Quem conta um conto... #2 Primavera em frasquinhos de compota
Este texto escrevi-o no primeiro ano da faculdade, e como era para crianças, escrevi um conto infantil. Apesar da personagem principal ser um menino, e existir alguma fantasia em torno deste, este texto é um tanto ou quanto biográfico, porque desde pequenina que adoro borboletas grandes e coloridas.
Espero que gostem...
Era uma vez um menino chamado Gabriel, que adorava brincar no jardim, colher flores e observar o voo das borboletas. Adorava-as a todas, mas as suas preferidas eram as azuis.
- Devias caça-las e fazer colecção… - Diziam, constantemente, os seus amigos.
Sempre que recebia este conselho, Gabriel ficava muito pensativo e imaginava como seria ter todas as borboletas de que gostava, guardadas na gaveta do seu quarto. Mas logo abandonava a ideia, pois temia que deixassem de existir borboletas no céu a enfeitar o seu jardim. “Se eu as apanhar todas como é que para o ano elas estarão no meu jardim?” pensava.
Sempre que chegava o inverno, o pequeno Gabriel chorava muito, pois a neve cobria todo o manto verde da sua casa e já não voavam borboletas, nem existiam coloridas flores. Para o menino esta era a pior estação do ano, pois sem o seu jardim para brincar, restava-lhe apenas ficar em casa a olhar pela janela e esperar que a primavera aparecesse.
Quando o sol ficava mais quente e a neve derretia, o imenso verde reaparecia e as flores lentamente começavam a desabrochar e não faltava muito para as borboletas sobrevoarem, novamente, o seu jardim. E uma vez mais, os seus amigos aconselhavam-no a apanhar as borboletas e guardá-las.
- Se as guardares num frasquinho de vidro podes olhar para elas sempre que quiseres – diziam.
Para não voltar a ter um inverno sem a sua primavera, Gabriel decidiu seguir o conselho dos amigos e passou todo o tempo que pôde a apanhar as borboletas que encontrava, colocando-as em vários frasquinhos de compota, que a sua mãe cuidadosamente guardava.
Antes de o inverno regressar, novamente, decidiu também guardar um pouco de relva noutro frasquinho para o caso de sentir saudades. Gabriel julgava assim, ter guardado a primavera e o verão em frascos, acreditando desta forma que os bastava abrir para a sua tristeza acabar, enquanto, lá fora, não acabava o inverno.
Porém, a relva tornara-se seca, áspera e até mudara de cor e as suas borboletas lentamente enfraqueciam e deixavam de voar. Os olhos do menino rapidamente se tornaram tristes, parecendo uma manhã de inverno.
Gabriel olhava para os frascos e achara aquela primavera assustadora e mesmo achando que não iria resultar, decidiu abrir os frascos, e largá-las. Era uma manhã chuvosa, mas o sol de repente irrompeu as nuvens e apesar de ainda não ser primavera, o frio já não era tão frio e o vento quase não soprava. As pobres borboletas enfraquecidas começaram a ganhar vida e rodopiaram ainda zonzas pelo jardim nevado. Os olhos do menino esbugalharam como nunca ao ver as esbeltas voadoras a voar alegremente e uma aproximou-se do menino e pareceu dizer-lhe “obrigada!”.
Na primavera seguinte, as borboletas que soltara, vieram ainda mais bonitas do que no ano anterior. Percebendo assim, finalmente, que a beleza dos momentos não pode nunca ser capturada em frascos de compota.
Percebeu, no final, que as borboletas eram lindas assim: no seu jardim no tempo quente, no jardim de outro, no tempo frio. E certamente que lá do outro lado do mundo, no outro jardim, alguma criança ficava feliz sempre que as borboletas lhe conquistavam o olhar.