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Desabafos da Mula

Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos.

Desabafos da Mula

Que espécie de adultos estamos nós a criar?

 

Semana passada na cadeia do M amarelo, estava uma criança, que deveria de ter uns 4 anos, aos berros desde que lá entrou. Até aqui tudo certo, sou da opinião que não se pode colocar uma mordaça na boca das crianças para que elas se calem por muito que possa irritar quem está à volta. São crianças, é suposto chorarem, fazerem birra e fazerem barulho. Tudo certo até aqui.

 

O restaurante estava cheio, já eu estava numa mesa alta, e os pais encontraram um lugar confortável sentados naquelas poltronas. A criança apontava para a mesa ao lado e berrava, berrava, berrava. A mesa ao lado tinha aqueles tablets com os joguinhos para as crianças, e ali estava uma família - sem crianças pequenas - a jantar. Notou-se que a família acelerou a refeição e mal se levantaram, os pais foram para essa mesa, e não mais se ouviu a criança aos berros.

 

Diz assim um homem que estava ao meu lado, para a sua filha pré-adolescente:

 

Pessoa: Ah! Estava a ver que não! Não sabiam ter cedido logo aquela mesa ao menino? Faz algum sentido eles estarem ali sentados? Aquilo é para as crianças!

 

Juro-vos que fico cega com estes comentários! Juro-vos que me enervam os pais que fazem tudo aos filhos. Levantem-se e comentem pais que a partir deste momento me vão odiar um bocadinho, com esta publicação...

 

Mas atentem no que eu digo, que não sou mãe, mas sou formada em educação: O papel das crianças é testar os limites. O papel dos pais é estabelecer os limites! É importante que os pais demonstrem às crianças que não pode ser tudo como elas querem, quando elas querem, e só porque elas querem. É importante que recebam nãos, porque a vida é assim, quantos nãos recebemos nós ao longo de uma vida? Temos de preparar as crianças para os nãos, para perder (sim, porque também não sou a favor que deixemos as crianças ganharem sempre, quando jogamos com elas), para terem contrariedades e adversidades, a vida não é assim tão simples e simplista. É preciso ir à luta, nada cai do céu, é preciso ser persistente, é preciso ser... Resiliente!

 

Ao deixarmos as crianças fazerem tudo à maneira delas, só criamos crianças com baixa resistência à frustração, arrogantes, com mau perder, sem fairplay, sem respeito pelo outro.

 

Claro que se calhar estou a levar tudo ao extremo, nem conheço as pessoas envolvidas, mas mais do que os pais que se levantaram e foram para a mesa que a criança queria - porque provavelmente eu também o faria como mãe, só para que a criança parasse de chorar, já que estava num espaço público - chocou-me o comentário do outro pai que estava com a pré-adolescente, a miúda não deveria de ter mais de 12 anos.

 

Sim, aquela família apesar de não ter crianças pequenas, tinha todo o direito de ali estar, como qualquer outra pessoa. Não, eles não tinham de ceder o lugar para a criancinha que estava chateada por não ter o brinquedo para jogar!

 

Preocupa-me a sociedade que estamos a criar, com as crianças que estamos a (des)educar, porque se ainda houver esperança para a minha reforma, são estas gerações que me vão dar sustento na minha velhice, e deste modo não estou a ver jeito!

 

Agora, a sério, questiono-vos: Pais, educadores e afins desta blogosfera, estarei a exagerar? Não é importante as crianças perceberem que nem sempre têm o que querem?

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Desabafos do quotidiano, por vezes irritados, por vezes enfadonhos, mas sempre desabafos. Mais do que um blog, são pedaços de uma vida.