorosa que nos levou por entre a labiríntica Medina até à casa que iria ser "nossa" nos próximos dias. Foi aqui que eu comecei a temer pela vida. Motas. Muitas motas. Carroças, carros, motas todos a passar ao mesmo tempo na via, em contra mão, quase contra as pessoas, quase contra mim, por diversas vezes. Foram uns 5 minutos a pé que me pareceram 5 horas, confesso. Sobrevivi. 

 

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Mula na praça Jemaa-el-Fna

 

Como passávamos uma parte do dia... O melhor dos meus dias confesso!


Pedimos um mapa lá no Riad, pedimos conselhos à Yolande - a senhora francesa do Riad - e lá fomos para o centro, que estávamos cheias de fome.

 

DICA DE OURO: Como não tinha dados móveis - que o roaming é caríssimo, e eu já nem me lembrava que existia roaming... - antecipadamente descarreguei o mapa de Marraquexe no google maps, porque uma das coisas que eu li em todas as pesquisas sobre a cidade é que era um labirinto autêntico e que se pedíssemos informações ou direções, teríamos de pagar para as obter. Assim, sempre que estava num sítio com wi-fi, eu traçava o percurso no maps, mas se por acaso precisasse de utilizar o gps e não tivesse internet, o maps permitia navegação - mais complicada de interpretar, bastante mais complicada de interpretar porque não dá direções, mas deu perfeitamente para nos orientarmos. Por isso, sempre que viajarem para um país que tenham roaming, descarreguem antecipadamente os mapas que vão precisar para se orientarem. Posso dizer-vos que nunca regressei ao Riad sem GPS, que claramente nunca iria dar com ele que as ruas para mim eram todas iguais.

 

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Praça Jemaa-el-Fna

 

Como já tínhamos feito o trabalho de casa, vimos onde queríamos almoçar e lá fomos. Chegamos à praça mais famosa de Marraquexe, a Jemaa-el-Fna onde se localizava o restaurante e vi logo um macaquinho com trela a fazer peripécias para os turísticas que me revoltou as entranhas... Ai desculpem, é só para falar das coisas boas. Perdão, retomando. Almoçamos e fomos ao Museu Ben Youssef Madrasa - que para quem não sabe é a maior madraça - escola muçulmana de ensino superior especializada em estudos religiosos - de Marrocos. É incrível! As cores... A arquitetura!... É um edifício imponente e foi também aquele que mais gostei de toda a viagem, daquilo que visitei, que obviamente não foi tudo porque o tempo de estadia também não foi imenso.

 

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Ben Youssef Madrasa

 

Perto da Madrasa, temos também o Le Jardin Secret que é um pedaço de paz na Medina de Marraquexe e acreditem, depois de quase serem atropelados 50 mil vezes, encontrarem este espaço é simplesmente mágico. Poderem parar ao ar livre, estar sossegados na esplanada ou simplesmente no jardim, é impagável - na realidade pagam e bem que 8€ em Marraquexe é um balúrdio. Aqui relaxei, bebi uma bebida fresca, aproveitei uma bela de uma chuvinha boa e refrescante e recarreguei forças para continuar caminho.

 

Le Jardin Secret

 

Por falar em locais que visitamos, visitamos também no dia seguinte - até porque o nosso objetivo foi sempre fazer um pouco de piscina no Riad todos os dias para manter o bronze e a minha sanidade mental, convenhamos - foi o Le Jardin Majorelle. O Museu Yves Saint Laurent estava encerrado para obras por isso ficamos só pelo Majorelle, que foi criado por Jacques Majorelle, pintor francês, que se inspirou na arquitetura dos jardins islâmicos e hispano-mouriscos, comprado na década de 1980 por Yves Saint Laurent e Pierre Bergé.

 

Jardin Majorelle

 

As cores do Jardim Majorrelle são indescritíveis! O que também é impossível de descrever é o calor. O calor imenso que se fazia sentir neste dia! Como a rede de transportes em Marraquexe é praticamente inexistente, fizemos todo o percurso a pé e foi... duro, foi muito duro. Para terem noção as solas das minhas sandálias derreteram, e o tacão além de derretido ainda descolou o que tornou o percurso bastante desconfortável, pelo que... Nesse final de dia, a vossa Mula precisava de álcool.

 

Não é fácil encontrar álcool em Marrocos, porque é visto como algo pecaminoso, típico de prostitutas e drogados, de gente amiga do diabo. Mas sabíamos que haviam alguns bares na Medina recatados e caros - que os torna turísticos - e experimentamos um que já tínhamos lido opiniões e visto a entrada. Ai bendito cosmopolitan... Um dos melhores que já bebi. Afinal eles sabem carregar no álcool, um só e já saí dali meia besga - é mesmo b à Porto!

 

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Pelo que percebi os locais que vendem álcool têm de ficar relativamente escondidos, para que as pessoas não sejam propriamente vistas a consumir... Então estas eram as fantásticas vistas do nosso café, que ironicamente se chamava Café Árabe.

 

O que tem muito em Marraquexe e me deliciou as vistas são gatos. Gatos! Muitos gatos! Gatos que não ligavam minimamente à presença dos humanos e que eram apanhados a dormir em todo e qualquer espaço sem qualquer problema. Gatos que são respeitados. Nos souks - mercados típicos - vi gatos a serem alimentados, vi tacinhas de água espalhadas para eles, vi que eram bem tratados. Também vi um morto num canteiro de uma árvore, mas vamos só focar-nos nas coisas positivas!

 

Gatos, muitos gatos em Marraquexe!

 

Uma outra situação que ao início estranha-se mas depois entranha-se é as orações nas mesquitas. Todos os dias às 5 horas - eu nunca acordei mas a minha amiga sim - e depois à noite, por volta das 21 horas, tocava uma espécie de corneta e depois ouvia-se uns sons estranhos que suponho que fossem as orações. Inclusive quando vim à praça sozinha no - pseudo-fatídico acontecimento - eu vi os senhores à porta da Mesquita de rabo virado para Meca - quer dizer, sou-vos sincera, imagino eu que fosse para Meca, porque não faço a mais pálida ideia onde ficava Meca, tendo por base ali a praça Jemaa-el-Fna - e o que ainda é mais curioso é o respeito pela religião, porque enquanto se ouvem as cornetas a música nos restaurantes deixa de tocar, seja porque está a tocar um rádio, ou porque está um senhor de guitarra em punho. Achei incrível, mesmo, de coração. Ficava um silêncio de repente... E só se ouviam as cornetas que ecoavam em toda a praça!

 

Algo que também achei surpreendente - e então para mim que estava todo o dia a ressacar por internet - é um jardim totalmente gratuito com acesso à internet livre, que é o Cyber Park - Arsat Moulay Abdeslam Cyber Park para ser mais correta e claro, como não poderia deixar de ser, já que Marraquexe é conhecida pela cidade vermelha, a terra do parque era vermelha. Super tranquilo, deu também para relaxar longe de olhares desconfiados, recomendo vivamente.

 

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Basicamente foi tudo o que retive de bom - e acho que ainda foi bastante - aproveitando só para dizer que bebi chá de menta - a minha amiga já não me podia ouvir falar no chá de menta - bebi um delicioso chá berbere, comprei óleo de argão biológico - que a minha cara está a amar -, fugi de 100 mil comerciantes, conheci um casal de moçoilos muito simpáticos - um português e um espanhol - e que comi muita coisa boa. 

 

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Chá berbere feito por um homem berbere numa loja berbere, com 50 mil especiarias

 

Tenho ainda para vos contar da excursão às Cascatas de Ouzoud, mas este postal - como diz e muito bem o meu querido José da Xã - já está demasiado extenso, por isso fica para outros carnavais!

 

Espero que tenham gostado do lado B de Marrocos, e aproveito para vos questionar se preferem assim um post extenso, ou se teriam preferido que dividisse para ficar mais curto, ainda que já saibam que publicações curtas não é a minha especialidade!

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